Edgar Vianna de Andrade - Quero me casar
*Edgar Vianna de Andrade 13/08/2025 07:48 - Atualizado em 13/08/2025 07:48
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Há pouco tempo, propus-me a apreciar a obra cinematográfica de Alfred Hitchcock década a década desde seus primórdios, nos anos 1920. Nesses dez anos, ele dirigiu “The pleasure garden” (1925), “The mountain eagle” (1925, perdido), “O ringue” (1927), “Downhill (1927) “O pensionista” (1927), “A mulher do fazendeiro (1928), “Vida fácil” (1928), “Champanhe” (1928), “Chantagem e confissão (1929), “Pobre Pete” (1929) e “Assassinato” (1930).
De todos os mencionados, assisti a “The pleasure garden”, “O pensionista”, “O ringue”, “Chantagem e confissão” e “Assassinato”. Procurei “A mulher do fazendeiro” e não encontrei. Ele integra minha coleção de DVD, mas não consegui localizá-lo. Agora, ele aparece como que por encanto. Trata-se de uma comédia. Conhecemos Hitchcock como o mestre do suspense, mas ele também enveredou pela comédia, além de rechear sua obra de humor. Gabriel Trigueiro, crítico de cinema da nova geração, tece rasgados elogios a “O terceiro tiro”, comédia de 1955 que lançou Shirley MacLaine como atriz. Ele admira profundamente a beleza do filme.
Não direi o mesmo sobre “A mulher do fazendeiro”. Trata-se de uma comédia previsível. Um fazendeiro viúvo vê sua única filha se casar e se sente sozinho. Ele conta com uma espécie de governanta jovem que cuida de muitos aspectos da sua vida, assim como um empregado matuto. A paisagem rural inglesa é belíssima. Um destaque para os cães, que aparecem dóceis, com olhar terno para o dono, e também como figurantes numa caçada. Se existe um número grande de figurantes no filme, estes são os cães. Hitchcock amava os cães.
Contando com o caipirismo do cavalariço e com a ajuda da governanta, o fazendeiro seleciona quatro senhoras solteiras como possíveis casadoiras. As quatro, meio matronas, recusam o assédio. No fim, acontece o que era previsível: o fazendeirão descobre que seu amor estava a seu lado. Tratava-se da governanta, que também o amava.
Destaco, no filme, a fotografia clara e límpida, acentuando ainda mais a paisagem bucólica do meio rural inglês. Não há o uso da câmara falando no lugar das palavras, como em “O pensionista”, “O ringue”, “Chantagem e confissão”, que anunciam a marca registrada do grande mestre. No máximo, a superposição de imagem. “A mulher do fazendeiro” é um filme para ser visto com o fim de conhecer a história de Hitchcock como diretor.
Penso também na sensação que um criador, em qualquer ramo do conhecimento, tem em relação à obra recém-acabada. Ela parece sua melhor criação. As obras seguintes superarão a anterior e o autor terá, em relação a ela, um sentimento de rejeição ou de simpatia. Talvez Hitchcock tenha sentido algo parecido. Para o crítico, porém, uma obra simples vale para acompanhar a carreira de um artista.

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