Arthur Soffiati - Ecorregião de São Tomé: colonização europeia (sécs. XVI-XVII)
Surgiu logo um problema de fronteira que seria resolvido pacificamente com Vasco Fernandes Coutinho, donatário da capitania do Espírito Santo, em 1539. Como se tornasse difícil precisar o local em que se situava o Baixo dos Pargos, ambos os donatários propuseram a D. João III, rei de Portugal, que fixasse a divisa entre as duas capitanias no rio Tapemeri (Itapemirim), por eles batizado de Santa Catarina, pleito atendido em 1543 pela Coroa portuguesa. Não foi necessário definir os limites ao sul, pois Pero de Góis só conseguiu se movimentar nas cercanias do rio Managé, atual Itabapoana, onde tentou implantar duas fundações. Na costa, na enseada do Retiro, ele ergueu a vila da Rainha, a mais antiga do futuro Rio de Janeiro. Subindo o rio Itabapoana até a última queda d’água, ele instalou o Porto da Limeira. A empreitada do donatário fracassou em 1546, frente à falta de recursos e à resistência dos indígenas.
Dada a fertilidade dos Campos dos Goitacás, voltaram-se para eles interesses civis e eclesiásticos. Os Correia de Sá e Benevides e as ordens religiosas dos beneditinos, dos jesuítas e dos franciscanos também se instalaram em terras da antiga capitania. Nova carta régia de doação, com data de 20 de junho de 1679, assegurava terras numa extensão de 100 léguas ao Visconde de Asseca e a seu tio. A partilha entre eles suscitou problemas relacionados ao limite sul da Capitania. A solução foi obtida mediante divisão das 100 léguas entre os dois donatários.
Com essa partilha de 1679, foram atingidos os limites máximos da ecorregião. Norte: rio Tapemeri (atual Itapemirim); sul: rio Leripe (atual das Ostras). Daí em diante, por razões de ordem natural e político-administrativa, eles acabaram por definir limites entre os rios Managé (atual Itabapoana), ao norte, e dos Bagres (atual Macaé), ao sul; a leste, toda a linha da costa atlântica; e, a oeste, a Serra do Mar, com incursões à Serra da Mantiqueira pelo vale do rio Paraíba do Sul.
*Historiador, professor, escritor e ambientalista
Sobre as bases ecológicas existentes (relevo, rios, lagoas, vegetação e fauna) e culturais dos povos nativos é que os colonizadores de origem europeia, sobretudo portugueses e seus descendentes, construíram uma ecorregião, embora não houvesse intenção deliberada e consciente nesse propósito. As capitanias de São Tomé, doada a Pero de Góis, e do Espírito Santo, doada a Vasco Fernandes Coutinho, contavam com recortes inteiramente arbitrários, como, de resto, todas as demais capitanias. Esse tipo de divisão territorial e administrativa era completamente artificial, sem qualquer compromisso com a realidade natural e cultural sobre a qual se assentava. Faixas paralelas e longitudinais de território entestando com o oceano Atlântico e se estendendo até linha também fictícia do Tratado de Tordesilhas.
A Capitania de São Tomé foi doada a Pero de Góis da Silveira em 1534, doação que foi confirmada em 1536. Surgiram problemas de limites. Pela carta de doação, a capitania contava com trinta léguas de terra, começando a treze léguas de Cabo Frio, onde terminava a Capitania de Martim Afonso de Souza, e acabava no Baixo dos Pargos. Em direção ao interior, tudo o que se pudesse encontrar e fosse da conquista do rei.
Surgiu logo um problema de fronteira que seria resolvido pacificamente com Vasco Fernandes Coutinho, donatário da capitania do Espírito Santo, em 1539. Como se tornasse difícil precisar o local em que se situava o Baixo dos Pargos, ambos os donatários propuseram a D. João III, rei de Portugal, que fixasse a divisa entre as duas capitanias no rio Tapemeri (Itapemirim), por eles batizado de Santa Catarina, pleito atendido em 1543 pela Coroa portuguesa. Não foi necessário definir os limites ao sul, pois Pero de Góis só conseguiu se movimentar nas cercanias do rio Managé, atual Itabapoana, onde tentou implantar duas fundações. Na costa, na enseada do Retiro, ele ergueu a vila da Rainha, a mais antiga do futuro Rio de Janeiro. Subindo o rio Itabapoana até a última queda d’água, ele instalou o Porto da Limeira. A empreitada do donatário fracassou em 1546, frente à falta de recursos e à resistência dos indígenas.
No início do século XVII, seu filho Gil de Góis, tentou reativar a capitania. Afirma-se que ele ergueu novo núcelo urbano como sede, a chamada Vila de Santa Catarina das Mós. Ela estaria situada na foz do rio Itamemirim. Não há certeza de que tenha existido. Ela também teria malogrado. Gil de Góis oficialmente devolveu a capitania à Coroa Ibérica em 1619. Sabendo-a abandonada, sete fidalgos requereram terras no seu âmbito a título de sesmaria, em 1627. As terras doadas estendiam-se do rio Macaé à foz do rio Iguaçu (atual lagoa do Açu). Essa terceira tentativa de colonizar a porção meridional da ecorregião efetuou-se não pelos tabuleiros, como nas duas primeiras, mas pela planície fluviomarinha, no ponto em que a restinga de Paraíba do Sul se estreita. Iniciou-se, assim, a colonização europeia contínua da ecorregião de São Tomé. Registre-se que pescadores vindos de Cabo Frio já estavam instalados na foz do rio Paraíba do Sul desde 1622.
Dada a fertilidade dos Campos dos Goitacás, voltaram-se para eles interesses civis e eclesiásticos. Os Correia de Sá e Benevides e as ordens religiosas dos beneditinos, dos jesuítas e dos franciscanos também se instalaram em terras da antiga capitania. Nova carta régia de doação, com data de 20 de junho de 1679, assegurava terras numa extensão de 100 léguas ao Visconde de Asseca e a seu tio. A partilha entre eles suscitou problemas relacionados ao limite sul da Capitania. A solução foi obtida mediante divisão das 100 léguas entre os dois donatários.
Com essa partilha de 1679, foram atingidos os limites máximos da ecorregião. Norte: rio Tapemeri (atual Itapemirim); sul: rio Leripe (atual das Ostras). Daí em diante, por razões de ordem natural e político-administrativa, eles acabaram por definir limites entre os rios Managé (atual Itabapoana), ao norte, e dos Bagres (atual Macaé), ao sul; a leste, toda a linha da costa atlântica; e, a oeste, a Serra do Mar, com incursões à Serra da Mantiqueira pelo vale do rio Paraíba do Sul.
*Historiador, professor, escritor e ambientalista