* Arthur Soffiati
27/09/2025 05:48 - Atualizado em 27/09/2025 05:48
Arthur Soffiati
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Divulgação
Visitei Belém pela primeira vez em 1989, quando passei uma semana na cidade. Foi uma grande oportunidade de conhecer as belezas do meio urbano típico da Amazônia. Talvez o mais tropical do Brasil. Voltei a ela anos depois, mas apenas de passagem em direção a Parnaíba. Em 2018, passamos lá uma semana mais, podendo visitar a magnífica ilha de Marajó.
Chegando de Manaus por via aquática revisitamos a cidade por um dia, agora em maio de 2025. Nosso destino era Macapá. O charme de Belém continua em meio às muitas obras na cidade para sediar a COP-30. Estivemos na Igreja Nossa Senhora das Mercês, uma das mais antigas da cidade. Almoçamos no charmoso cais. No caminho para o aeroporto, o taxista que nos conduzia puxou conversa. Comentou sobre as obras que se espalham por toda a cidade. “Nunca Belém conheceu tantas obras ao mesmo tempo. Se elas forem concluídas, teremos uma nova cidade”, comentou com uma ponta de ironia. Continuando a prosa, ponderou sobre o futuro de Belém depois da COP-30. “Essas obras serão mantidas ou o governo vai abandonar tudo?”
Chegada ao aeroporto, onde adquiro jornais em papel da cidade, uma das minhas manias. O tempo para decolagem do avião e para seu taxiamento em Macapá é mais longo do que a viagem em si, como se ela fosse um pulo por cima de um dos canais do arquipélago de Marajó.
Macapá: típica cidade amazônica. Dificuldade para conseguir taxi. Finalmente no hotel previamente reservado. O cheiro que emana dos bueiros é o mesmo em todas elas. Cheiro de esgoto não tratado. Em muitos casos, o esgoto corre pela sarjeta. Em Manaus, perguntei-me como uma cidade que cresceu num mundo aquático incomensurável é capaz de poluir os pequenos rios que ela envolveu. O grande problema das cidades nortistas é o saneamento básico. São Gabriel da Cachoeira, Manaus, Santarém, Belém e Macapá. Fora outras que conheci em oportunidades anteriores.
Macapá, cidade em terreno plano, ainda com poucos arranha-céus, às margens do oceano amazônico. Hotel mediano, mas adequado para quem não precisa de luxo. Para quem é mais peregrino que turista. A extensa orla povoada de quiosques, nos quais os produtos presentes em todos, são o abacaxi e a água de coco. Reconhecimento progressivo no primeiro dia. Visita ao Marco Zero da cidade, exatamente sobre a linha imaginária do equador. Lá, pode-se colocar um pé no hemisfério norte e outro no sul. Mas o monumento estava fechado por conta de obras. Seria apenas uma emoção estar oficialmente em dois hemisférios ao mesmo tempo porque o tempo todo caminhamos sobre as altas temperaturas equatoriais.
São José, padroeiro da cidade. Visita à antiga igreja consagrada a ele. A nova matriz da cidade, também com invocação de São José. A grande fortaleza de São José de Macapá, datada do século XVIII, com suas cinco pontas destinada à defesa de invasores pelo delta do rio Amazonas, hoje é apenas atração turística.
Visitamos a Casa do Artesão de Macapá. Ela tem a mesma feição de todas as casas de cultura que conhecemos na Amazônia, até mesmo aquelas que se dizem autênticas: as peças à venda são estilizadas e feitas em série, assim como no Mercado Municipal de Manaus. Almoço no “Amazonas Peixaria”, na avenida Beira Rio, para compensar um restaurante japonês no dia anterior. Rápida visita ao Museu Histórico Joaquim Caetano da Silva. Acervo de exaltação, como em grande parte dos museus municipais do Brasil. Neles, o Brasil começou antes da chegada de Cabral, não pelos povos nativos, mas por navegações europeias anteriores a 1500. Macapá é o centro do mundo, assim como Campos e outras cidades. Trata-se de um lugar de nobres tradições. A própria cerâmica de Maracá, típica daquela parte da Amazônia, já esperava pelos europeus.
E o estresse de comprar passagem para Afuá, na ilha de Marajó, assim como esperar que a maré enchesse para o barco poder navegar. Não me deixei mergulhar nessa ansiedade. Voltando de Afuá, sobre a qual ainda escreverei, visitamos o Museu Sacaca (oficialmente, Centro de Pesquisas Museológicas Museu Sacaca). É um espaço a céu aberto como uma amostra em miniatura da Amazônia: simulação de rios, espécies vegetais nativas, fauna e cultura regional. Uma simulação de uma embarcação de regatão, comerciante que tinha sua venda em embarcação que comercializava tudo nos mais longínquos rincões da Amazonia, explorando nativos, escravizando-os e capturando mulheres para esposas, em prática de poligamia. Gostei do museu a céu aberto, mas logo imaginei um projeto diferente. Para encerrar, os sorvetes, só superados pelos de Santarém.