Edmundo Siqueira
18/04/2025 23:53 - Atualizado em 18/04/2025 23:55
Foto: César Ferreira/PMCG
O Solar dos Airizes não é apenas uma construção antiga. O casarão, às margens da BR-356 (Campos X São João da Barra) é um testemunho de pedra e cal da formação de Campos dos Goytacazes e de toda região. Ali, sob seus telhados e paredes grossas, repousa parte significativa do que restou da arquitetura rural do século XIX — quando a cidade respirava essencialmente gado, cana e contradições — e, ainda mais importante, um testemunho vivo de todo acervo e obras produzidas por Alberto Lamego — pai e filho.
Por décadas o Solar foi uma ruína assistida. Abandonado pela família, prefeitura e sociedade campista, a construção veio perdendo sua sustentação, madeiramento e alvenaria.
O abandono do Airizes foi parar na justiça. Protegido por tombamento federal desde 1940 — três anos depois da criação do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) —, o Solar é objeto de uma ação civil pública movida pelo Ministério Público Federal (MPF), com trânsito em julgado, onde é determinado que seu restauro completo ocorra o mais rápido possível e seus custos arcados pelos cofres da prefeitura de Campos. A decisão final da justiça, de 2020, retirou o Iphan e a família Lamego da responsabilidade sobre o restauro.
Antes da justiça bater definitivamente o martelo, o Iphan interviu no Solar de maneira contundente. Com início em 2003, obras no Airizes fizeram com que todo telhado fosse trocado, retirando-se as telhas originais e colocando outras de padrão contemporâneo. Madeiramento e alvenaria de sustentação foram também substituídas e, as que ficaram, foram descupinizadas.
Foto: César Ferreira/PMCG
Essa ação do Iphan permitiu (embora com descaracterizações) que o Solar permanecesse de pé, mas se mostrou apenas como um interregno no abandono, este que foi novamente interrompido, dessa vez pela prefeitura, em maio de 2024. Em um contrato com a firma Bruta Empreendimentos Ltda, no valor de R$ 2,2 milhões, iniciou-se os serviços de "escoramento, reconstrução do telhado e demais obras de restauração, preservação e conservação do prédio histórico".
Na primeira fase da obra, a prefeitura construiu a estrutura para cobertura de proteção. Porém, as ações de escoramento das paredes ainda estão incipientes. A sobrecobertura é essencial para proteger o prédio de chuvas e outras intempéries, mas o escoramento das estruturas internas é urgente e precisa ser feito para que o Solar consiga resistir até que as obras de restauro completo se iniciem.
Segundo a prefeitura, por meio de uma “Parceria Público Privada (PPA), as restaurações do prédio serão realizadas com parte de recursos da Lei Rouanet, por meio da Empresa Ferroport. O Prefeito apresentou a proposta de parceria aos dirigentes da empresa que, após análise, aceitaram participar do projeto de restauração, que será a próxima etapa da obra”.
Depois de décadas de abandono, o Solar dos Airizes começa a respirar com esperança de dias menos preocupantes, mas ainda agoniza. Para que outras promessas possam ser cumpridas, é preciso que o que está previsto no contrato atual seja executado, e o escoramento seja feito com a urgência e conhecimento técnico necessários.
A cobertura no Solar dos Airizes é uma vitória, e o fato de um patrimônio de sua importância ter lugar no orçamento público municipal é louvável. Mas são apenas etapas para cumprir decisões judiciais e salvar parte da história. A cobertura deve servir para proteger, não para esconder.