Dora Paula Paes
19/04/2025 08:55 - Atualizado em 19/04/2025 13:50
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Da terra vermelha, o projeto Caminhos de Barro molda a cerâmica. No outro extremo, o linguajar campista chama bastante atenção devido aos seus aspectos peculiares e criatividade. Dentro destas duas realidades, com mais de 350 filmes inscritos, o I Festival Internacional Goitacá de Cinema une arte e linguagem para materializar o troféu KBrunco,premiação máxima das cinco categorias do evento. A competição de longas e curtas metragens será entre os dias 19 e 24 de agosto, em Campos. O design ainda não foi revelado, entretanto, o trabalho de pesquisa no atelier começou desde janeiro.
Criado há mais de 20 anos, o projeto de extensão comunitária da Uenf dissemina a arte cerâmica e fomenta a geração de renda e trabalho. Ele também atrair mulheres, antes à margem dos trabalhos no campo ceramista, para dentro da iniciativa do Centro de Ciências e Tecnologia, com coordenação do professor Jonas Alexandre. Para a diretora do ateliê e das atividades externas, Idamara Rizzo, o convite da produtora Quiprocó Filmes para produção do troféu é uma grande realização."Uma oportunidade de mostrar a nossa arte cerâmica num evento que será um marco para a cultura campista de nível internacional", destaca.
Com uma demanda inicial de 20 peças, 10 artesãos do Caminhos de Barro estão envolvidos direta ou indiretamente na sua confecção.O trabalho começou na segunda quinzena de janeiro deste ano.
De acordo com o diretor executivo do I Festival, Fernando Sousa, a ideia nasce com o objetivo de conectar o Festival Internacional Goitacá de Cinema com a região e a cultura popular. Nesse caso, ele explica, a intenção é contribuir e valorizar o trabalho de longa data realizado pelo projeto Caminhos de Barro.
- Essas mulheres artesãs estão moldando e produzindo os troféus. Esse processo foi idealizado junto com a equipe da Quiprocó Filmes. Ainda em segredo, estamos pensando numa peça que celebre a cultura popular da região e assim nasce o nome do Troféu Kbrunco. A gente quis resgatar isso, trazer esse afeto pro festival e nada mais simbólico do que presentear os premiados com essa peça - afirma Fernando Sousa, diretor executivo do I Festival Internacional Goitacá de Cinema.
A historiadora Graziela Escocard também aplaude de pé a iniciativa. Graziela junto com Genilson Soares, doInstitutoHistóricoeGeográficodeCamposdos Goytacazes,realizaram no ano passado a Exposição "Coisa de Campista - o Linguajar da Planície Goitacá". Com autoridade, ela ressalta que o universo das palavras campistas é formado por variações fonéticas, sintáticas, repetições de expressões muito peculiares que dão ênfase ao que estamos falando e por palavras existentes apenas na região ou que, aqui, ganharam outra significação. "As expressões como “cabrunco” - ou na grafia do troféu, “KBrunco” - carregam um peso cultural e simbólico muito forte, especialmente quando falamos da Baixada Campista e da identidade regional do Norte Fluminense", ressalta.
Na explicação da historiadora, a gíria "cabrunco" significa coisa ruim e se origina de carbúnculo, que é uma infecção causada por uma bactéria que afeta principalmente animais. E assim como outras expressões, o "cabrunco" às vezes aparece como advérbio de intensidade, por exemplo, na frase "que lugar longe do cabrunco". Na região de Campos passou a ser utilizada também na variação para descrever coisas no superlativo e espanto, como: "O rio está cheio pra cabrunco" e "Essa festa tem gente pra cabrunco!". Na Baixada Campista, o termo tem uma conotação muito própria, ligada ao imaginário popular, à oralidade e à religiosidade popular", resume.