Agradecemos penhoradamente a cada uma das Sras. e dos Srs. presentes neste momento tão especial da nossa ACL e, de forma muito especial, aos familiares do memorável imortal Dr. Renato Marion Martins de Aquino.
Passei uma tarde na residência, mais especificamente na biblioteca do memorialista e também imortal da ACL, Weligton Paes, pesquisando sobre o nosso homenageado de hoje, onde existe uma pasta “recheada” sobre ele. E qual não foi minha surpresa, ao ler, no dia seguinte, no jornal Folha da Manhã, um belíssimo artigo do acadêmico e atual presidente Ronaldo Júnior, e que imagino, será lido no dia de hoje, neste evento, dados estes que também se encontram no Currículo Lattes do nosso homenageado.
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Farei, então, breves citações, para não cair na rotina da repetição.
Em novembro de 2004, escreveu um artigo intitulado “Sétima Arte”, em que esmiuça a origem, desenvolvimento e o momento atual do cinema. São quase quatro páginas de muito aprendizado e grande deleite. Inicia dizendo: “O cinema é chamado de sétima arte apenas por uma questão cronológica — historicamente, foi a arte mais ‘recente’ a ser inventada (França, Louis e Auguste Lumiere, 1895). As outras artes, como literatura, arquitetura, escultura, pintura, música, teatro, etc. eram bem mais ‘idosas’. As pinturas nas paredes das cavernas, que dão início à história da pintura, remontam ao período Neolítico”.
Em um texto da série “Perfis Acadêmicos”, no qual o Dr. Renato foi o focalizado, disse: “De todas as manifestações artísticas, a arquitetura é a mais importante em termos de projeção da cultura de um povo. Se você pensar em determinado povo, determinada época, determinada cultura, e tentar associá-la a uma imagem, a primeira coisa que lhe ocorrerá será uma imagem arquitetônica. Veja o Egito, por exemplo: tente pensar em Paris”.
Com a doença e o falecimento do Prof. Américo Rodrigues da Fonseca Filho, em 1996, a ACL ficou um longo período paralisada em suas atividades culturais. Um grupo de intelectuais — acadêmicos insatisfeitos com a paralisação e o precário estado do prédio-sede — reuniu-se na sede da Associação de Imprensa Campista — AIC, presidida na época pelo nosso confrade Herbson Freitas, e, a partir do interesse de todos pela reabertura da Academia, as reuniões passaram, então, a ser realizadas no escritório do confrade Renato Aquino. O professor e acadêmico Walter Siqueira, mesmo adoentado, aceita concorrer a presidente e é eleito, tendo como vice Renato Aquino. Mais tarde, as reuniões passam a ser realizadas no Salão Nobre do Hotel Planície, numa gentileza da ilustre professora Cacaia Martins. Logo após a eleição, o professor Walter Siqueira teve outro AVC e é licenciado no cargo, passando, então, o vice-presidente Renato Aquino a assumir a presidência da ACL, cuja atuação foi de primordial importância para a reabertura definitiva do prédio-sede da ACL, ou seja, nesta em que orgulhosamente estamos hoje.
Questionado sobre trabalhos marcantes, cita, entre outros, o projeto original do Santuário do Sagrado Coração, na Rua Riachuelo, e o consultório e residência do médico Celmo Ferreira.
Dizia que “Urbanismo é a ciência do planejamento e desenvolvimento de uma cidade”. Que o ponto fraco de Campos está localizado no trânsito. “É uma loucura total”, disse.
Lembra com saudades a história antiga do município. A cidade, fundada em 29 de maio de 1677, como Vila do Santíssimo Salvador de Campos dos Goytacazes, se desenvolveu da Baixada para o centro. Segundo ele, Campos foi a primeira cidade da América Latina a ter luz elétrica pública. “Quando Campos passou à categoria de cidade — em 28 de março de 1835 — a primeira preocupação da Câmara de Vereadores foi contratar um engenheiro francês, Amélio Pralon, para projetar o município”.
Ressaltava que “a primeira prova que define um bom sistema de trânsito é a facilidade de deslocamento entre dois pontos próximos com o menor gasto de energia e combustível, no menor tempo possível”.
Embora, como referência, já conhecesse o Dr. Renato Marion Aquino há bastante tempo, só vim conhecer pessoalmente em setembro de 2014, quando da minha posse na presidência da Sociedade Fluminense de Medicina e Cirurgia – SFMC –, quando tive a honra de receber o primeiro cartão de felicitações e também quando esteve, a nosso convite, na SFMC, quando conversamos sobre seu pai, o médico Herculano Aquino, cuja foto e pequeno histórico constam nos arquivos dos associados na Instituição – 1905-1968, que faleceu precocemente aos 63 anos de idade. E notava-se o orgulho em seu olhar quando falava do seu pai.
Ele, um grande entusiasta pela minha eleição na Academia Campista de Letras, não só participou da minha eleição, como fez parte da comitiva que me conduziu da porta de entrada da ACL até a mesa central, onde, pelas mãos do então presidente Hélio de Freitas Coelho, recebi com muito orgulho a comenda representativa dessa honrosa Instituição.
Algumas coincidências também marcaram nossas conversas: como, por exemplo, o casamento dos seus pais — Herculano Aquino e Dulce Guimarães Martins de Aquino. Dr. Herculano era médico e fazia parte da nossa Galeria da Saudade dos médicos associados à SFMC, da qual tenho a honra de ter presidido de setembro de 2014 a setembro de 2023. E o casamento dos seus pais ocorreu em 1873 na matriz de São Gonçalo, em Goytacazes, coincidentemente minha terra natal. Em 16 de dezembro de 2019, quando tomei posse para presidir a ACL, ele me parabenizou dizendo que era um orgulho para a ACL ter a primeira médica a presidi-la.
As coincidências continuavam, como a de que Dr. Renato, aqui na ACL, ocupava a cadeira nº 13, cujo patrono, o médico Ignácio de Moura, foi o primeiro presidente da SFMC em 1921.
Outra coincidência veio quando, no meu discurso de posse na ACL, em 2016, citei trecho do poema “Desenho”, de Cecília Meireles, e, ao final, disse-me que também ele era seu fã.
Concluo com uma autodefinição, ao ser perguntado: “Quem é Renato Aquino, no seu íntimo?”. Respondeu: “Alguém que curte arquitetura e magistério, dons que sempre agradeceu a Deus, juntamente com a família que tem. Católico praticante. Leitura, música, cinema e teatro. Curto muito poesia, em especial a de Cecília Meireles. Procura a justiça e a ética em tudo, quer na vida pública como na pessoal”.
*Acadêmica e ex-presidente da Academia Campista de Letras