Wladimir Garotinho: "Campos é uma cidade logística"
Christiano Abreu Barbosa, Igor Franco, Marcos Antônio Rodrigues, Gabriel Torres e Hevertton Luna 13/09/2025 08:04 - Atualizado em 13/09/2025 08:04
Prefeito Wladimir Garotinho
Prefeito Wladimir Garotinho / Rodrigo Silveira
“Campos tem se consolidado cada vez mais como uma cidade de serviço e de logística”. Foi o que disse o prefeito de Campos, Wladimir Garotinho (PP), entrevistado de terça-feira (9) no programa Interação, da rádio Folha FM 98,3. O prefeito analisou o cenário econômico da cidade, a arrecadação e as despesas da Prefeitura e, observando também o contexto regional, os investimentos. Por fim, comentou a articulação pela derrubada do veto ao projeto do semiárido e as especulações envolvendo seu nome para a eleição de 2026.
Cidade logística – “Primeiro a gente tem que entender a história da nossa cidade, como ela está posicionada. Porque muitas vezes o cidadão questiona e ele até critica, mas a gente precisa entender que a gente vive numa cidade que está posicionada como uma cidade de serviços. E, também, agora pela posição estratégica como logística. Nós estamos aqui entre Macaé e São João da Barra. Macaé praticamente com as empresas de óleo e gás quase todas instaladas lá e São João da Barra com o Porto do Açu, onde as indústrias que desejam exportar acabam indo para a retroárea do Açu, que é gigantesca. Então, Campos tem se consolidado cada vez mais como uma cidade de serviço e de logística. E a prova disso, vou dar um exemplo de ontem. Recebi no meu gabinete o proprietário da empresa Aliseo, que está no Porto do Açu. Ele tem um porto dentro do Porto. E ele está trazendo a sede da empresa dele para Campos.”

Heliporto do Farol – “O Heliporto de Campos comemora aniversário essa semana, fui até convidado pra ir lá. Pra quem não tem esse número, é um número assustador, mas um assustador positivo. 35% de todas as operações offshore do Brasil saem do Heliporto de Farol de São Thomé. Isso representa também quase 10% das operações offshore do mundo, saindo do Farol de São Thomé. Tanto que o Heliporto tinha uma pista, hoje ele tem quatro pistas e é o dia inteiro ali, tem quatro ou cinco empresas que operam no Heliporto. Na época, eu lutei muito para que eles ficassem naquele heliporto. Porque o Porto do Açu estava construindo o heliporto e, se a licença do Porto do Açu naquele momento saísse, destruiria o Heliporto do Farol. Eu era deputado, critiquei a época o prefeito Rafael porque não estava tomando as medidas que deveria tomar. Vencemos a batalha naquele momento e o Heliporto ficou no Farol, não foi para o Açu.”

Orçamento campista – “Muitas pessoas dizem que Campos é uma cidade muito rica. Quando você vai pegar o orçamento total da cidade e dividir pelo número de habitantes, Campos é a mais pobre. Está aí, é o número, o número não mente. Você pega o orçamento aprovado pela Câmara de Vereadores, pega o número de habitantes e divide, uma conta simples. Se for fazer isso com qualquer outra cidade da região, Campos é a mais pobre. Tem menos recursos por habitante do que Cardoso Moreira, Italva, São Francisco, do que qualquer outra. Então, esse discurso, na verdade, é uma falácia de que Campos é uma cidade muito rica. Campos tem um orçamento robusto, mas tem muita despesa.

Receitas do município – “O ISS hoje é maior do que o IPTU. O IPTU tem um problema, que é a inadimplência. A gente lança o IPTU, mas de 30% a 40% não paga. E aí fica aqui um alerta, não é o prefeito Wladimir. O Tribunal de Justiça tem feito uma cobrança através de dívida ativa muito pesada e quem faz a cobrança não é a Prefeitura, é o Tribunal de Justiça através do setor de dívida ativa. A Prefeitura é obrigada a informar os inadimplentes no setor de dívida ativa, que informam ao Tribunal de Justiça e o Tribunal tem feito cobrança.”

Investimentos em obras – “Eu fui ao governador (Cláudio Castro), junto do deputado Bruno Dauaire. Na época, o Rodrigo Bacellar participou. Falei, olha, eu preciso de investimento nessa cidade. Eu não tenho a Cedae. Os outros municípios têm. E além dos municípios que têm a Cedae, o estado também vai investir nos outros municípios. Então, eu quero saber o que dá para a gente fazer em Campos. Eu já cheguei lá com um bilhão em projeto, está aqui o que eu preciso. Eu já entreguei. A maioria é obra de infraestrutura, saneamento em bairros mais periféricos da cidade. Eu pedi R$ 1 bilhão. Eles me prometeram R$ 500 milhões. Disseram que iam cumprir e fazer R$ 500 milhões. Até o presente momento, se tem licitado e empenhado em torno de R$ 350. Não chegou aos R$ 500, mas tem R$ 350. Não posso dizer que não tem, o estado investiu aqui no município de Campos e do dinheiro municipal investido em obra já passou de R$ 500 milhões. Então, existe 350 do estado, mais 520 ou 530 do município. Isso são obras, algumas já entregues e algumas ainda em execução. Do governo federal, deve ter mais aí uns 50 milhões. Então, se você somar tudo, vai chegar a quase R$ 900 milhões de obra municipal, estadual e federal, sendo municipal a maior parte delas.”

Orçamento municipal - “Sobre o orçamento do município, a gente precisa entender que a gente projeta um orçamento sempre muito conservador. A gente precisa ser conservador para não ter que no futuro fazer contingenciamento, cortes expressivos. À medida que a gente vai conseguindo recurso novo, seja ele de emenda, de repasse, por aumento de arrecadação, a gente vai suplementando o orçamento e ele tem ficado, ao final do exercício, na casa de R$ 3 bilhões.”

Maiores despesas - “As duas maiores despesas de Campos é pessoal e área de saúde. Quando falo pessoal, muitas pessoas têm em mente o RPA e o DAS. Não, é pessoal efetivo, servidor público concursado, ativo e inativo. É a principal despesa da prefeitura. Isso dá em torno de R$ 120 milhões por mês, só o ativo e o inativo.”

Folha de pagamento – “Muito pior do que qualquer outra coisa é não honrar o pagamento. A prefeitura ainda é a maior impulsionadora da economia da cidade. Se eu deixar de pagar a folha de pagamento da prefeitura, a cidade para de circular dinheiro, a cidade quebra. Então, em primeiro lugar, é saúde e a folha de pagamento.”

Situação dos servidores – “Se fez muita política com pessoal ao longo do tempo. Exemplo, a gente está enfrentando agora uma possível demissão de servidores porque eles eram seletistas. Foram transformados em estatutários e tiveram benefício da carreira de um estatutário. A justiça já disse que não pode e agora está querendo tirar de todo mundo. Só que essa pessoa já recebe isso há 25, 30 anos. A gente entende que são pessoas que vão sofrer muito e a Prefeitura já está recorrendo no STF.”

Virada de chave - “Campos tem duas grandes oportunidades. O Ceascam, que é uma grande oportunidade, um divisor de águas, e a Barra do Furado, que é um outro grande divisor de águas. Vou dar um dado aqui. No litoral entre Campos, Quissamã e São João da Barra, 5 mil toneladas de pescado por mês são retirados daqui. Em alto mar, é feito o transbordo da maioria e vai lá para o Porto de Itajaí, em Santa Catarina. Isso podia estar sendo beneficiado aqui, gerando emprego.”

PL do Semiárido – “Quando foi para o plenário, a gente começou a perceber uma certa dificuldade para poder votar. Eu procurei o senador Portinho, que é o líder da oposição. Falei, Portinho, você é do Rio de Janeiro, preciso da sua ajuda para a gente costurar um acordo aqui dentro e ele procurou o senador Jaques Wagner, procurei o André Ceciliano e o Lindbergh, pessoas que tenho acesso. Costuramos o acordo, tanto que foi aprovado por unanimidade no plenário. Foi acordado com o governo. Para nossa surpresa, o presidente vetou.

Encontro com Ceciliano – “Eles querem matar o meu projeto e, com todo respeito ao meu amigo André Ceciliano, ele veio aqui e sugeriu um texto alternativo para sair em nome de um deputado do PT. Falei, André, aí não. Um deputado de Pernambuco. Mas aí é um texto alternativo que não é o semiárido. É um texto alternativo para garantir a safra. Eu falei, André, não é isso que eu quero, não é isso que a região precisa. A região precisa do reconhecimento da alteração climática, porque vai abrir isenção fiscal e tributária para as empresas, vai abrir linha de crédito especial para os produtores.”

Falta de apoio à derrubada do veto – “Depois dizem que eu sou implicante. Nós temos o presidente da Assembleia Legislativa que é campista, é da nossa região. Ele conhece aqui, tem prefeitos aliados, você não vê ninguém se mexer. O governador fez o compromisso conosco numa reunião em Pádua com os prefeitos, de abraçar a derrubada do veto. E eu vou, inclusive, cobrar isso dele. Eu e ele, pessoalmente, vou ligar para ele, para que a gente possa ir junto à Brasília, conversar com o Hugo Motta, conversar com o Davi Alcolumbre.”

Sudene no Sul do Espírito Santo – “Tem um Projeto de Lei Complementar tramitando, do deputado Evair de Mello, do Espírito Santo, pra que o sul do Espírito Santo entre pra Sudene. O norte já está. Se o sul entrar, acabou a nossa região. A gente faz divisa. Quem vai querer investir aqui? Se você vai ter aqui do lado, na divisa, o sul do Espírito Santo na Sudene. Ninguém vai investir mais aqui na região, vai acabar de vez.”

Setor sucroalcooleiro - “Nós temos duas usinas em Campos, só duas. Já tivemos 26. As duas usinas não tem cana para moer, todo ano estão subutilizadas. E mesmo subutilizadas, elas movimentam R$ 400 milhões na economia de Campos. Vou dar exemplo, porque eu sei o número da Sapucaia. A Sapucaia moe em torno de 800 mil toneladas por ano. Ela tem capacidade para moer quatro vezes mais do que isso, mas não tem cana, porque não tem irrigação. Então, se você pega financiamento barato, constrói grandes projetos de irrigação, você vai ter maior produtividade.”

Café no Norte de Campos – “Não podemos esquecer que eu tive para alguns a audácia, para outros coragem e para outros sabedoria, de entregar o Hotel Pedra Lisa em Morro do Coco para a iniciativa privada. Não só compraram o hotel e já restauraram inteiro pra fazer o Hotel Fazenda. Está lindo o lugar, quem não conhece vale a pena ir lá conhecer. Por que ele não lançou o Hotel Fazenda? Porque ele está comprando o entorno todo pra plantar café. Porque a Campos já teve café no passado. Já comprou 400 alqueiras de terra no entorno de Pedra Lisa pra poder plantar café.”

Conversa com Paes e Reis – “Se eu puder construir um caminho onde possa ajudar mais ainda a cidade do que eu já ajudo, acho que esse é um caminho possível. E pra isso preciso conversar muito, pensar muito. Tem que amadurecer mais até o final do ano. De fato, tem muita conversa, tanto por um lado quanto por outro. Eu já estive pessoalmente com o Eduardo Paes algumas vezes. Washington Reis, que é um amigo querido, gosto muito dele, já disse publicamente que eu serei o vice dele, caso ele seja candidato. Eu até brinquei, combina comigo antes, você dá entrevista sem nem combinar comigo antes.”

“Quem decide é o interior” – “A capital tem 38% do eleitorado, a baixada mais metropolitana 36%. Então, elas meio que se anulam na eleição. E quem decide é o interior. E eu sendo prefeito da maior cidade do interior, os dois lados entendem como uma figura importante para estar compondo chapa. Mas é muito amadurecimento até lá.”

“Não posso ser vice decorativo” – “Eu não vou dizer sim, não vou dizer não, eu vou repetir o que eu falei. Se eu puder estar em algum outro cargo para ajudar a minha cidade, eu até topo. Mas eu preciso conversar muito, amadurecer muito, conversar com o grupo político, conversar com as pessoas, pegar compromisso com as pessoas. Vamos lá que eu seja vice de alguém. Quais são os compromissos dessa pessoa com a minha região, com a minha cidade? Ele tem que fazer compromisso público. Isso não é brincadeira. Eu não posso sair de um mandato que o povo me confiou para ser um vice decorativo, não poder ajudar ninguém, não poder trabalhar por ninguém. Depois como é que fica o Wladimir, que deixou de ser prefeito para ser um vice decorativo.”

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