
É preciso entender os motivos que levam uma construção histórica à evidência. Algumas vezes acontece por existir uma forte mobilização da sociedade pela sua preservação. Outras por ter, finalmente e fatalmente, caído — ou por especulação imobiliária.
No caso do Solar dos Airizes esses motivos se misturam, ainda com dois ingredientes importantes, a mais: um processo judicial transitado em julgado e tombamento federal (Iphan) desde 1940.
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Além de alto valor histórico cultural, o Solar dos Airizes tem uma localização estratégica: próximo ao Porto do Açu e de uma ponte que ligará Campos, São João da Barra e São Francisco. Não precisa ser especialista para perceber que um investimento ali — imobiliário, comercial ou turístico-cultural — promete retorno alto.
Em 2014 a empresa Teixeira Holzmann Empreendimentos Imobiliários, do Paraná, queria apostar nessa promessa, e iniciou negociações com a família Lamego. Não prosperaram. A prefeitura ainda não era parte interessada, pois não havia a conclusão do processo.
Especulação atual

A especulação continua. A empresa ABMais Urbanismo foi ventilada como possível (nova) compradora do Solar dos Airizes e suas terras. O apresentador da Rede Globo, Luciano Huck, teria participação no empreendimento.
Porém, representante da família Lamego, proprietária do Solar e da propriedade que o abriga, nega a informação. “Não procede. O Solar é totalmente da família e a intenção é entregá-lo ao município, para que seja usufruído por toda a sociedade”, disse.
Sobre negociações passadas e futuras, explica que as negociações com a Teixeira Holzmann “não prosperou” e que seria “para uma área de fundo, bem distante do solar”.
Sobre a ABMais confirmou que houve procura para “informações”, mas que não “há compra alguma”. Terminou dizendo:
— O solar pela sua dimensão histórica e física, não caberia em um projeto privado.
Especulações nesse sentido, só servem para desviar o foco. O destino do Solar já foi definido pela justiça que aguarda o cumprimento pelo município.
Especulações nesse sentido, só servem para desviar o foco. O destino do Solar já foi definido pela justiça que aguarda o cumprimento pelo município.
Qualquer negociação que envolva hoje o Solar dos Airizes deve, necessariamente, envolver a prefeitura e o Iphan. Se não há conhecimento e aprovação de ambos, não passa de especulação. E se há interesse real, os atores devem ser transparentes. Será usado dinheiro público para favorecer investimento privado?
Consultei o Iphan, em apuração feita no primeiro dia do mês de julho, anterior ao surgimento da especulação da ABMais:

O Iphan respondeu dizendo que desconhece o assunto, informou os processos que o Solar possui dentro do órgão, e em nenhum deles há pedido de autorização para venda. Em contato hoje (11) com a empresa ABMais, representante disse que retornará com informações sobre o caso. Até esta publicação não houve retorno.
O Solar dos Airizes (badalado ou não) deve cumprir seu objetivo, descrito em seu tombamento e vocacionado por sua história: educação patrimonial. Se alguma empresa pretende se beneficiar de seu restauro, deve participar dele. Caso a promessa de ruína se cumpra, a justiça, prefeitura e o Iphan permitirão o fim de mais um patrimônio histórico em Campos. E continuaremos a especular e a lamentar, somente.