As leis, as sacolas e o meio ambiente - com Carlos Minc, Fred Machado, Priscilla Nunes e Carlos Alexandre
28/12/2021 | 04h42
Desde que a lei municipal 9.120 foi publicada, os estabelecimentos comerciais de Campos estão “expressamente proibidos” da cobrança pela distribuição de sacolas. Antes, cobrar pela sacola plástica era permitido por outra lei (8473/19),  essa estadual, de autoria do deputado Carlos Minc.
“Proteção do meio ambiente fluminense”, é o que traz como justificativa o artigo primeiro da lei de Carlos Minc, que foi ministro do Meio Ambiente no governo Lula. Ao blog, ele fala sobre a iniciativa de Campos, de autoria do vereador Fred Machado e sancionada pelo prefeito Wladimir Garotinho.
“Há uma ofensiva de alguns vereadores e prefeituras (Nova Iguaçu, Maricá e São Gonçalo já proibiram a cobrança das sacolas) contra a nossa lei que já retirou 5 bilhões de sacolas plásticas do meio ambiente. Nós tínhamos sacolas plásticas distribuídas gratuitamente, de má qualidade, feitas de material fóssil, não eram reutilizáveis nem renováveis”, diz Minc. Sobre a cobrança, diz que “havia a falsa sensação que era gratuita, mas não eram. Evidentemente esse preço era repassado para os 20 mil produtos do supermercado que tem preço livre”.
Do outro lado, a Câmara e a prefeitura defendem a suspensão da cobrança. Fred Machado, autor da lei municipal, fala sobre sua intenção ao elaborar o novo ordenamento:
— A intenção não é retornar as sacolas plásticas ao meio ambiente. Não é promover a poluição. Mas estávamos sendo cobradas por uma sacola que não era biodegradável. Então que sejamos cobrados pela sacola biodegradável. Eu conversei com as pessoas e falei que a TV Câmara poderia ser usada para conscientizar sobre a correta utilização das sacolas, e sobre a utilização de materiais realmente biodegradáveis, como mandioca, amido de milho e amido de batata. Até com água morna elas se decompõe”.
Uma lei que “não pega”?
Como mostrou a Folha da Manhã, a lei não vem sendo cumprida pelos estabelecimentos comerciais de Campos. O Procon recebeu, via decreto, a incumbência de fiscalizar o cumprimento. A secretária executiva do órgão, Priscilla Nunes, disse que “a fiscalização está nas ruas, com denúncias dos estabelecimentos que não estão cumprindo a lei”. Sobre um possível prazo de adaptação dos comércios, ela explica que a “lei já está em vigor e o cumprimento é imediato”.
Diminuir a quantidade de plástico em circulação é uma necessidade mundial. Porém, repassar ao consumidor o custo das sacolas plásticas para se atingir esse fim, ou mesmo como uma ação educacional, não é consenso. Mas existem dados sobre o assunto.
Segundo pesquisa da Associação Paulista de Supermercados (Apas), a cobrança das sacolas descartáveis reduziu em 84,4% a circulação por ano, significando que 27 mil toneladas de plástico deixaram de ser descartados. Por outro lado, a distribuição gratuita das sacolas auxilia o acondicionamento do lixo doméstico, hábito comum entre os brasileiros, principalmente na população mais vulnerável. Passa a ser uma questão de saúde pública, o descarte indevido de lixo nas ruas. Além disso, cobrança é considerada diferente de educação ambiental.
Afinal, vale a lei estadual ou a municipal?
— A lei é um sucesso total. Mudou o hábito de milhares de consumidores, que passaram a levar bolsas de pano. Essas leis municipais são inconstitucionais, pois não podem contrariar uma lei estadual, que é hierarquicamente superior. A Procuradoria da Alerj ingressou com ação judicial para invalidar essas leis. Vamos resistir contra esse retrocesso! — afirmou ao blog, o deputado Minc.
O advogado tributarista de Campos, e ex-assessor do STF, Carlos Alexandre de Azevedo, confirma que a lei municipal fere a estadual, e que será “uma batalha jurídica sem fim”. No grupo de WhatsApp do Blog Opiniões, de Aluysio Abeeu Barbosa, e do programa Folha no Ar, da FolhaFM, disse mais:
— O município, sem competência constitucional para tanto, legisla sobre proteção ao consumidor sem que esteja presente interesse local preponderante. Só União e Estados podem fazê-lo. Também sem competência constitucional para tanto, regula área sensível ao meio ambiente, sem que esteja presente interesse local preponderante, e ainda por cima em sentido menos protetivo do meio ambiente que o previsto na Lei Estadual n° 8.473/2019, que estabeleceu a substituição das sacolas não recicláveis pelas recicláveis, mas autorizou a cobrança pelo preço de custo dessas últimas para frear o seu consumo. Afinal, plástico é plástico. Além de inconstitucional, trata-se de lei populista, preocupada com o eleitor de hoje e agora, mas ignora as gerações futuras que dependem do meio ambiente sadio. Nesse caso, a pandemia ensinou pouco.
 
 
 
 
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As várias questões que envolvem a "lei das sacolas" em Campos
23/12/2021 | 03h26
Desde a última terça-feira (21), os campistas não precisam mais pagar pelas sacolas em suas compras. Com a publicação da lei municipal 9.120, os estabelecimentos comerciais de Campos “ficam expressamente proibidos” de cobrarem por utilização de sacolas “para a embalagem e transporte de produtos adquiridos no varejo”. A cobrança era permitida por outra lei (8473/19), essa estadual, de autoria do deputado Carlos Minc, que já trazia a justificativa em seu artigo primeiro: “proteção do meio ambiente fluminense”.
Diminuir a quantidade de plástico em circulação é consenso; pelo menos entre os minimamente responsáveis com as questões ambientais. Porém, repassar ao consumidor o custo das sacolas plásticas é um caminho viável?
Responder afirmativamente essa questão pode ser uma visão reducionista do problema. O que parece colocar em lados opostos os supermercados, que defendem seus interesses econômicos, e os que defendem os direitos da população e a preservação ambiental, deve ser encarado com responsabilidade.
Nessa equação, não restam dúvidas: o lado mais frágil é o consumidor. As famílias vêm pagando um preço alto pela inflação, pela queda do ritmo da economia e pelo desemprego. Penalizar os consumidores com mais uma cobrança, tendo que arcar com embalagens para transportar suas compras, afeta diretamente o orçamento de muita gente. Para atuar nessa trincheira, na defesa dos mais vulneráveis, o Procon é um órgão fundamental.
Como será a aplicação da lei municipal?
Em Campos, a competente advogada e secretária executiva do Procon, Priscilla Nunes, falou sobre o assunto, e já alerta: “O decreto determinando qual órgão fiscalizador, para fiscalizar o cumprimento da lei, foi publicado hoje e a fiscalização já está nas ruas, com denúncias dos estabelecimentos que não estão cumprindo a lei”. Sobre um possível prazo de adaptação dos comércios, ela explica que a “lei já está em vigor e o cumprimento é imediato”.
— O cidadão pode se proteger fazendo a denúncia diretamente no Procon, que é o órgão responsável para fiscalizar o cumprimento da lei. Ela (a lei) é pública e notória, já está em todos os canais de comunicação, e de conhecimento de toda polpação. Vamos fazer cumprir nosso papel de fiscalização. — disse Priscilla, perguntada se o Procon faria ações de conscientização .
Sobre a questão ambiental, com os possíveis impactos negativos que a volta da distribuição gratuita das sacolas pode trazer, a secretária informou que o Procon “está muito preocupado com a questão ambiental”, mas que não teria “equipe e competência técnica para avaliar”. Para suprir essa necessidade, já está buscando parcerias para “atuar nessa avaliação técnica das sacolas plásticas”.
Direitos e deveres de consumidores e empresários
Segundo pesquisa da Associação Paulista de Supermercados (Apas), a cobrança das sacolas descartáveis reduziu em 84,4% a circulação por ano, significando que 27 mil toneladas de plástico deixaram de ser descartados. Por outro lado, a distribuição gratuita das sacolas auxilia o acondicionamento do lixo doméstico, hábito comum entre os brasileiros, principalmente na população mais vulnerável. Passa a ser uma questão de saúde pública, o descarte indevido de lixo nas ruas. Além disso, cobrança é diferente de educação ambiental.
Talvez a solução para equacionar as teses válidas de defesa do consumidor e de proteção do meio ambiente, esteja na compreensão de todos envolvidos que é necessário cuidado e responsabilidade nos resíduos — entre eles os plásticos pós-consumo — e sobre a necessidade de reciclagem. Fiscalização e ações de educação ambiental devem andar juntas.
“Tivemos diversas fases. Primeiro tivemos a vitória da troca de sacolas plásticas por biodegradáveis. Logo depois, a cobrança das sacolas que acabou onerando os consumidores. Acredito que essa lei municipal veio para proteger as pessoas vulneráveis, que são os consumidores. Agora, no meu entender, cabe a cada um se conscientizar para ter o consumo responsável dessas sacolas”, resumiu Priscilla.
Sempre que a sociedade precisa de uma lei impositiva e onerosa para educar sobre a proteção do elemento principal para a existência humana, é dado um recibo de irresponsabilidade, de todos. Para que Campos consiga manter essa proteção aos consumidores, a preocupação ambiental deve ter sido aprendida.
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Quando nasce Campos? "A história é processo e acesso à cultura é garantia constitucional" - Sylvia Paes
14/06/2021 | 11h12
Quarta - e última - entrevista da série sobre as discussões que continuam na atual legislatura da Câmara de Vereadores de Campos dos Goytacazes sobre a data de nascimento da cidade.
Quando nasce uma cidade? Como podemos definir o momento exato em que um aglomerado de pessoas e construções passe a se tornar uma urbe, com ruas e gentes, determinações e identidades próprias? A data de fundação de um lugar é determinada por diversos fatores e movimentações. Inclusive dos povos originários que viviam naquele território, que na maioria das vezes são expulsos ou explorados por processos de colonização e urbanização (confira reportagem da Folha aqui).
O caso da nossa cidade não foi diferente. Além do índio Goytacá, habitavam aqui grupos indígenas como os Puris, Coroados e Guarulhos. Mas, estaria a história de Campos dos Goytacazes, enquanto cidade, iniciada nesse contexto? Havia nos povos originários a organização social, econômica e administrativa para podermos determinar o nascimento de uma cidade como a entendemos na contemporaneidade?
É essencial definirmos uma data que possa comportar a documentação histórica, os testemunhos e a literatura disponível, mas também que possa produzir no campista o reconhecimento de sua história. Inclusive pela obrigatoriedade de valorizarmos nossos primeiros habitantes e contarmos a história de exploração e morticínio que passaram durante a colonização. É preciso apresentar Campos aos campistas. Mostrar o quão profunda é a sua história e quantos antepassados lutaram por essa terra para que hoje possamos chamá-la de nossa, de nosso local de nascimento, de nossa casa. Quando uma cidade completa ciclos de vida, é-lhe concedido o direito de comemorar um marco simbólico a partir do qual se rememoram passados, mas também se projetam futuros.
A Câmara de Vereadores de Campos dá continuidade nesta legislatura às discussões sobre o real — ou consensual, ao menos — nascimento da cidade. (confira aqui, aqui e aqui as repercussões na Câmara) Para isso propõe a escuta ativa de historiadores, pesquisadores, jornalistas, e toda sociedade. Quatro correntes são defendidas no legislativo municipal, oriundas de encontros com a Comissão de Educação e Cultura, reuniões no plenário e defesas escritas. A primeira em 1532, com a doação das Capitanias Hereditárias — a segunda em 1652 com a celebração da primeira missa em solo campista — a terceira 1º de janeiro de 1653 com a posse da primeira Câmara — e 29 de maio de 1677 com a criação da Vila pelo donatário e a posse de nova Câmara, essa de forma definitiva.
Por ordem de antiguidade das datas propostas, iniciamos uma série de entrevistas (veja a primeira aqui,  a segunda aqui e a terceira aqui). Nesta quarta (e última) entrevista, para defender 'uma data para Campos dos Goytacazes', a historiadora Sylvia Paes traz as justificativas do dia 29 de maio 1677 com a criação da Vila pelo donatário e a posse de nova Câmara, essa de forma definitiva.
Edmundo Siqueira - Quando Campos nasce, de fato?
Sylvia Paes - O século XVII foi um tempo vivido em Portugal e suas colônias, sob as Ordenações Filipinas, uma compilação jurídica que ordenou todas as ações do reino. Foi também um tempo que contabilizou perdas consideráveis para o império português. Os portugueses foram expulsos do Japão e da Etiópia, perdem o Ceilão, a feitoria portuguesa em Arguim, perderam Malaca para os holandeses e também Conchim, além de São Tomé e Príncipe (mais tarde reconquistada).
No Brasil, os holandeses também não dão trégua aos portugueses, primeiro conquistando a Bahia e depois Pernambuco onde se instalaram por um longo e próspero período. No Rio de Janeiro, os franceses faziam pressão para dominar a região na tentativa da fundação da França Antártica. Tudo isso vivenciado além-mar, não se compara as duras guerras de restauração do trono em seu próprio território.
Em meio às guerras de conquistas e reconquistas se destacou Salvador Correa de Sá e Benevides no comando de tropas de restauração de Angola, São Tomé e Príncipe. Por seus serviços o trono português o coloca como governador do Rio de Janeiro e lhe confere depois a Capitania de São Tomé, até então não totalmente ocupada por seus antigos donatários os Sete Capitães.
Entre os deveres de um donatário de capitania para com a coroa portuguesa estava primordialmente o de fundar vila, eleger a câmara, erguer igreja e o pelourinho (símbolo de poder usado desde a Idade Média na Península Ibérica). Também deveriam proteger o território de invasores estrangeiros, promover o povoamento, combater tribos indígenas que dificultassem a colonização e explorar economicamente as terras recebidas. O 2º Visconde de Asseca Salvador Correa de Sá e Benevides, em 15 de setembro de 1674 tomou posse da Capitania da Paraíba do Sul, antes São Tomé, que pertencera a Pero e Gil de Gois. Em 29 de maio de 1677, fundou em nome de El Rey, a Villa de São Salvador dos Campos dos Goytacazes, ergueu pelourinho e nomeou os representantes para compor a Câmara Municipal. Quanto a igreja ele não precisou erguer, uma vez que já havia uma capela junto a uma pequena povoação, que ele apenas deslocou para local mais seguro junto ao Rio Paraíba do Sul, constatando que o rio era a única “estrada” que nos ligava ao mundo exterior, era a porta de entrada da nova Villa.
Edmundo Siqueira - As discussões até aqui originaram quatro teses. Além da sua, existe outra corrente que você perceba mais coerência histórica ou social?
Sylvia Paes - Todas as datas que precedem esse fato fizeram parte de um processo histórico culminando com a fundação da Vila de São Salvador dos Campos dos Goytacazes. Podemos considerar tantos momentos históricos relevantes que listamos aqui datas possíveis de ocupação do nosso território que remontam ao século XVII e não ao século XIX, ou seja, não é possível que a data mais importante de nossa cidade seja a de sua elevação a categoria de cidade e não a de seu nascimento como Vila.
"Outrossim, não seria aconselhável consideramos a data de aniversário da cidade, mas sim a data de aniversário de Campos dos Goytacazes, uma vez que temos sim uma data de aniversário da cidade 28 de março de 1835, mas que não corresponde ao seu nascimento como núcleo político, econômico e social"
Em 8 de dezembro de 1633 teriam os Sete Capitães, donatários da Capitania de São Tomé, erguido um curral e uma choupana de palha, em Campo Limpo, que deixaram aos cuidados do índio Valério, com uma vaca e um touro. Em 10 de dezembro um novo curral foi levantado na ponta do Cabo de São Tomé, deixado sob os cuidados do escravo Antônio Dias com mais um touro e uma vaca e um terceiro curral, a pouca distancia deste, foi deixado aos cuidados do índio Miguel. Contudo os capitães donatários não cumpriram os ritos de donataria para com a Coroa Portuguesa, ou seja: erguer capela, pelourinho, eleger a Câmara e fundar uma Vila.
Em 1652 já a igreja católica havia instituído a freguesia de São Salvador dos Campos dos Goytacazes, tendo nomeado um pároco.
Em 1653 a primeira Câmara de Campos foi “criada em 1652, devido a discórdias no campo religioso”. Os sete camaristas tomaram posse em janeiro de 1653. Contudo esta além de não ter sido reconhecida pela corte portuguesa também não cumpriu os ritos da donataria, uma vez que não esteve presente a autoridade máxima em nome de El Rey.
Enfim, em 29 de maio de 1677 é finalmente criada a Villa de São Salvador dos Campos dos Goytacazes, capitania recebida pelo Visconde de Asseca, como prêmio pelos seus serviços a coroa portuguesa, que então em nome de El Rey, funda a Villa e cumpre os ritos de capitão donatário junto a corte conforme podemos observar no relato do memorialista Teixeira de Mello registrado acima. Mas como a história é processo, esse ato final de Salvador Correa não teria acontecido sem que os locais o tivessem provocado.
Nossa Constituição nos garante nos Art. nº 215 o pleno exercício dos direitos culturais e acesso a cultura e no Art. 216 protege o patrimônio cultural brasileiro. Para a turismóloga Claudiana Y Castro “A educação Patrimonial é uma ferramenta importante na construção da cidadania”, quando o educando realiza a construção do conhecimento de forma ativa e “comprometida com a transformação social”.
Sendo assim devemos pensar onde estarão nossos educandos na data de primeiro de janeiro? Não estarão nas escolas, mas em período de recesso escolar. Como poderemos dessa forma praticar educação patrimonial para uma formação cidadã? Outrossim, não seria aconselhável consideramos a data de aniversário da cidade, mas sim a data de aniversário de Campos dos Goytacazes, uma vez que temos sim uma data de aniversário da cidade 28 de março de 1835, mas que não corresponde ao seu nascimento como núcleo político, econômico e social.
 
 
 
 
 
 
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Quando nasce Campos? Genilson Soares, Neila Ferraz e Rafaela Machado defendem 1º de janeiro de 1653
09/06/2021 | 12h18
Terceira entrevista da série sobre as discussões que continuam na atual legislatura da Câmara de Vereadores de Campos dos Goytacazes sobre a data de nascimento da cidade.
Quando nasce uma cidade? Como podemos definir o momento exato em que um aglomerado de pessoas e construções passe a se tornar uma urbe, com ruas e gentes, determinações e identidades próprias? A data de fundação de um lugar é determinada por diversos fatores e movimentações. Inclusive dos povos originários que viviam naquele território, que na maioria das vezes são expulsos ou explorados por processos de colonização e urbanização (confira reportagem da Folha aqui).
O caso da nossa cidade não foi diferente. Além do índio Goytacá, habitavam aqui grupos indígenas como os Puris, Coroados e Guarulhos. Mas, estaria a história de Campos dos Goytacazes, enquanto cidade, iniciada nesse contexto? Havia nos povos originários a organização social, econômica e administrativa para podermos determinar o nascimento de uma cidade como a entendemos na contemporaneidade?
É essencial definirmos uma data que possa comportar a documentação histórica, os testemunhos e a literatura disponível, mas também que possa produzir no campista o reconhecimento de sua história. Inclusive pela obrigatoriedade de valorizarmos nossos primeiros habitantes e contarmos a história de exploração e morticínio que passaram durante a colonização. É preciso apresentar Campos aos campistas. Mostrar o quão profunda é a sua história e quantos antepassados lutaram por essa terra para que hoje possamos chamá-la de nossa, de nosso local de nascimento, de nossa casa. Quando uma cidade completa ciclos de vida, é-lhe concedido o direito de comemorar um marco simbólico a partir do qual se rememoram passados, mas também se projetam futuros.
A Câmara de Vereadores de Campos dá continuidade nesta legislatura às discussões sobre o real — ou consensual, ao menos — nascimento da cidade. (confira aqui, aqui e aqui as repercussões na Câmara) Para isso propõe a escuta ativa de historiadores, pesquisadores, jornalistas, e toda sociedade. Quatro correntes são defendidas no legislativo municipal, oriundas de encontros com a Comissão de Educação e Cultura, reuniões no plenário e defesas escritas. A primeira em 1532, com a doação das Capitanias Hereditárias — a segunda em 1652 com a celebração da primeira missa em solo campista — a terceira 1º de janeiro de 1653 com a posse da primeira Câmara — e 29 de maio de 1677 com a criação da Vila pelo donatário e a posse de nova Câmara, essa de forma definitiva.
Por ordem de antiguidade das datas propostas, iniciamos uma série de entrevistas (veja a primeira aqui e segunda aqui). Nesta terceira, para defender 'uma data para Campos dos Goytacazes', Genilson Soares – Presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Campos, Neila Ferraz – Professora e pesquisadora e Rafaela Machado – Coordenadora do Arquivo Público Waldir Pinto de Carvalho, apresentam, de forma conjunta, as justificativas do dia 1º de janeiro de 1653, quando foi empossada a primeira Câmara local.
Edmundo Siqueira - Quando Campos nasce, de fato?
Os fatos históricos e documentais mostram que Campos não nasceu simplesmente de uma canetada do Rei D. João III, quando dividiu o Brasil em capitanias hereditárias e muito menos pela tentativa dos dois donatários, que receberam a Capitania de São Tomé e fracassaram no empreendimento da colonização no século XVI. A iniciativa que começa a dar contornos de povoamento em nossa terra se dá no primeiro quartel do século XVII, quando em 1632 alguns militares portugueses, conhecidos como os “Sete Capitães”, receberam em sesmarias, as terras da planície goitacá que estavam abandonadas e implantaram na baixada campista, três currais para criação de gado. É a partir desse momento histórico que a cobiça pela nossa fértil terra de massapé, insere o General Salvador Correa de Sá e Benevides, que usando do seu prestígio político, convence os “Sete Capitães” a assinarem uma escritura dividindo a terra com ele e as ordens religiosas.
"Os fatos históricos e documentais mostram que Campos não nasceu simplesmente de uma canetada do Rei D. João III, quando dividiu o Brasil em capitanias hereditárias"
Já nesse período existiam famílias que tinham fixado moradia em um núcleo urbano em torno da primeira capela em louvor ao Santíssimo Salvador, no local onde se encontra hoje a Igreja de São Francisco da Penitência. De forma pioneira e com autorização do Ouvidor Geral, em dezembro de 1652, os moradores resolveram dar um ordenamento político administrativo ao povoado, fundando a Vila e escolhendo os seus representantes. Tal iniciativa, classificada pelo historiador Balthazar da Silva Lisboa (1761-1840) como uma “República”, cujo governo em que o povo exerce a soberania, foi concretiza com a posse dos vereadores em 1º de janeiro de 1653, conforme o documento da ata que se encontra no Arquivo Público Municipal Waldir Pinto de Carvalho.
Mediante aos fatos narrados, entendemos que a data de 1653, que tem o reconhecimento dos memorialistas e historiadores, possui o registro documental e reflete a resiliência do povo campista de ser protagonista do seu destino é o marco de nascimento de Campos. Pensamos que a constituição de nosso município se deu quando foi empossada a primeira Câmara local, portanto, de criação da vila de São Salvador dos Campos dos Goytacazes em 1 de janeiro de 1653. É bom lembrar que nestes tempos coloniais e também durante o Império, a vila constituía o centro de um município que hoje chamamos de cidade. Quando era criada a vila esta era dotada de uma câmara de vereadores cujas funções eram bastante extensas e administravam o município. Criada a vila constituía-se o município. Com a criação da vila nossa cidade tomou corpo, independência e poder e esta seria a data ideal para representar nossa cidade.
"Mediante aos fatos narrados, entendemos que a data de 1653, que tem o reconhecimento dos memorialistas e historiadores, possui o registro documental e reflete a resiliência do povo campista de ser protagonista do seu destino é o marco de nascimento de Campos"
Além disso, fato crucial a ser destacado é que apesar do pioneirismo da mesma, uma vez que é um dos raros casos ocorridos durante o período colonial em que a vila fora estabelecida a partir do povo – e não pelos donatários -, aquela Câmara havia sido legitimamente empossada, contando com carta de usança expedida pelo Ouvidor Geral do Rio de Janeiro, autoridade competente para tal. A criação da vila nos Campos dos Goytacazes não foi uma tarefa fácil. O movimento sofreu pressão dos poderosos proprietários desta planície que moravam no Rio de Janeiro e por isto foi considerado revolucionário. No Brasil apenas três lugares tiveram a criação de suas vilas de forma revolucionária: Campos dos Goytacazes, Parati e Pindamonhangaba. Por isso mesmo, diversas interrupções caracterizaram este rico processo de instalação municipal num processo marcado por perdas e ganhos, avanços e recuos. Criava-se a vila vinha uma interrupção. Instalava-se outra e seguia-se nova interrupção e assim por diante Esta realidade explica porque temos várias datas significativas da instalação da vila em Campos dos Goytacazes como: 1673, 1676, 1677 e assim por diante durante o século XVIII.
Edmundo Siqueira - Qual a importância dessa discussão para a cidade?
Quando Genilson Soares assumiu a presidência do Instituto Histórico e Geográfico de Campos em novembro de 2018, um dos assuntos recorrentes na Instituição sempre foi sobre a origem do povoamento da Cidade. Existe uma unanimidade entre os sócios do IHGCG, que a data comemorativa de 28 de março de 1835, quando da elevação da Vila a condição de Cidade, não reflete a nossa tradição histórica. Em sintonia com essa demanda, foi realizada em 26 de abril de 2019 no Museu Histórico a mesa redonda intitulada “Quanto anos tem nossa Cidade?” Na ocasião foram nossos convidados o major Oswaldo Almeida, o jornalista Avelino Ferreira e o museólogo Carlos Freitas. Em agosto do mesmo ano e de acordo com o Termo de Cooperação Técnica que o IHGCG tinha com a Câmara Municipal, recebemos a solicitação do então presidente Fred Machado, para que déssemos um parecer sobre o assunto. Nosso entendimento foi que mediante as diversas datas históricas, a forma mais democrática seria uma votação entre os confrades. E assim, realizamos a eleição em 28 de novembro do mesmo ano nas dependências da Emugle. A data escolhida pela maioria foi a de 1º de janeiro de 1653, tendo como justificativa o documento da Ata da Instalação da 1ª Câmara que se encontra sobre a guarda do Arquivo Público Municipal Waldir Pinto de Carvalho. O resultado da consulta foi comunicado a Câmara por meio do ofício nº 15 de 17 de dezembro de 2019.
A relevância desse democrático debate que hoje se realiza em nossa Casa de Leis, se dá primeiro pela possibilidade de elegermos uma data que seja mais expressiva que 28 de março de 1835 e que reflita a grande da trajetória do povo campista. Depois vem o reavivamento da nossa história, com a proposta de se levar de forma pedagógica, esse material para as escolas. É preciso que destaquemos aqui também que a defesa da data de 01 de janeiro de 1653, além de respeitar o que foi votado no próprio Instituto Histórico e Geográfico, confere grande destaque à iniciativa demonstrativa do caráter decidido e forte do povo campista que apesar da pressão sofrida não esmoreceu e levou a frente seus objetivos.
"A relevância desse democrático debate que hoje se realiza em nossa Casa de Leis, se dá primeiro pela possibilidade de elegermos uma data que seja mais expressiva que 28 de março de 1835 e que reflita a grande da trajetória do povo campista. Depois vem o reavivamento da nossa história, com a proposta de se levar de forma pedagógica, esse material para as escolas".
Além disso, fato crucial a ser destacado é que apesar do pioneirismo da mesma, uma vez que é um dos raros casos ocorridos durante o período colonial em que a vila fora estabelecida a partir do povo – e não pelos donatários -, aquela Câmara havia sido legitimamente empossada, contando com carta de usança expedida pelo Ouvidor Geral do Rio de Janeiro, autoridade competente para tal. A criação da vila nos Campos dos Goytacazes não foi uma tarefa fácil. O movimento sofreu pressão dos poderosos proprietários desta planície que moravam no Rio de Janeiro e por isto foi considerado revolucionário. No Brasil apenas três lugares tiveram a criação de suas vilas de forma revolucionária: Campos dos Goytacazes, Parati e Pindamonhangaba.
Por isso mesmo, diversas interrupções caracterizaram este rico processo de instalação municipal num processo marcado por perdas e ganhos, avanços e recuos. Criava-se a vila vinha uma interrupção. Instalava-se outra e seguia-se nova interrupção e assim por diante Esta realidade explica porque temos várias datas significativas da instalação da vila em Campos dos Goytacazes como: 1673, 1676, 1677 e assim por diante durante o século XVIII.
Assim, considerando o pioneirismo e a legitimidade da primeira vila criada em 1º de janeiro de 1653, reconhecemos aqui a importância dos primeiros vereadores, homens que buscaram fugir à tirania e usurpação de poderosos como Salvador Correia de Sá. A eles - Manoel Ribeiro Caldeira, Alvaro Lopes Vidal, João Gonçalvez Romeiro, Joan Davide Dalvarenga, Miguel Gonçalvez, Diogo Martinz, Manoel Soares da Costa e Adriano Daguiar Tavares, devemos a resiliência do povo campista de ser protagonista do seu destino.
Edmundo Siqueira - As discussões até aqui originaram quatro teses. Além da sua, existe outra corrente que você perceba mais coerência histórica ou social?
Se não tivéssemos a instalação da 1ª Câmara, ocorrido 24 anos antes, entendemos que a data do Auto da Posse da “Villa de Sam Salvador de Campos” em 29 de maio de 1677, seria a mais coerente, apesar de não termos conhecimento de nenhum documento que registre tal fato. É importante destacar também a fixação dos primeiros currais a partir da Baixada Campista a partir dos anos 30 do século XVII, bem como atentar para o pioneirismo da ocupação da capitania de São Tomé, por parte do fidalgo Pero de Góes, datas que ainda não foram mencionadas e que igualmente guardam grande importância.
É importante destacar também que vivenciando um movimento muito especial, no qual pretendemos a partir de uma análise da nossa História eleger uma data comemorativa cujo significado maior seja a origem de nosso município. O objetivo é determinar qual fato com sua respectiva data seria o mais significativo para marcar a fundação do município de Campos dos Goytacazes e, para isso, devemos pensar o que realmente queremos comemorar, pois são vários os aspectos que poderíamos abordar: queremos valorizar o início da colonização? Pretendemos focalizar os movimentos de povoamento? Temos interesse em analisar o papel da Igreja Católica na região através da criação de capelas e/ou freguesias? Ou o objetivo é detectar como se deu a construção deste município, sua autonomia política e organização administrativa?
"Se não tivéssemos a instalação da 1ª Câmara, ocorrido 24 anos antes, entendemos que a data do Auto da Posse da “Villa de Sam Salvador de Campos” em 29 de maio de 1677, seria a mais coerente, apesar de não termos conhecimento de nenhum documento que registre tal fato"
Nesse sentido, este grupo aqui representado pelo presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Campos, Genilson Soares, pela professora e pesquisadora Neila Ferraz e pela coordenadora do Arquivo Público Waldir Pinto de Carvalho, defende que a data de 1 de janeiro de 1653 - a criação da primeira vila de São Salvador de Campos dos Goytacazes com a instalação da Câmara Municipal, é a que melhor representa as origens da nossa organização político-administrativa.
 
 
 
 
 
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Entre erros e acertos, uma semana da política real em Campos
30/05/2021 | 08h51
Servidores protestam em frente ao Legislativo campista, durante semana tumultuada.
Servidores protestam em frente ao Legislativo campista, durante semana tumultuada. / Folha1
Foi uma semana tumultuada. Para quem acompanhou a semana das movimentações políticas em Campos sabe que o adjetivo usado não despretensioso. O prefeito Wladimir Garotinho divulgou um vídeo em sua rede social — após aprovação de 12 dos 13 projetos que enviou ao legislativo — dizendo que existia na Câmara “um grupinho que só quer tumultuar”. Porém, há de se reconhecer que 13 projetos complexos enviados depois do meio-dia, para serem votados poucas horas depois, por 25 vereadores que não os conheciam, causam tumulto mesmo.
Tumulto que custou ao governo ao menos sete vereadores de sua base governista e uma exoneração no secretariado. Embora o presidente do Legislativo, Fábio Ribeiro, tenha feito mea-culpa sobre o prazo curtíssimo para que os vereadores apreciassem os projetos, o governo parece ter decidido assim fazê-lo numa tentativa de depurar seu apoio na Casa e fazer um teste para a votação das contas da ex-prefeita Rosinha Garotinho. Se por estratégia ou por atabalhoamento, é preciso admitir que houve erro e também que não atentou-se que entraria em jogo a realpolitik (veja um excelente resumo aqui, no Blog de Aluysio Abreu Barbosa).
A maioria dos projetos — chamados de austeros pelo governo — afetavam servidores e questões tributárias do município. Muitos vereadores perceberam rapidamente que suas bases eleitorais seriam atingidas e passaram a criticar o que passou a se chamar “pacotão de maldades”. ‘Pacotão’ que passou a se tornar público com o excelente trabalho jornalístico de Arnaldo Neto (veja aqui). Embora para o governo tenha passado a ser um tumulto só, imprensa e poder legislativo estiveram em suas posições obrigatórias em uma democracia: fiscalização, dando transparência aos processos políticos e trazendo para as discussões a sociedade civil organizada.
A semana tencionou a Câmara de Vereadores e um grupo que se autodenominou independente foi formado, com destaque para Helinho Nahim e Rogério Matoso. Três vereadores engrossariam o coro da oposição aos projetos, caso acatassem a ordem do partido (PDT), dada em comunicado oficial pelo ex-candidato a prefeito de Campos e dirigente partidário, Caio Vianna. Caso Fábio Ribeiro perguntasse na sessão, aos pedetistas, o que decidiram após a manifestação de Caio, eles poderiam responder: “foi solenemente ignorado, vossa excelência”.
Audiência Pública discute a carga tributária do município.
Audiência Pública discute a carga tributária do município. / Folha1
Tencionado o legislativo campista poderia ter tido mais altivez e em plenário, com o regimento debaixo do braço, ter solicitado que os projetos tivessem sua votação adiada, após apreciação no tempo possível. Fábio Ribeiro, a despeito de ter perdido vereadores da base, demonstrou mais uma vez que tem controle da Casa, aprovando, na correia, os projetos. Dentre eles o importante Plano Municipal de Cultura, mesmo tendo sido feito sem Audiência Pública e discussão na Comissão correlata, mas com primordial trabalho do vereador Fred Machado.
Tumultuada ou não, semana deixa várias lições. Que a passada ensine as próximas.
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Plano de Cultura é aprovado sem discussão prévia na Câmara e sem Audiência Pública
26/05/2021 | 09h20
Folha1
O Projeto de Lei nº 101/2021, que instituiu o Plano Municipal de Cultura de Campos foi aprovado, por ampla maioria dos Vereadores, na madrugada desta quarta (26). O Plano estava entre os 13 projetos que foram submetidos à Câmara pelo Executivo (confira aqui), e tramitaram em regime de urgência. Apesar da aprovação do Plano ter sido um avanço ao setor cultural da cidade — e ter sido construído coletivamente, inclusive com consulta pública realizada pelo Conselho de Cultura (Comcultura) —, sua aprovação, nos moldes que foi realizada, sem as discussões legislativas necessárias e sem Audiência Pública, enfraquece tanto o importante papel da Câmara na luta cultural, quanto o próprio Plano Municipal de Cultura.
Contando com dez ações prioritárias para a Cultura de Campos — que foram amplamente discutidas e finalizadas no final do ano passado — o Plano foi encaminhado à Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima (FCJOL) no fim de 2020 e aprovado pelo então prefeito Rafael Diniz, que por sua vez encaminha à Câmara ainda naquele ano, já no fim do seu mandato. Na Câmara, Fred Machado, então presidente da Casa, decide votar o Projeto de Lei na próxima legislatura, justamente por não ter tido tempo hábil para discutir com mais profundidade. Fred consultou, pessoalmente, diversas pessoas da cultura campista.
Disse à época, a este blog, Fred Machado (leia aqui):
— Não haveria tempo para finalizar todos os pré-requisitos necessários para aprovação da lei. Chegou com prazo muito apertado, estamos votando a lei orçamentária e as contas do prefeito. Seria preciso uma audiência pública, passar pelas comissões, dialogar com todos os vereadores. Para fazer o trabalho como deve ser feito, deverá ser apreciado na próxima legislatura. O Plano não é pequeno, devemos ter uma discussão ampla.
O Plano na legislatura atual - Aprovado sem discussão prévia 
O Plano de Cultura acabou sendo aprovado sem discussões amplas na Câmara. Embora estivessem dispensados o parecer da Comissão de Educação e Cultura e a realização de Audiência Pública, pela tramitação em regime de urgência, seria necessário que a Câmara permitisse que a sociedade civil participasse da construção, e principalmente tomar conhecimento de seu teor e importância. O vereador Helinho Nahim afirmou na sessão de ontem que “em momento algum foi procurado por alguém do governo para falar desse projeto (Plano Municipal de Cultura)” e se declarou com um dos parlamentares mais preocupados com a cultura. Disse ainda que o texto não passou pela Comissão de Educação e Cultura, que ele faz parte.
Marcelo Sampaio, ex-presidente do Comcultura, ainda conselheiro, e um dos principais idealizadores do Plano, falou ao blog sobre a aprovação na Câmara:
— Apesar da apro
vação deste plano ser um desejo dos agentes culturais de Campos que data do século passado, na minha opinião aconteceu com alguns atropelos. Não foi interessante ele integrar o que está sendo chamado “pacote de maldades” do Executivo enviado ao Legislativo e menos ainda de não ter acontecido uma audiência pública antes da sua aprovação! — Comenta Marcelo. 
O fato é que uma audiência pública não poderia ser dispensada sobre um assunto de grande relevância e que determina as ações de Políticas Públicas culturais para os próximos 10 anos. Era preciso aprimorar o texto e abrir a discussão. O Plano Municipal de Cultura é um instrumento de gestão de um Sistema Municipal de Cultura, que possui rito e estrutura definidos e que deve conter: Plano Municipal de Cultura, Sistema Municipal de Financiamento à Cultura, Sistema Municipal de Informações e Indicadores Culturais, Programa Municipal de Formação na Área da Cultura, Sistema Municipal de Patrimônio Cultural, Sistema Municipal de Museus, Sistema Municipal de Bibliotecas, Livro, Leitura e Literatura.
Auxiliadora Freitas, presidente da FCJOL, comentou sobre o assunto. Disse ao blog que "também estranhou" a forma que foi encaminhada.  "Enquanto ex-vereadora, entendo que o procedimento é de ter sido feita audiência pública antes de ser levada ao plenário. Mas talvez por ter sido um plano discutido junto ao segmento da cultura, pelo Comcultura com representação da sociedade civil e poder público, assim com o olhar e a fala de todos, tenha sido entendido pela nossa mesa diretora da Câmara que o Plano Municipal de Cultura foi construído e contemplado democraticamente".
Apesar do trâmite ter causado estranheza e que "só a câmara pode responder a essa questão", Auxiliadora disse estar satisfeita com a aprovação do plano e que "finalmente, temos o CPF da cultura em Campos dos Goytacazes: Conselho, Plano e Fundo". E que o desafio agora é implantar o Plano. "Nossa motivação é grande porque não somos um município qualquer em história e cultura. Somos Campos dos Goytacazes". 
Sistema Municipal de Cultura - Outra etapa 
Apesar de ter sido aprovado sem discussão e sem Audiência Pública, creio que podemos fazer do "limão uma limonada" e o setor cultural pode construir, a partir da aprovação do Plano, o Sistema Municipal de Cultura, que precisaria muito da participação ativa da Câmara. E de vereadores informados e cientes da sua importância, principalmente em uma cidade como Campos, que possui relevância nacional.
 
 
 
 
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Sobre o autor

Edmundo Siqueira

edmundosiqueira@hotmail.com