Um Pedaço da Guerra Aqui & Agora
02/05/2022 | 05h39
BNB REGISTRO
Dariany Silgom
Ela é vizinha do local onde ocorreu o sinistro, de sábado para domingo recentes. Jornalista, mesmo não atuando no momento, foi a primeira a publicar no seu Instagram. A convite do BNB, descreve a sensação de guerra que viveu:
Fogo e destruição na madrugada itaperunense
por DARIANY SILGOM
 Eram poucos minutos depois das três da manhã e um estrondo assustador, sacudiu as portas e janelas das casas, quebrando o silêncio da madrugada de domingo (01/05/22) acordando todos os moradores do bairro Aeroporto, em Itaperuna.
O barulho da explosão foi tão grande que me tirou da cama em um salto desnorteado, demorando alguns segundos para que eu entendesse que aquilo não se tratava de um pesadelo.
Coração acelerado, pulsando na garganta, corpo trêmulo. Era preciso entender de onde veio aquele barulho atemorizante e antes que eu pudesse descobrir sua origem, outro estrondo! O segundo de uma série de explosões que se seguiram.
Na porta da frente, a pouco menos de 100 metros de distância, um clarão rasgava o céu daquela madrugada. Chamas incandescentes ultrapassavam o teto das residências vizinhas. Uma nuvem de fumaça densa acima do fogaréu já demonstrava que se tratava de um incêndio de grandes proporções.
Vizinhos atordoados tanto quanto eu, procuravam entender aquele cenário caótico que por alguns minutos nos conectou com as imagens que temos visto diariamente nos telejornais sobre a guerra na Ucrânia. Enquanto preparava minha câmera para registrar o momento, movimento inevitável do instinto jornalístico, lembro de pensar: então é assim que as pessoas se sentem após serem surpreendidas pela explosão de um bombardeio?
Sério: parecia um cenário de guerra.
Enquanto o clarão da madrugada ardia, uma mistura de taquicardia, medo e instinto de sobrevivência pulsante me consumia. Me fazia calcular mentalmente o que fazer se o fogo se espalhasse rápido demais aproximando as chamas de forma perigosa da minha residência.
E não é exagero! Quem viu as chamas e ouviu os estrondos, não subestimou nem por um segundo a capacidade de destruição do incêndio.
O primeiro alívio veio com o ecoar das sirenes dos carros dos bombeiros. Chegaram rápido. Dois caminhões pipas subiram em direção ao local e à essa altura já sabíamos que se tratava de veículos da única empresa de ônibus da cidade que estavam sendo totalmente consumidos pelo fogo.
Muito combustível envolvido o que explicava a explosão e aumentava a apreensão.
O segundo alívio veio depois que os sempre admiráveis militares do 21º Grupamento de Bombeiros controlaram a situação e tudo que se via era fumaça, muita fumaça. O incêndio terminou deixando um rastro de poeira escura nas varandas.
O dia começava bem lentamente a amanhecer no horizonte.
Foi difícil pegar no sono imaginando o quanto ficamos vulneráveis naqueles intermináveis minutos em que medo e incertezas tomaram conta dos moradores do bairro.
Ninguém se feriu gravemente e isso foi o saldo positivo da noite. O saldo negativo foi o prejuízo material de 8 coletivos queimados, parcial ou totalmente.
Antes de dormir, ainda com as imagens e os sons bem nítidos na memória, fiz uma prece pelos ucranianos. Sei que não se compara, mas me imaginei todos os dias há quase 70 dias, acordando ou infelizmente não acordando mais com os barulhos das explosões atordoando vidas, com as chamas consumindo sonhos e destruindo esperanças.
Tive uma mínima amostra grátis disto e já foi traumatizante.
Syla ukrayinskyy narod! = Força Povo Ucraniano!
E por aqui, força para quem retorna a rotina de trabalho e estudos dependendo do transporte público.
 
 
 
 
 
 
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Sobre o autor

Nino Bellieny

ninobellieny@gmail.com