Proibição de carretas colide no debate político em Campos
Hevertton Luna 07/06/2025 08:21 - Atualizado em 07/06/2025 08:30
Carreta na Avenida Arthur Bernardes nesta sexta-feira (6)
Carreta na Avenida Arthur Bernardes nesta sexta-feira (6) / Rodrigo Silveira
A novela sobre o trânsito de carretas em Campos se arrasta desde 2023 e envolve a Prefeitura e o Departamento de Estradas de Rodagem do Estado do Rio de Janeiro (DER-RJ). O que seria apenas uma questão de mobilidade urbana se transformou em disputa política, dando novos contornos ao impasse. O tráfego dos véiculos na cidade foi retomado através de uma decisão judicial.
A situação chegou até a Câmara de Vereadores de Campos. No dia 20 de maio, parlamentares da base governista, como Diego Dias (PDT), Juninho Virgílio (Podemos) e Nildo Cardoso (PL), debateram os impactos do tráfego pesado na cidade.
Diego Dias citou a obra da Estrada dos Ceramistas para defender a intervenção da Prefeitura. “Tendo em vista, a obra interminável da Ceramistas, se faz necessário que novamente seja interrompido, principalmente pelo risco que vem sendo gerado à população e à degradação da estrutura das ruas, que não foram preparadas e prontas para receber esses veículos”, falou o vereador
Juninho Virgílio (Podemos), líder do governo na Câmara, sugeriu a implantação do sistema ‘Pare e siga’, para utilizar a Estrada dos Ceramistas enquanto as obras não são concretizadas. “Qualquer via, qualquer estrada, quando tem manutenção na BR 101, a empresa detentora da concessão usa o ‘Pare e siga’. Porque está trazendo um transtorno gigantesco e o risco para dentro da nossa cidade”, disse Virgílio.
Nildo Cardoso (PL) também destacou que a estrutura das vias urbanas não suporta as carretas.
“A avenida não foi construída para isso. Não é uma RJ, uma BR 101, que já é estruturada para receber carretas de 45 e 50 toneladas. E estou falando de centenas de carretas, não é de uma.”, afirmou.
Durante outra sessão, no dia 4 de junho, os parlamentares Juninho Virgílio (Podemos) e Marquinho Bacellar (União), líderes da base e da oposição, respectivamente, discutiram o impasse.
Na discussão entre os parlamentares, acusações mútuas de que a proibição e a demora na obra da Estrada dos Ceramistas tenham intenções eleitorais. O presidente da Alerj, Rodrigo Bacellar (União), também foi citado. Vereadores da base cobram dele ajuda nas demandas do município, como a obra na Ceramistas, responsabilidade do DER-RJ.
O vereador Marquinho Bacellar criticou a proibição e o prefeito Wladimir Garotinho, que segundo ele estaria tentando pressionar o governo do Estado. Ele também afirmou que a atitude está prejudicando os caminhoneiros e disse que a Ceramistas tem previsão de entrega para o final de junho.
“Essa atitude de fechar a cidade é imatura e irresponsável, que vai dar problema sério. Quando eu estava na presidência (da Câmara), ele tentou botar uma pressão na LOA (em 2023). Não pego a pressão dele. Aí ele acha que essa pressão que ele está fazendo vai pegar no Estado, de fechar a cidade “, disse Marquinho.
Juninho Virgílio, usou o mesmo argumento, mas segundo ele o pressionado seria o prefeito de Campos. Ele citou a demora na entrega das obras da Estrada dos Ceramistas.
“Falei aqui várias vezes, vamos esperar a eleição, que é ano que vem. Mas o que está parecendo é que estão usando a máquina do Estado para fazer já uma campanha antecipada com a intenção de sangrar o prefeito”, falou Juninho.
Até o fim da obra da Estrada dos Ceramistas não sabemos mais quantos capítulos terão, mas que o pleito de 2026 está impactando o a rotina dos moradores de Campos e região e os usuários das rodovias está claro.
Entre idas e vindas, a questão foi para justiça
Para entender o cenário, é preciso voltar a novembro de 2023, quando a Estrada dos Ceramistas (RJ-238) foi interditada para obras de recuperação estrutural, com previsão de conclusão em 240 dias (oito meses).
Em agosto, após um acidente fatal na Avenida Arthur Bernardes, o prefeito Wladimir Garotinho anunciou nas redes sociais a intenção de bloquear a circulação de carretas na cidade, alegando falta de informações por parte do DER-RJ e o aumento no número de acidentes.
Já em novembro de 2024, após cobranças da Prefeitura, o DER-RJ se comprometeu a realizar a manutenção das vias que receberiam o desvio. Com isso, o tráfego de carretas foi temporariamente liberado.
Em março deste ano, a Prefeitura anunciou uma nova proibição.
Em maio, a Prefeitura determinou nova proibição ao tráfego de carretas devido ao não cumprimento, por parte do DER-RJ, do acordo de recapeamento das vias afetadas.
Já em junho, a Prefeitura publicou novo decreto proibindo o tráfego de carretas pesadas no perímetro urbano. Wladimir voltou às redes sociais para cobrar providências do DER-RJ.
No mesmo dia, a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), por meio da Gerência de Infraestrutura, se reuniu com o DER-RJ para tratar dos impactos da interdição na logística regional e na atividade industrial do Norte Fluminense.
Ainda na noite de quarta-feira, a juíza Helenice Rangel Gonzaga, da 3ª Vara Cível de Campos, autorizou, por meio de decisão judicial, a circulação de caminhões no perímetro urbano campista.
Na quinta-feira (5), IMTT e DER-RJ realizaram nova reunião, na sede do órgão em Campos, para definir uma nova portaria que atenda à decisão judicial. Também foi discutido um novo plano de circulação com regras, trajetos e horários para veículos de grande porte.
Caminhoneiros e moradores se revoltam
A situação com o passar do tempo foi ganhando as ruas, seja pela liberação ou proibição do trânsito das carretas na cidade.
No dia 28 de maio, moradores da Chatuba, no Parque Aurora, bloquearam a Avenida José Alves de Azevedo (Beira-Valão) em protesto contra o fluxo intenso de caminhões, desviado pela obra paralisada na Estrada dos Ceramistas.
Segundo os moradores, a avenida não possui estrutura para suportar o tráfego intenso de veículos de grande porte, o que tem gerado danos ao asfalto, rachaduras em residências e risco de acidentes.
A aposentada Maria da Penha, de 66 anos, moradora da região há 28 anos, disse que a situação se tornou insustentável. “As coisas caem dentro de casa, e a gente não consegue dormir. De madrugada, os caminhões passam buzinando e não deixam ninguém descansar”, relatou a moradora.
Maria também afirmou que os moradores já acionaram as autoridades, mas sem retorno. Por isso, decidiram protestar e atear fogo em objetos na via, na tentativa de chamar a atenção do poder público. “A gente está perdendo pessoas, amigos, gente atropelada. Do jeito que está, não dá para continuar”, finalizou.
Segundo ela, já foram registrados acidentes com veículos caindo dentro do valão por falta de espaço e estrutura adequada. “Lá na frente a rua é mais estreita, e como não tem ciclovia nem acostamento, os motoristas são obrigados a se jogar para dentro do valão”, disse.
No dia 4 de junho, os caminhoneiros protestaram contra a proibição. Pediram a liberação da Avenida Arthur Bernardes.
Os manifestantes exibiram faixas como: “Somos de Campos, queremos nossos direitos”, “Transporte autônomo de Campos e região” e “Arthur Bernardes foi construída para aliviar o fluxo pesado do centro da cidade”.

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