Tito Inojosa: "Apoio ao veto vai cair na conta da esquerda"
Aluysio Abreu Barbosa, Cláudio Nogueira, Gabriel Torres e Hevertton Luna 27/08/2025 07:45 - Atualizado em 27/08/2025 13:38
Tito Inosoja
Tito Inosoja / Folha da Manhã
“Isso (o veto) vai cair na conta, com certeza. Os políticos vão usar isso contra a esquerda na nossa região”. Foi o que disse o produtor rural e presidente da Associação Fluminense dos Plantadores de Cana (Asflucan), Tito Inojosa, entrevistado desta terça-feira (26) no programa Folha no Ar, da rádio Folha FM 98,3. Ele comentou a articulação pela derrubada do veto ao PL do semiárido, que altera a classificação climática do Norte e Noroeste, o preconceito da esquerda com o agronegócio e a necessidade subvenções para os produtores rurais.
Veto ao PL do semiárido – “Vejo como uma covardia com a nossa região, covardia muito grande. No ano passado, morreu mais de 15 mil cabeças de boi. Nós tivemos um prejuízo com a cana em torno de 600 mil toneladas. Um prejuízo muito grande, prejuízo muito grande. O PT daqui fica defendendo o Lula, mas a maioria dos petistas aqui são funcionários públicos com salário bom e tem garantia, todo mês está na conta. O produtor rural não, está de novo sofrendo esse ano com a seca.”

Apoio da esquerda ao veto – “A esquerda está no poder. Na nossa região, eu acho que eles vão sair muito enfraquecidos, mais do que já era. A região nossa é muito da direita. Então é um negócio preocupante, isso vai cair na conta, com certeza. Os políticos vão usar isso contra a esquerda na nossa região. Eu fico triste com isso. Em vez de a gente brigar pelas coisas econômicas primeiro, o Nordeste faz isso. Primeiro, ele faz a defesa econômica dele, depois ele sai na bordoada lá, resolve, sentam todo mundo, todos os partidos. É impressionante, quando vai alguma coisa do Nordeste, vão todos os partidos, todos os políticos pra Brasília.”

Interesse da região - “O interesse da região tem que estar acima de qualquer interesse político. É por isso que essa região nossa não se desenvolve mais. Além de ter rasgado o dinheiro do petróleo dos royaltie. Qual indústria que trouxeram, o que trouxeram pra cá? Pouca coisa.”

Briga política – “Nós temos que acabar com essa briga política e enxergar o desenvolvimento da nossa região. Seja de que partido que for. Na outra subvenção que saiu, esse deputado federal Chico D’Ângelo ajudou muito a gente. Ele é petista, não tem nada a ver. Nós temos que olhar o desenvolvimento econômico à frente de qualquer partido político.”

O veto para os produtores – “Uma decepção muito grande. É uma coisa que o pessoal, todos os produtores já estavam animados, já estavam comemorando, aí o VAR foi lá e anulou o gol. Muito triste a sensação. É muito difícil a gente conseguir sobreviver aqui se não houver alguma coisa urgente na nossa região.”

Derrubada do veto – “Acho que a articulação política, que já está havendo, é para tentar derrubar o veto no Senado. O caminho não tem outro, agora é um caminho demorado. Você vê quanto tempo, tem seis anos que Wladimir fez a lei, até chegar onde chegou. Não sei se leva mais um, mais dois, mais três, ninguém pode garantir isso. Ainda mais num ano que nós estamos perto de um ano político, ninguém sabe quem são os senadores que vão continuar.”

Subvenção aos produtores – “A Feplana (Federação dos Plantadores de Cana) está entrando em Pernambuco, com essa perda do tarifaço, nas comissões da Câmara dos Deputados com pedido de subvenção pra cana-de-açúcar no Nordeste de 12 reais por tonelada de cana. Eu já me acertei com Alexandre (Andrade Lima, vice-presidente da Feplana) da outra vez, foi assim, que quando chegar para o relator, nós vamos precisar que a bancada do Rio de Janeiro peça pra incluir o Rio de Janeiro nessa subvenção de 12 reais por tonelada de cana. Isso daria um alívio muito grande nos nossos produtores.”

Interior abandonado – “A gente vive abandonado no interior. Infelizmente, com o governador do interior do Estado, com o presidente da Alerj do interior do Estado, vários deputados. A gente vive abandonado aqui, infelizmente.”

Estiagem na região – “Nós estamos praticamente desde meados de maio sem chuva e não tem previsão quase de chuva pra setembro. Não sei como é que vai ser outubro, ano passado foi chover em novembro praticamente. Então, isso é um problema muito sério.”

Mudança para semiárido – “Garantia-safra, você teria garantia contra enchente e contra seca. Porque na nossa região tem ano que você perde um período por enchente e outro período por seca. Porque pega a chuva do ano e chove em três, quatro meses. É isso que inunda a cidade também. Às vezes num dia a chuva que era pra chover num mês. E a questão dos juros, hoje ninguém aguenta pagar a Selic aí a 15, 16% ao ano.”

Região pede socorro – “Tem que haver, de alguma forma, um socorro ao Norte e Noroeste Fluminense. Mas tem que ser um socorro urgente pra poder tentar salvar aí do que resta. Como nós falamos, Campos foi a cidade do “já foi”. Campos não, o Norte e Noroeste Fluminense já foi. Tivemos um monte de indústria em outros municípios, inclusive usina em Quissamã, Carapebus, Conceição, Italva, fora do município de Campos.”

SOS Norte e Noroeste – “Precisamos de um socorro, tem que ser um SOS Norte e Noroeste Fluminense. Urgente que os nossos políticos trabalhem pra isso. Lembrem que o agro existe. Tem que lembrar que o agro existe.”

Competitividade da região – “Hoje é muito difícil você competir com São Paulo, com o Espírito Santo. Enquanto São Paulo tem 80 toneladas de cana por hectare, a nossa com essa seca esse ano não chega a 50. O nosso custo de produção é 20% mais alto que São Paulo, em função da diferença de ICMS.”

Falta de perspectivas – “É muito fácil trabalhar lá (Espírito Santo), difícil é trabalhar aqui. Além das outras dificuldades, que são problemas de canais, de estrada, de esgoto nos canais. Os problemas na nossa região são muito grandes e você não vê uma luz, não vê aparecer alguma coisa.”

Indústrias deixaram a cidade – “Um monte de indústria que foi para a Codin e foi embora. Só ficou aqui a Purac. Inclusive que teve o investimento do Fundecam. Houve um investimento no aumento da Purac. É uma empresa grande, consegue comprar açúcar em São Paulo mais barato do que aqui, por incrível que pareça. Então, a concorrência é muito grande.”

Diversificar a produção - “Área tem para eucalipto, temos pra fazer fruticultura, temos pra plantar café, essas áreas mais altas que tem condição de irrigar. Café está com preço espetacular. Eu não sou contra essa mudança, de fazer mais cultura na nossa região. Agora nós precisamos de assistência técnica para acontecer isso e ter incentivo, porque não vem indústria nenhuma para cá se não tiver incentivo.”

União das regiões – “A sociedade do Norte e Noroeste Fluminense tem que se juntar pra brigar pelos interesses dela e votar em candidatos que possam defender ela. Hoje nós temos o quê? Um milhão e trezentos, um milhão e quatrocentos mil moradores no Norte-Norte Fluminense? Se tiver isso, com certeza, cinquenta ou sessenta por cento vive do campo. Ele pode até morar na cidade, mas ele vive do campo.”

“Tivemos agricultor chorando” – “É uma covardia muito grande. No ano passado, nós vimos o produtor chorando. Não me lembro se foi Italva, qual foi o município, porque ele perdeu o gado dele todo. Ele tinha 15 ou 20 cabeças de boi, que ele tirava o leitinho, fazia o queijo. Perdeu tudo, ele chorando. E não sei depois se ele não vai conseguir comprar esse gado de novo. É muito grave.”

Limpeza de canais – “Nós limpamos mais de 450 quilômetros de canais com a máquina da Asflucan com a parceria com a Prefeitura. Fora intervenções em pontes, intervenções de mato no terminal pesqueiro, intervenção no Durinho da Valeta, lá nas Comportas. Porque aquilo leva o controle. Se você não azeitar as comportas lá, você bota a cidade embaixo d’água. Lá é onde sai toda a água da Lagoa Feia.”

Quantidade de capivaras – “A quantidade de capivara nas estradas está um problema sério. Tão comendo cana, comendo lavoura de milho, comendo tudo. Já morreu gente de acidente ali na estrada de São Francisco, na estrada de Outeiro indo para Cardoso (Moreira), um cara acabou com a Hilux. A capivara dá duas crias por ano de quatro, cinco filhotes.”

Compensação do Porto do Açu – “Essa parte ambiental que o Porto paga, isso tem que reverter para a região. Na época do Minc, ele levou isso para fazer reflorestamento no sul fluminense, na Lagoa Rodrigo de Freitas, e por aí vai embora. Então é um problema muito sério, a falta de infraestrutura na nossa região.”

Setor sucroalcooleiro - “São Paulo, que é um estado monstro economicamente, eu comparo São Paulo como um outro país dentro do Brasil. Teria um volume de cana tão alto em terras nobres, caras, como Ribeirão Preto e outras regiões, terras mais caras do Brasil, estaria com cana-de-açúcar? Então, esse capim não deve ser tão ruim.”

Auge da cana-de-açúcar – “No auge, Campos gerava 60 mil empregos diretos. Essas palavras do presidente do sindicato dos trabalhadores na época. Nós tínhamos 11 milhões de toneladas de cana. Hoje, nós temos mais de 40 mil hectares na mão dos assentados que não conseguem produzir nada. Porque não tem assistência técnica, porque muitos deles não têm capacitação.”

Preconceito – “O que faz traz dólar para o Brasil é o agro. Então, acho que a gente tem que valorizar mais o agro. O agro sofre muito preconceito de ambientalistas, de um monte de pessoas que não conhecem. E a questão de aplicação de herbicidas, você sabia que o Japão é o país que usa mais herbicida no mundo? E é uma das populações mais velhas do mundo. Então, tudo é saber fazer bem feito.”

Bolsa família – “Tem o Bolsa Família e o cara não pode trabalhar com a carteira assinada. Está faltando mão de obra no país. Para o governo é muito bom que ele ia arrecadar mais os impostos. O cara ia ter o Bolsa Família dele, ia ter o salário dele, ia ter uma condição de vida muito melhor. Até hoje as entidades lá em Brasília estão tentando aprovar isso e não conseguem.”
 
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