O Porto do Açu
Evandro Barros 05/06/2025 20:04
O Porto do Açu: Impactos da Intervenção Estatal e o Futuro do Desenvolvimento no Brasil

A implantação do Porto do Açu, no município de São João da Barra (RJ), é um dos casos mais emblemáticos da relação entre desenvolvimento econômico, políticas públicas e impactos sociais no Brasil.

O projeto, que prometia modernização e crescimento regional, acabou se tornando um símbolo das contradições do modelo de intervenção estatal no país.

Neste artigo, vamos explorar os efeitos dessa iniciativa, utilizando análises críticas e referências teóricas para entender como grandes empreendimentos podem gerar exclusão social e aprofundar desigualdades.

O Porto do Açu: Promessas e Realidade

O Porto do Açu foi concebido como um dos maiores complexos portuários da América Latina, com o objetivo de impulsionar o desenvolvimento econômico e atrair investimentos para a região.

No entanto, a execução do projeto revelou um cenário controverso: a desapropriação de 90 km² de terras, das quais apenas 10% foram efetivamente utilizadas. Esse desequilíbrio impactou diretamente comunidades tradicionais que dependiam da terra para sua subsistência.

A promessa de geração de empregos e melhoria na infraestrutura local se desfez diante de uma realidade marcada por exclusão social, perda de meios de produção e a ausência de políticas públicas que compensassem os prejuízos causados às populações afetadas.

Interesses Econômicos e a Ação do Estado

No Brasil, o Estado frequentemente atua como agente de interesses patrimonialistas, favorecendo grupos econômicos em detrimento da população.

O caso do Porto do Açu exemplifica essa dinâmica: sob o pretexto do progresso, terras foram expropriadas, mas os benefícios do empreendimento não foram distribuídos de maneira equitativa.

Segundo André Lara Resende (2014), o Estado brasileiro, longe de ser um ente neutro, frequentemente opera em benefício de elites econômicas.

Essa realidade fica evidente na forma como as desapropriações foram conduzidas: sem um planejamento social adequado, a população local foi deslocada sem perspectivas de realocação digna.

Exclusão Social e a Globalização

O modelo de desenvolvimento baseado em grandes empreendimentos está alinhado a uma lógica global de concentração de riqueza.

Como aponta Saskia Sassen (2016), os processos de globalização frequentemente desestruturam economias locais, levando ao deslocamento de populações vulneráveis.

O Porto do Açu segue esse padrão: famílias que viviam há décadas na região perderam suas terras e seus modos de vida.

Atividades tradicionais, como a produção de leite, cultivo de abacaxi e pecuária, foram drasticamente reduzidas, resultando no empobrecimento da comunidade.

Impactos Econômicos e Ambientais

Além das consequências sociais, a construção do Porto do Açu trouxe impactos econômicos e ambientais significativos.

A lentidão judicial nos processos de desapropriação – que já se arrastam há mais de 14 anos – gerou incerteza para os moradores e investidores.

Ao mesmo tempo, a introdução de novas tecnologias no porto reduziu a necessidade de mão de obra, eliminando postos de trabalho que poderiam compensar os danos causados pela desapropriação.

A visão de desenvolvimento baseada apenas em infraestrutura e modernização tecnológica ignora a necessidade de sustentabilidade e inclusão social.

O economista David Harvey (2005) argumenta que esse modelo segue a lógica da “acumulação por espoliação”, onde recursos naturais e territórios são transferidos das populações locais para grandes corporações, ampliando desigualdades regionais.

O Papel do Estado e a Necessidade de Reformas

O caso do Porto do Açu reforça a necessidade de uma revisão nas políticas públicas voltadas ao desenvolvimento econômico.

Projetos dessa magnitude devem ser planejados considerando não apenas os interesses empresariais, mas também o impacto social e ambiental.

Para evitar que casos como esse se repitam, algumas medidas são essenciais:

•Reforma na Política de Desapropriações: Criar mecanismos que garantam indenizações justas e alternativas para as comunidades afetadas.

•Participação Popular: Incluir a população local nos processos decisórios, garantindo que suas necessidades sejam ouvidas.

•Sustentabilidade e Justiça Social: Implementar políticas que conciliem desenvolvimento econômico com preservação ambiental e inclusão social.

Conclusão

A intervenção estatal no caso do Porto do Açu evidencia os desafios de um modelo de desenvolvimento que privilegia grandes corporações em detrimento das comunidades locais.

Sem uma reformulação nas políticas públicas e na governança desses projetos, o Brasil continuará perpetuando um ciclo de exclusão e desigualdade.

O futuro do desenvolvimento sustentável exige que o Estado atue de forma transparente, priorizando o bem-estar social e garantindo que o crescimento econômico beneficie a todos – e não apenas uma minoria privilegiada.

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