Edgar Vianna de Andrade - Hitchcock anos 30
*Edgar Vianna de Andrade 21/05/2025 07:57 - Atualizado em 21/05/2025 07:57
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Com os seis principais filmes dirigidos por Hitchcock na década de 1930, creio ser possível perceber as tendências e as características do famoso autor inglês. Até 1939, ele dirigirá na Inglaterra. Daí em diante, será contratado pelos estúdios dos Estados Unidos, onde iniciará nova fase na sua vida de cineasta. No início, não esquecerá de sua terra natal, mas aos poucos entrará no espírito estadunidense até se naturalizar cidadão do seu novo país.

Os filmes escolhidos para a análise são “O homem que sabia demais” (1934), “Os 39 degraus” (1935), “Sabotagem” (1936), “Agente secreto” (1936), “A dama oculta” (1938) e “A estalagem maldita” (1939). Não tive acesso a “Ricos e estranhos” (1931).

Em todos eles, destaca-se o trabalho da câmara. “Sabotagem” começa com close numa lâmpada acesa. Logo depois, um investigador conclui que o apagão foi provocado por sabotagem. Trens em deslocamento, trilhos, rodas girando vertiginosamente são traços que vêm do cinema mudo. Perguntas são feitas na forma de dúvida e as respostas são dadas por imagens. Com elas, o espectador atento pode chegar a conclusões.

Nos filmes, há sempre um segredo. Se alguém sabe demais, as outras pessoas sabem de menos. Esse detalhe suscita a investigação, que busca saber quem sabe muito e o quê. Daí, a pessoa que detém um segredo. Este é um traço que se repete. Ele está presente em “Agente secreto”, em que um investigador mata um turista por engano e conta com ajuda de uma agente que se passa por sua esposa.

O segredo é a alma do negócio. Em “O homem que sabia demais”, um indivíduo assassinado diante de um casal. Antes de morrer, ele confia um segredo a eles e passa a ser perseguido. Peter Lorre faz o papel de vilão frio, charmoso e culto, roubando a cena no filme. Ele aparecerá também em “Agente secreto”.

Um segredo pode ser revelado de maneira insólita, como em “Os trinta e nove degraus”. Um homem inocente é considerado culpado e foge da polícia indo para a Escócia. O segredo acaba sendo revelado por um artista de teatro que tinha uma memória privilegiada. Respondia a qualquer pergunta sobre qualquer assunto. Ele informa o significado de 39 degraus, que nada tem a ver com escada.

Não sai se Hitchcock tinha medo de altura, mas ele provoca vertigem em seus filmes. Ele gosta de filmar locais altos de cima para baixo, trens correndo de forma desgovernada em direção a precipícios e causando vertigem no espectador. Tanto assim que um de seus mais famosos filmes tem como título “Vertigo”.

A leve infidelidade está presente em vários filmes seus. Não de forma explícita, mas sugerida. Trata-se de um traço que o acompanha desde o início da sua carreira, nos anos de 1920.

Hitchcock gosta de locações em montanhas com neve. Vários de seus filmes são em parte ambientados nos Alpes. As típicas senhoras inglesas estão presentes. Elas são gordas, vestem-se à moda tradicional, falam muito e são espirituosas. Uma delas, inclusive, é espiã. Ela é uma das três figuras centrais de “A dama oculta”, que também começa nas montanhas nevadas já durante o domínio nazista na Alemanha, antes da Segunda Guerra Mundial.

Ele encerra sua fase inglesa com “A estalagem maldita”, filme em que Maureen O’Hara. O filme aproxima bandidos pobres e perseguidos a um nobre inglês. Algo nada estranho nos dias de hoje. Em roteiros nem sempre muito claros, Hitchcock povoa-os de cães. Ele gostava deste animal doméstico tão próximo do ser humano.

E o senso de humor. Não para arrancar gargalhadas mas para provocar um leve sorriso.

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