Júlia Alves
11/12/2025 12:17 - Atualizado em 11/12/2025 12:16
HGG
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Divulgação
A Frente LGBTQIAPNB+ do Norte Fluminense divulgou uma nota nesta quinta-feira (11) para denunciar a falta de realização do exame de carga viral e CD4 para pessoas que vivem com o Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV), no Hospital Geral de Guarus (HGG), em Campos. De acordo com a nota do coletivo, a explicação é que há falta de insumos no hospital. Em nota, a prefeitura informou que o HGG está recebendo, nesta quinta, um novo estoque de tubos para atender aos pacientes que necessitam de exames laboratoriais de acompanhamento clínico.
O município esclareceu ainda que: "o problema pontual registrado está sendo solucionado. O HGG reitera que não houve desassistência em exames emergenciais." O hospital é referência para a realização desses exames, que são fundamentais para analisar a progressão da doença, indicar o início de terapia e determinar a eficácia dos anti-retrovirais. Ele mede ainda a quantidade de vírus no sangue e é usado para monitorar infecções virais.
Foto dos suprimentos para estoque de tubos para atender aos pacientes que necessitam de exames laboratoriais de acompanhamento clínico
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Divulgação Secom Campos
Na nota divulgada pelo coletivo, eles alertaram que a suspensão desses exames afeta diretamente milhares de pessoas que vivem com HIV no município e na região.
“A interrupção desses exames, fundamentais e obrigatórios para o acompanhamento clínico, configura uma grave violação do direito à saúde, colocando vidas em risco e expondo pacientes a falhas terapêuticas, adoecimento evitável e insegurança. A ausência do exame de carga viral e CD4 impede a avaliação adequada da resposta ao tratamento antirretroviral e representa, portanto, um retrocesso inaceitável na política pública de HIV/AIDS”, diz um trecho da nota.
Segundo o coletivo, a situação se torna “ainda mais indignante” por acontecer justamente no mês de dezembro, período da campanha nacional de conscientização, prevenção, cuidado e compromisso com a resposta ao HIV/AIDS.
“Em vez de fortalecermos o SUS e ampliarmos o acesso a exames e tratamentos dignos, assistimos novamente a um episódio de negligência institucional, repetindo um histórico de descontinuidade, falta de planejamento e descaso com a população que mais necessita de estabilidade no cuidado”, reforça outro trecho da nota.
Em abril deste ano, a frente havia feito outra denúncia sobre a falta de realização do exame relacionada a falta de tubos específicos para a coleta do exame no hospital. A situação perdurava há um mês.
O psicólogo Salvador Corrêa, de 41 anos, vive com HIV há 14 anos, e também é um dos representantes da frente. Ele relata que entraram em contato com o hospital e com os órgãos da saúde para pedir esclarecimento.
“Ontem eu tive essa informação, junto com o pessoal, tanto pacientes como também profissionais da saúde que informaram que não estavam conseguindo fazer esse monitoramento. Não sei dizer desde quando, mas nesse momento não está sendo realizado, inclusive prejudicando pessoas que iam trocar medicação, pessoas que acabaram de descobrir o diagnóstico [...] Com relação à resposta do HGG, a frente tentou contato através do e-mail oficial das prefeituras, foi feita uma denúncia pedindo esse tipo de esclarecimento, só que eles não responderam [...] Acionamos também a ouvidoria da Secretaria de Saúde, tanto do Estado como no Ministério”, explicou.
O coletivo exige as seguintes medidas: retomada imediata dos exames de carga viral e CD4 no Hospital Geral de Guarus; reposição urgente dos insumos necessários; transparência nas ações adotadas para evitar novas interrupções e compromisso efetivo com as políticas públicas de HIV/AIDS no município e na região.
Confira a nota do coletivo na íntegra:
A Frente LGBTQIAPNB+ do Norte Fluminense vem a público denunciar e manifestar absoluto repúdio à suspensão dos exames de carga viral e CD4 no Hospital Geral de Guarus (HGG) por falta de insumos — uma decisão que afeta diretamente milhares de pessoas que vivem com HIV em Campos dos Goytacazes e em toda a região Norte Fluminense.
A interrupção desses exames, fundamentais e obrigatórios para o acompanhamento clínico, configura uma grave violação do direito à saúde, colocando vidas em risco e expondo pacientes a falhas terapêuticas, adoecimento evitável e insegurança. A ausência do exame de carga viral e CD4 impede a avaliação adequada da resposta ao tratamento antirretroviral e representa, portanto, um retrocesso inaceitável na política pública de HIV/AIDS.
O cenário torna-se ainda mais indignante por ocorrer justamente no Dezembro Vermelho, mês nacional de conscientização, prevenção, cuidado e compromisso com a resposta ao HIV/AIDS. Em vez de fortalecermos o SUS e ampliarmos o acesso a exames e tratamentos dignos, assistimos novamente a um episódio de negligência institucional, repetindo um histórico de descontinuidade, falta de planejamento e descaso com a população que mais necessita de estabilidade no cuidado.
A Frente LGBTQIAPNB+ do Norte Fluminense reforça que negligenciar o acesso aos exames é negligenciar vidas. Pessoas que vivem com HIV não podem esperar.
Não aceitaremos que direitos garantidos sejam tratados como favores ou que a saúde pública continue submetida a falhas de gestão que ameaçam a vida de tantos.
Diante disso, exigimos:
A retomada imediata dos exames de carga viral e CD4 no Hospital Geral de Guarus;
A reposição urgente dos insumos necessários;
Transparência nas ações adotadas para evitar novas interrupções;
Compromisso efetivo com as políticas públicas de HIV/AIDS no município e na região;
Seguiremos vigilantes, mobilizados e atuantes.
O SUS é um direito. E direito não se negocia.
Frente LGBTQIAPNB+ do Norte Fluminense / Dezembro de 2025