Mas para que palavras ecoem, é preciso microfone e estrutura. E para que microfones funcionem e estrutura aconteça, é preciso orçamento. Orçamento que a prefeitura alega buscar junto ao Estado, através de edital de apoio da Secretaria de Cultura estadual. A questão é que o festival, que já foi adiado (veja matéria do Blog de Matheus Berriel aqui) para novembro (5 a 9/11), precisa de tempo hábil para organização.
Com a preocupação de quem milita na área cultural há algum tempo e percebe a importância de um evento como o FDP!, tentei conciliar obrigações e interesses dos poderes públicos, e para isso me reuni com o presidente da Câmara, Fred Rangel através do vereador Dudu Azevedo. A posição da Câmara é de apoio ao evento, mas segundo o presidente não haveria caminho jurídico e administrativo para aplicação de recursos diretamente do legislativo.
No mesmo sentido, busquei a reitoria da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf), através da reitora Rosana Rodrigues e do diretor de Cultura Giovani do Nascimento, que prontamente se dispuseram a ajudar a realização do evento.
Embora o papel de articulação seja da organização do evento, a ideia em procurar os dois entes aqui citados atende a ideia de que ambos devem, enquanto agentes locais públicos e essenciais, apoiarem um festival com essas características. E deixa uma pergunta, após contatos feitos: a FCJOL, hoje presidida por Fernanda Campos, que deveria ser a guardiã e articuladora natural desse festival, tem feito as articulações necessárias, ou aguarda apenas o orçamento do Estado?
O problema não é de hoje. A política cultural em Campos tem se movido em passos tímidos, com raras iniciativas sustentadas de forma perene. O FDP! não é capricho de produtores culturais; se trata de uma construção coletiva, que já mostrou público, relevância e impacto. Mas a cada edição paira a dúvida: haverá verba? Haverá vontade política?
Hoje (1), às 18h, está marcada uma reunião no Museu Histórico para tratar do futuro do festival. Reunião que não é só administrativa, também tem caráter simbólico. Por lá, a sociedade civil, partícipe do evento, deverá cobrar da FCJOL ações e ocupação de espaços culturais com incitativas dessa natureza, e lugares para isso não faltam na cidade. A FCJOL precisa assumir a liderança que dela se espera, sem terceirizar ao improviso da sociedade civil o que é dever institucional.
A cidade tem direito à sua festa das palavras. Mas palavras, sem respaldo, viram apenas discursos vazios. O festival, para existir, precisa que as instituições falem menos “não há como” e mais “vamos fazer acontecer”. A omissão custa caro: uma cidade que cala suas palavras, cedo ou tarde, se acostuma ao silêncio.
O FDP! Ainda está aqui?
Não se trata, portanto, de um favor que a FCJOL ou a Prefeitura fariam à sociedade civil. Trata-se de reconhecer que Campos precisa de um projeto cultural que vá além da retórica. O festival é uma oportunidade de mostrar que a cidade é capaz de falar de si mesma, de se olhar no espelho, de se escutar. Negligenciar isso é um contrassenso em pleno 2025, quando é essencial discutir memória e identidade.
O encontro de hoje no Museu Histórico não pode ser só mais uma reunião protocolar. É preciso sair de lá com um compromisso: que a Prefeitura e a FCJOL assumam a responsabilidade que lhes cabe, que a Uenf e outras instituições parceiras somem forças - caso sejam chamadas a participação oficialmente - e que a sociedade civil, como sempre, faça sua parte. O que não dá é para continuar empurrando o festival com a barriga, sob risco de transformá-lo em lembrança, em vez de tradição.
Porque, ao fim, a escolha é simples: ou Campos aposta nas palavras — doces, críticas, plurais — ou se resigna ao silêncio. E o silêncio, já sabemos, nunca foi bom conselheiro de nenhuma cidade.