Crônica: Doutor Humberto volta à Campos
10/03/2024 | 06h19
Imagem gerada por IA - Edmundo Siqueira


Humberto saiu de Campos para cursar engenharia na PUC de São Paulo. Saiu novo e nunca mais havia voltado à cidade. Resolveu sua vida por lá, e decidiu esquecer de onde veio; fazia questão de não saber nenhuma notícia.

Mas, por essas idiossincrasias do destino, Humberto, já com quase 70 anos, precisou vir à Campos para fechar um contrato de um novo condomínio. Pediu ao escritório para ver algum hotel disponível, alugar um carro, e reservar dois ou três restaurantes. Quando recebeu a variedade de opções que tinha à escolha, se surpreendeu: “Campos cresceu, está moderna! Finalmente.”

Decidiu não alugar nenhum veículo, ia andar de Uber. Queria ver como estava Campos depois de tantos anos, sem se distrair com o volante. Com muita dificuldade, achou um voo para a cidade — quando avaliou que talvez Campos não tivesse crescido tanto assim — e desceu no Bartolomeu Lisandro, às duas da tarde.

Com alguma demora, um Chevrolet Prisma prata encosta, dirigido por Evandro.

— Boa tarde. Senhor Humberto?
— Isso, boa tarde.
— Vamos para o hotel…
— Não, vamos passar em alguns lugares antes disso — Humberto interrompe o motorista. — Pode ser?
— Claro, o senhor que manda.
Aeroporto Bartolomeu Lisandro
Aeroporto Bartolomeu Lisandro / Foto: Genilson Pessanha

Humberto havia anotado alguns pontos que tinha curiosidade em ver novamente, e um deles era a Praça São Salvador. Em alguns minutos, estavam atravessando a Ponte Alair Ferreira.

— Olha aí o majestoso…lá em São Paulo temos ele também, o grande Paraíba.
— O senhor é paulista?
— Na verdade sou daqui.
— Daqui, daqui? De Campos mesmo?
— Sim…
— O rio não é mais o mesmo não, tá estranho. Tem muita água que sai daqui para outros lugares, inclusive para São Paulo.
— Tem razão — disse Humberto enquanto olhava para o cais, descendo a ponte. — E a política, como está por aqui?
— Ih rapaz, muita coisa acontecendo.
— O Garotinho está por aqui ainda?
— Está, mas quem governa a cidade hoje é seu filho, o Wladimir.
— Sempre achei que era a filha que ia seguir os passos do pai.
— Ela seguiu, mas perdeu a última eleição que concorreu.
— Eu sei, política nacional eu acompanho. Esse menino foi deputado, mas achava que ia ficar no legislativo.
— O pai e o filho estão sempre brigando.
— Sério? Por quê?
— Rapaz, o filho criou um grupo só dele, e o pai não gosta disso não. Acho que ele queria governar igual fazia com a mãe.
— E está sendo bom para Campos?
— O asfalto aqui que estamos passando tá novinho.
— Só isso que tem a dizer do prefeito?
— É que eu ando muito de carro, né doutor. Mas tem muita gente pobre aqui. Sem transporte. Mas ele é muito bem visto aí pelo pessoal.
— Tudo gira em torno do petróleo aqui, e aí não gera emprego. Desde que eu fui embora daqui era assim.
— O senhor tem razão — Evandro encostou o cotovelo na porta, e apoiou o queixo.

O carro estava parado no sinal, esperando para entrar na XV de Novembro. Quando a luz verde foi sinalizada, o motorista continuou a conversa.

Reprodução
— A menina, Clarissa, tá muito junto com os bolsonaros.

— Cidade conservadora, né? Aqui e o Rio.
— É. Até castrar os homens ela propôs na campanha. Isso que chamam de extrema-direita, né? Mas…o Rio de Janeiro é conservador?
— Por incrível que pareça, sim. Basta ver os políticos que saem daqui. Até Crivella foi prefeito do Rio. Aliás, Bolsonaro saiu daqui.
— De Campos, não!
— Não, do Rio, capital — Humberto deu um leve sorriso.
— Essa turma é conservadora? Tô perguntando porque não sei mesmo, doutor.
— São da direita, e o conservadorismo está nesse campo. Mas estão mais para reacionários.
— E o Tarcísio, lá em Sampa? É dessa turma né? Disse um “tô nem aí” esse dias quando reclamaram da violência das polícias.
— Aprendeu bem. Ele aprendeu bem…
— Ah, o Queiroz, da rachadinha de Bolsonaro quer vir pra cá, ser candidato a vereador.
— Não é possível. Tudo tem limite. Não posso acreditar numa coisa dessas.
— O senhor é de esquerda, então?
— Sou liberal.
— Ih, agora está ficando ainda mais confuso. Olha a praça aí que o senhor queria ver.
— Meu Deus — Humberto abril o máximo que pôde o vidro de trás.
— O que foi, doutor?
— Colocaram mármore em tudo?

Evandro ficou surpreso com a expressão de Humberto. Misturava tristeza e perplexidade, mas ele não via motivo para isso, e achava o passageiro cada vez mais estranho. “Esse pessoal paulista deve ser assim”, pensou. Mas tentou entender melhor:

— Era mais bonita antes?
— Muito. Muito mais. Como deixaram isso acontecer? — perguntou Humberto, retoricamente.
— Foi na época de Dr. Arnaldo.
Praça São Salvador em tempos antes do mármore
Praça São Salvador em tempos antes do mármore / Foto: Centro de Memória Fotográfica de Campos - IFF
— Foi prefeito esse?
— Sim, o filho dele também está na política, foi candidato contra Wladimir na última.
— São clãs, então.
— Isso não é negócio de máfia, doutor?
— Mais ou menos. E esse filho do Arnaldo vai concorrer de novo?
— O Caio. Olha, ele ia, mas agora tá junto com o prefeito.
— Sério?
— Então, vi na Folha que até ontem era sério, mas aí tem um negócio aí novo com o prefeito do Rio…mas sei bem não. É um troca-troca danado.
— Sei…aqui perto dessa praça tinha vários prédios antigos bonitos. Como estão hoje?
— Tudo no chão.
— Estou pesquisando aqui. O pior que você tem razão.
— Tem um lá em Tocos, um aqui perto, o Museu, e um lá indo para Atafona. Esses dias derrubaram um aqui bem pertinho, um hotel velho.
— Hotel Flávio. Vi aqui no celular. Meu Deus, um patrimônio histórico.
— Prédio velho, doutor.
— Em alguns lugares teria muito valor.
— Tem que modernizar, acha não?
— Digamos que sim, o que vai ser no lugar então?
— Acho que um estacionamento.
— Entendi — Humberto balança a cabeça negativamente.
— Ah, mas agora vão restaurar o Asilo do Carmo.
— A prefeitura?
— Parece que é o Lula.
O presidente Lula durante o lançamento do Novo PAC, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro (construção da capital que representaria o antigo Teatro Trianon em Campos, caso estivesse de pé)
O presidente Lula durante o lançamento do Novo PAC, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro (construção da capital que representaria o antigo Teatro Trianon em Campos, caso estivesse de pé) / Foto: Tércio Teixeira/Folhapress

— O Governo Federal vai investir no Asilo do Carmo?
— Um tal de PAC.
— Ah sim! Aí tudo bem. Vamos dar uma passada lá então. Quem conseguiu isso, a prefeitura?
— Ih rapaz, essa é outra confusão.
— Por quê?
— Um fala que foi o prefeito, o outro o pessoal do PT aqui de Campos, até de Carla Machado tão falando. Filho bonito é cheio de pai e mãe, né.
— Carla? Foi prefeita aqui?
— De São João da Barra. Quer vir por aqui agora. Ah…! Esse é o negócio de clã que o senhor disse né?
— Mais ou menos. Olha, já deu para mim, me deixe no hotel, por favor.
— O senhor que manda.

Enquanto seguiam para o destino final, um silêncio reflexivo se estabeleceu. Já na frente do hotel, se despediram.

— Obrigado, Evandro. Até.
— Eu que agradeço, doutor. Uma última pergunta, se o senhor não se importar. Como o senhor acha que Campos está?
— Ainda é o espelho do Brasil. Uma polarização autofágica, briga para todos os lados, e nenhuma mudança estrutural à vista.
— Polarização autofa…não entendi muito bem não, mas deve ser bem ruim.
— É sim.
— E como sai disso?
— Pelo aeroporto — Humberto riu. — Tô brincando, o primeiro passo é estabelecer limites éticos, fortalecer a democracia, e saber com que se faz aliança.
— Mas importa tanto assim com quem a gente luta, doutor?
— Mais que a própria guerra.






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Clarissa Garotinho revive fake news do kit gay para atrair eleitor bolsonarista
10/06/2022 | 01h51
Reprodução Rede Social
Em agosto de 2018, pouco antes das eleições presidenciais, o então candidato Jair Bolsonaro concedia uma entrevista ao Jornal Nacional, da TV Globo. Nela, o livro “Aparelho Sexual e Cia” foi erguido em frente às câmeras. Em tom de ameaça, Bolsonaro afirmava que sua distribuição estaria sendo feita pelo MEC às crianças em idade escolar. Era uma informação falsa, desmentida por diversos institutos de apuração e pela imprensa — o episódio marcou aquela eleição e ficou conhecido como “kit gay”.


Clarissa Garotinho (União), deputada federal e pré-candidata à reeleição, decidiu reviver a mentira bolsonarista. Em suas redes sociais, na última terça-feira, a deputada publicou um vídeo onde diz que ter o “direito de não querer que meu filho seja exposto na escola a um conteúdo, com cinco anos de idade, como o kit gay”. Antes, disse, apesar da declaração, não ter “preconceito com ninguém”.

Nas últimas 12 postagens de Clarissa no Instagram, 4 trazem o presidente Bolsonaro como destaque. Tentando atrair os votos — de grande resiliência — do bolsonarismo, a deputada aposta na agenda de costumes e não perde a oportunidade de aparecer com o “mito”.
Reprodução

Em 2014, a filha do ex-governador Anthony Garotinho conquistou 335.061 votos. Quatro anos depois, Clarissa contabilizou apenas 10,5% deles: 35.131. Em 2020 se lançou à prefeitura do Rio, e amargou o 11º lugar, ficando com 0,46% dos votos.

Porém não parece ser uma verdade que Bolsonaro transferirá votos a Clarissa. Mesmo mantendo uma base fiel em torno de 25 – 30% do eleitorado brasileiro, Bolsonaro não demonstra grande capacidade de transferência de votos. Nas últimas eleições, apenas 15 dos 61 apoiados por ele conseguiram uma cadeira no parlamento. Com rejeição na casa dos 60% e chances reais de perder no primeiro turno, apostar em Bolsonaro como cabo eleitoral pode ser um desastre eleitoral para Clarissa; ainda maior que os últimos.

'Kit Gay', de fato, nunca existiu – Clarissa repete fake news

“É obvio que vou ensinar o respeito e a tolerância, mas tenho o direito de não querer que esse tema (kit gay) seja abordado para crianças”, disse Clarissa no vídeo de terça.

A deputada repete a fake news de Bolsonaro. O chamado "kit gay" fazia parte do projeto ‘Escola sem Homofobia’, de 2004. Voltado à formação de educadores, fazia parte do programa ‘Brasil sem Homofobia’ do governo federal, à época. Mas o que resto comprovado foi que o material nunca teve a previsão de ser distribuído para alunos, e ainda assim o programa não chegou a ser colocado em prática.
Clarissa Garotinho posa ao lado de Bolsonaro - 1/3 das últimas postagens da deputada tem destaque para o presidente.
Clarissa Garotinho posa ao lado de Bolsonaro - 1/3 das últimas postagens da deputada tem destaque para o presidente. / Reprodução


Em 2018, o ministro Carlos Horbach, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), determinou a remoção de vídeos e informações que continham menções ao malfadado kit gay (veja aqui). Na decisão, o magistrado cita que aquele tipo de conteúdo “gera desinformação no período eleitoral, com prejuízo ao debate político” e diz ser “notório” que o projeto 'Escola sem Homofobia' não chegou a ser executado pelo Ministério da Educação.

Clarissa tem todo direito, esse sim legítimo, de declarar apoio a Bolsonaro e buscar o dele. Se reverterá os maus resultados anteriores, o tempo dirá. O que não se confunde com o uso de inverdades. Em um país com 33 milhões de pessoas passando fome (confira aqui), fazer campanha baseada em fake news e na sexualidade alheia não eleva o debate, pelo contrário.

As instituições responsáveis por determinar a ilegalidade de condutas e falas que faltem com a verdade, para além de Clarissa Garotinho, terão um grande desafio em outubro.
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Bolsonaro veio fazer campanha em Campos com adesão de Clarissa e Garotinho
05/02/2022 | 05h23
Presidente da República é recebido em Campos - Wladimir, Tassiana e Frederico usam máscaras. Clarissa e Bolsonaro, não.
Presidente da República é recebido em Campos - Wladimir, Tassiana e Frederico usam máscaras. Clarissa e Bolsonaro, não. / Letycia Rocha
A visita do presidente Jair Bolsonaro à região, na última segunda (31), foi oficial. Tratou de investimentos, principalmente relacionados ao Porto do Açu, em sua maioria oriundo de dinheiro privado. Mas também fez campanha.
Em São João da Barra — acompanhado pelo clã Garotinho, Anthony, Rosinha, e os filhos do casal, Clarissa, deputada federal (Pros), e Wladimir (PSD), prefeito de Campos — Bolsonaro tratou de atacar o PT e a “esquerdalha”, palavra utilizada pelo presidente.
"Estamos numa guerra. Se aquele bando, aquela quadrilha, voltar, não vai ser apenas a Petrobras que vai ser arrasada. Vão roubar a nossa liberdade" — disse o presidente. Bolsonaro atua no conflito, único “lugar político” que sabe. Ao tratar a disputa como uma “guerra” trata a oposição como seus inimigos; não como adversários. E, contra inimigos, a disputa passa a ser em terreno distinto do democrático.
E volta a falar em “roubo de liberdade”. A liberdade no país foi frontalmente ameaçada por Bolsonaro como “nunca antes na história deste país”. No último 7 de setembro, apoiado por manifestantes, o presidente ameaçou a democracia brasileira de golpe. Não conseguiu, mas não por falta de vontade. A liberdade individual esbarra na lei, na saúde pública, e na legislação eleitoral. Apesar da claque bolsonarista não entender, a liberdade não é uma licença para cometer crimes.
""Estamos numa guerra. Se aquele bando, aquela quadrilha, voltar, não vai ser apenas a Petrobras que vai ser arrasada. Vão roubar a nossa liberdade" — disse o presidente. Bolsonaro atua no conflito, único “lugar político” que sabe." ()
Continuando, em falas que podem ser claramente tipificadas como campanha eleitoral antecipada e uso irregular de recursos públicos para financiar campanha, Bolsonaro disse, em Itaboraí, referindo-se a Lula: “o cara que quase quebrou o país de vez, que destinou um prejuízo de quase um trilhão de reais da Petrobras, quer voltar à cena do crime”.

Além de campanha desavergonhada, cita fatos que não guardam relação com a realidade. Apesar de o governo Dilma ter levado a uma recessão histórica, o governo Lula conferiu ao país o selo de bom pagador das agências internacionais de risco, pela primeira vez na história. Condição que perdeu nunca mais recuperou. Portanto, não esteve “quase quebrando o país”. Os prejuízos da Petrobras foram inúmeros, inclusive no governo atual, mas possuem causas bem mais complexas que um número não explicado de 1 trilhão.
Em Campos, o ministro da Cidadania, João Roma agradeceu ao presidente Bolsonaro pelo “maior programa social da história do país”. Fazia referência ao ‘Bolsa Família’, criado por Lula, transformado hoje em ‘Auxílio Brasil’. Fazendo justiça, vale lembrar que a origem se dá no governo Fernando Henrique, com Ruth Cardoso, então primeira dama, que trabalhou na unificação dos programas de transferência de renda e de combate à fome no país.
Além de Roma, a comitiva na região foi formada pelos ministros Ciro Nogueira (Casa Civil), Tarcísio Gomes de Freitas (Infraestrutura) e Bento Albuquerque (Minas e Energia).

A esquerda comunista imaginária
Em São João da Barra, durante a fala presidencial, o som falhou, e foi rebatido por Bolsonaro: “essa sonoplastia é de esquerda”.
Aos aplausos — e gritinhos — da plateia, sempre que se referia à oposição, Bolsonaro usou o termo “esquerdalha” para se referir ao campo progressista. Depois, fazendo uma comparação com o “verde e amarelo” do seu governo, relacionou os “vermelhos” ao “terrorismo, violência, corrupção e inoperância”.
Bolsonaro convenceu os seus apoiadores mais radicalizados que existe uma “ameaça comunista” no Brasil. Além de ser um completo despautério — não há grupos comunistas relevantes no país, tampouco que se identificam com a esquerda radical —, é mais uma forma de tratar os opositores como criminosos e inimigos. E de levar a campanha para a “guerra”.
O PT, apesar de possuir alas radicais, nunca atuou em seus governos como partido de extrema-esquerda. Pelo contrário. Colhendo os frutos podres dessa escolha, governou com o centro, com os liberais e o grande capital. De extremo, só temos o Bolsonaro na disputa eleitoral.

Os Garotinhos
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Anthony Garotinho aproveitou a vinda do presidente como mais uma tentativa de voltar à cena política. Enfrentando diversos problemas na Justiça, que conferem incerteza sobre a possibilidade de candidatura futura, Garotinho vem conversando com o “União Brasil”, partido formado da fusão PSL-DEM, assim como Clarissa.

Demonstrando muita animação em ter trazido o presidente a Campos, Clarissa parece ser a mais alinhada ao bolsonarismo do clã Garotinho. Não raro aparece em fotos sorridentes com a ministra Damares Alves e com o deputado Hélio Lopes. Ambos bolsoaristas radicais muito ligados às pautas de costumes. Clarissa também vem votando com o Governo Federal no Congresso, inclusive em pautas polêmicas, como a PEC dos Precatórios.
Acompanhado de Clarissa, o presidente Bolsonaro foi recebido no aeroporto Bartolomeu Lisandro na última segunda, pelo prefeito Wladimir (Foto: Supcom)
Acompanhado de Clarissa, o presidente Bolsonaro foi recebido no aeroporto Bartolomeu Lisandro na última segunda, pelo prefeito Wladimir (Foto: Supcom)
No caso de Clarissa, se considerarmos todas as pesquisas recentes, o alinhamento ao bolsoarismo pode diminuir ainda mais sua capilaridade eleitoral, em queda há algum tempo.
Wladimir parece ser o que mais rejeita a aliança. Contrariando o presidente, o prefeito de Campos atua na pandemia de maneira responsável, ouvindo especialistas e a ciência. Com maturidade, costuma colocar os interesses de Campos acima de questões ideológicas. Conversa com todos, inclusive adversários históricos do clã de seu pai. Wladimir se mostra um prefeito disposto a superar entraves ideológicos para realizar um governo marcante na cidade, e cacifá-lo (ou algum outro nome do grupo) à reeleição (ou outros voos políticos). Apesar das dificuldades, Campos é uma cidade de relevância nacional, e um bom governo aqui credencia.
Se continuar nessa linha, dificilmente Wladimir estará apoiando deliberadamente Bolsonaro em 2022. A depender dos arranjos partidários e de seu grupo, poderá ser obrigado a compor, mas não dá sinais de que radicalizará, utilizando termos como “esquerdalha” e afins.
Em ano de eleição, arroubos retóricos são comuns, e qualquer evento passa a ser ato político. Faz parte da democracia. Mas a lei existe para ser cumprida e garantir o funcionamento das instituições democráticas. Descumprir lei eleitoral e fazer discurso de ódio não pode ser tolerado. Quem passivamente acompanha, e ainda aplaude, se iguala.

 
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Sobre o autor

Edmundo Siqueira

edmundosiqueira@hotmail.com