Campista é premiado em NY como um dos melhores designers do mundo
08/10/2023 | 09h20
O designer Carlos Mignot com o prêmio do Type Directors Club, em Nova York
O designer Carlos Mignot com o prêmio do Type Directors Club, em Nova York / .
O profissional do designer é alguém que precisa aliar o conhecimento técnico-científico com processos criativos e artísticos. É uma atividade abrangente, que atua transformando a identidade visual de produtos e serviços, e até de pessoas. O campista Carlos Mignot se especializou em tipografia, uma das áreas do designer, e em setembro recebeu reconhecimento internacional na principal organização do mundo no setor.


Se o design pode ser considerado como arte, a tipografia é a expressão artística que mistura texto, desenho e arte gráfica na composição e impressão de um texto — física ou digitalmente. A palavra tipografia traz como significado algo como “impressão dos tipos”, remetendo a ideia de um trabalho no papel.
Porém, assim como a escrita em sua maioria migrou para os meios digitais, a tipografia passou a abranger todo o estudo, criação e aplicação dos caracteres, estilos, formatos e arranjos visuais das palavras.

Mignot, de 32 anos, nasceu em Campos dos Goytacazes e chegou a cursar engenharia, mas sempre teve inclinação para o desenho e o design:

— Eu tenho uma relação muito forte com Campos, sou nascido e criado na cidade, minha família é toda de Campos. Mas aos 18 anos fui morar no Rio de Janeiro e comecei minha trajetória acadêmica na engenharia, fiz uns dois períodos e vi que não era isso que queria, estava infeliz com o curso, e migrei para o design. Essa é minha área, sempre gostei muito de desenhar, desde criança, e tinha o hábito de mexer no Photoshop (software editor de imagens ), que minha mãe (a arquiteta campista Martha Mignot) me ensinou muito cedo. Acabei transformando um hobby em uma profissão — disse o designer Carlos Mignot.

O processo de criação de um tipo, ou uma fonte, pode durar meses, e precisa de muitos testes e experimentações com diversas ferramentas digitais para escolher os requisitos tipográficos mais adequados para uma marca, um logotipo, ou mesmo fontes para editores de texto.

Por serem a base da comunicação escrita, esses tipos precisam de extremo cuidado e estudo para serem adequados à mensagem que se quer passar. São processos artísticos que envolvem esculpir letra a letra, ajustar as proporções e definir espaçamentos.

Antes da premiação em NY, a família de Carlos Mignot decidiu abrir um estúdio em Campos que aliasse designer, arquitetura e publicidade. Mas após alguns trabalhos exitosos na cidade, Carlos voltou para o Rio para se especializar:

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.. / Imagem cedida por Carlos Mignot
— Por volta de 2012, eu, meu irmão e minha mãe montamos um estúdio em Campos que trabalhava com arquitetura, designer e publicidade. Fizemos vários jobs interessantes. Mas precisava me profissionalizar mais na tipografia e voltei para o Rio para me formar na Miami Ad School (escola de criação carioca), em 2016. Trabalhei um pouco em propaganda, mas sempre entendendo que o design era meu lance mesmo, o designer de marca, branding, identidade visual e a tipografia…e depois entrei depois na Plau Design, um escritório carioca com um foco muito grande em tipografia.


A Plau Design tem em seu portfólio trabalhos de tipografia completa — fonte, conceito e logotipo — de empresas como Rio Carnaval, Globo, Reserva, XP, Granado entre outras grandes marcas brasileiras. O fundador da Plau, Rodrigo Saiani, já foi professor, chefe e agora é sócio de Mignot na empresa de design.

A premiação em Nova York
O designer Carlos Mignot recebendo prêmio do Type Directors Club
O designer Carlos Mignot recebendo prêmio do Type Directors Club / Imagem cedida por Carlos Mignot
Carlos Mignot foi um dos designers premiados pelo Type Directors Club (TDC), em Nova York, nos Estados Unidos, no último dia 7 de setembro. A TDC é a principal organização internacional que promove a excelência em trabalhos tipográficos.

A premiação ocorre com a avaliação do portfólio do profissional, onde são inscritos seus seis melhores trabalhos. Acontecendo anualmente, a organização escolhe no evento os 35 melhores designers de letra do mundo. Entre os candidatos deste ano, havia apenas três brasileiros, incluindo Carlos Mignot.

— Já tínhamos (trabalhos coletivos na Plau Design) levados alguns prêmios sobre trabalhos, mas esse que recebi em NY é um prêmio individual, foi uma honra incrível ter recebido esse reconhecimento de nível internacional, conta Mignot.

The One Club Creative
The One Club Creative / Imagem cedida por Carlos Mignot
O TDC é uma premiação que faz parte da The One Club, organização americana sem fins lucrativos que reconhece e promove a excelência em publicidade mundial, e já condecorou nomes como Steve Jobs, Paula Green, poeta e uma das pioneira na publicidade, e o cineasta e ganhador do Oscar, Saul Bass.


— Foi mesmo uma honra para mim. Eu que vim do interior, mesmo com todas as oportunidades e privilégios que tive, mas vindo de Campos, e agora recebendo um reconhecimento internacional, é muito bacana — finaliza o designer.
 
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A catarse interrompida na Copa
10/12/2022 | 11h11
Reprodução
Não é preciso gostar de futebol — ou mesmo entender do esporte — para sentir a emoção que ele trás. É perceptível. Principalmente em Copa do Mundo, onde uma efervescência coletiva traz harmonia e estimula sentidos estéticos e ritualísticos únicos, em países que tem no Futebol um forte traço cultural, como é o caso brasileiro.


Cultura são os saberes de um povo. Os costumes, o modo de ser, o modo de agir; a forma de ver o mundo. As expressões artísticas são criadas essencialmente desse “caldo” de cultura. Arte, literatura, música, cinema e outras tantas formas de materializar (e eternizar) cultura e conhecimento dependem da cultura para existir.

O futebol tem esse poder no Brasil — como poucas outras expressões humanas possuem por aqui. É uma cultura de massa que permite um sentido de totalidade que é raramente encontrado em outras esferas da vida social. Chico Buarque cantou e compôs o futebol, Nelson Rodrigues escreveu a seleção brasileira co­mo  uma "pátria de chuteiras”.
Nelson Rodrigues no estádio. Era torcedor do Fluminense.
Nelson Rodrigues no estádio. Era torcedor do Fluminense. / Arquivo

Como uma das principais expressões culturais do Brasil, o futebol permite que abraços fraternos aconteçam entre os diferentes de forma genuína. Somos, todos, irmãos de chuteira quando tecemos pela seleção: conversas informais na padaria se transformam em esquemas táticos, insatisfações com o técnico ficam mais leves quando compartilhadas no escritório. As diferenças de classe, de raça e credo deixam de existir, mesmo que por algum momento, e passam a ser coadjuvantes.

O futebol, especialmente na Copa do Mundo, é uma catarse — algo como uma purificação. Na psicanálise, a catarse é um conceito muito caro, usado para que traumas sejam superados. Nas palavras de Aristóteles, a catarse refere-se à purificação das almas por meio de uma descarga emocional provocada por um trauma.

No Brasil de 2022 a catarse de uma vitória derradeira — ou pelo menos a vivida na emoção de uma disputa final — era importante. Mas não aconteceu. Terminamos uma eleição há cerca de 40 dias, e saímos devastados, divididos ao meio e brigando o tempo todo com quem pensa diferente.
Metade dos brasileiros rejeitou o grupo vencedor, outra metade viveu tempos de agonia, sob o risco de uma ruptura democrática. Parte da primeira metade não aceitou o resultado, e está nas ruas, ainda protestando. Pessoas que se agarram em caminhões, que lançam sinais de seus celulares para o céu na esperança alienígena, que cantam o hino para um pneu no meio da rua, precisam ser resgatadas. Elas se perderam.
Muito de psicanálise e catarse era preciso para tentar resgatar essas pessoas, mas também para criar um clima melhor no país para que isso acontecesse, para que pudesse melhorar os afetos de quem não se entregou à uma realidade paralela, e precisa conviver com o diferentes — todos os dias.

Mas a catarse foi interrompida. A “cura” e a “purificação” não foram possíveis. Sim, temos ainda o futebol e nossa cultura, e outros campeonatos virão, mas como seria bom sermos "purificados", um pouco que seja, do ódio que deixamos entranhar na sociedade brasileira.

Os técnicos nas padarias acordaram de ressaca culpando o Tite, que por sua vez culpou a própria equipe, e os abandonou no campo. Na narrativa ‘futebolesca’ do Brasil na Copa de 2022, o técnico Tite se transformou no vilão (merecidamente por abandonar sua equipe aos prantos), os jogadores em heróis derrotados, os memes (sic) em alívio cômico e o craque da rival Argentina, Messi, em anti-herói (errado torcer por ele?).

Os jogadores da seleção provocam no brasileiro, em grande parte de nós, idealização e identificação. A vitória é comemorada aos berros; as derrotas sofridas como se fossem de um ente familiar. E o desenrolar da Copa é uma novela, um conto de Nelson Rodrigues, uma música de Chico ou uma crônica de costumes.

Foto: GABRIEL UCHIDA
A catarse foi interrompida. Mas os conflitos, que regulam qualquer competição esportiva, deve possuir um caráter singular que simultaneamente demarca e harmoniza as diferenças. O esporte ensina que quando queremos eliminar o inimigo, ou levar a batalha às últimas consequências, significaria certamente o fim do drama esportivo — ou da democracia, na analogia necessária.


A derrota na Copa do Mundo de 2022, nos ensina, mesmo sem a catarse necessária, que um oponente só existe em função do outro, e quanto maior a sua força, maior o conflito e mais empolgante é a competição.
O Brasil precisava da vitória. Mas é preciso lembrar que a democracia venceu há 40 dias, e vai continuar precisando de muito esforço. (ah, mas que seria bom uma catarse, seria...)
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Campista ocupa o Sesc Copacabana até dezembro
11/11/2021 | 08h37
Mercedes Baptista/Divulgação
Mercedes Baptista/Divulgação
Campos dos Goytacazes é uma cidade histórica. Já podia ser considerada uma cidade em meados do século XVII. As construções sociais nesses quase 370 anos produziram campistas ilustres que orgulham o município; em todas as expressões. Na arte, Mercedes Baptista é uma das maiores referências. Se viva estivesse, teria 100 anos completos em maio deste ano (veja aqui). Durante os meses de novembro e dezembro o Sesc Copacabana, através do projeto “Ocupação Mercedes Baptista”, trata de manter sua memória e legado presentes.
De origem humilde, Mercedes Baptista nasceu em Campos no dia 20 de maio de 1921. A menina que “sonhava em ser bailarina” foi ainda jovem para o Rio. Lá, começou a ter contato com as artes, entre elas a dança. Em 1948, Mercedes torna-se a primeira bailarina negra a compor o corpo de baile do Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Nessa mesma década, contribui como colaboradora, bailarina e, depois, coreógrafa do Teatro Experimental do Negro (TEN), buscando a valorização de artistas negros.
A bailarina e coreógrafa campista estudou balé com os renomados Eros Volúsia e Yuco Lindberg, já na Escola de Dança do Theatro Municipal. Fez história por integrar o corpo de baile até então ocupado apenas por bailarinas brancas. Mas não se contentou com o feito. No ano de 1956, Baptista inaugura no Brasil uma companhia de dança com seu nome e consegue projeção nacional e internacional. Com apresentações na América Latina e Europa, o grupo intitulado Ballet Folclórico Mercedes Baptista configurou novos espaços para a cultura negra, através da criação de um estilo que propunha a junção entre as técnicas clássicas do balé, da dança moderna, de danças populares brasileiras e de danças de matrizes africanas.
Mercedes Baptista ocupa o Sesc Copacabana
Falando ao Blog, Paulo Melgaço, professor e pesquisador da Escola Estadual de Dança Maria Olenewa, revelou que haviam “assuntos proibidos” com Mercedes Baptista. “Ela não falava muito do pai, ou de seu filho (Mercedes teve um filho em 1966, morto após contrair tétano neonatal), ela era entregue a sua arte”.
Foto: Júlio Ricardo
Foto: Júlio Ricardo
Melgaço é o curador da exposição “Mercedes Baptista: a dama negra da dança”, que fica em cartaz no Sesc Copacabana até o final do mês de dezembro. Em 2007, ele lançou a biografia da bailarina intitulada “Mercedes Baptista: a criação da identidade negra na dança”; mas sentiu que o centenário de nascimento da biografada precisaria de um novo registro. Com previsão de lançamento no próximo dia 3, a obra foi atualizada e receberá o mesmo nome da exposição do Sesc.
— Minha história com Mercedes começou em 2002, aqui no Municipal. No aniversário da escola (de Dança Maria Olenewa, fundada em 1927, a mais antiga instituição brasileira dedicada ao ensino da dança e à formação de bailarinos clássicos) precisávamos escolher alguém para homenagear. Logo me veio o nome de Mercedes Baptista, que cria a dança afro-brasileira, o passo marcado, divulga a dança no exterior e tem uma história muito significativa.
A “Ocupação Mercedes Baptista” foi aberta com a reestreia do espetáculo teatral “Mercedes”, que estreou no Sesc Copacabana em 2016, e depois circulou pelos estados do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais. “Criada pelo Grupo EMÚ, a peça faz uma viagem pela vida da artista em uma narrativa que gira em torno da construção da identidade negra na dança brasileira, contada a partir de fatos reais e fictícios da vida da personagem-título”, informou a assessoria de imprensa do Sesc.
Fechado há quase 1 ano e oito meses por conta da pandemia, o espaço foi reaberto no último dia 5 de novembro com o projeto 'Ocupação'. A exposição fotográfica “Mercedes Baptista: a dama negra da dança”, inaugurada no mesmo dia, traz imagens da artista em diferentes épocas da vida.
A vida de Mercedes em Campos
A primeira bailarina negra a compor o corpo de baile do Teatro Municipal do Rio de Janeiro nasceu na Campos da década de 1920, filha de João Baptista Ribeiro e da costureira Maria Ignácia da Silva. Foi casada por mais de cinquenta anos com Paulo Krieger, falecido em 2002.  Segundo Melgaço, o pai de Mercedes era criador de cavalos, mas sua figura era um daqueles “assuntos proibidos”. Curiosamente, a bailarina usa o sobrenome do pai como identificação artística.
Veja aqui homenagem a Mercedes em grafite pelo artista Kane KS e alunos do Salesiano.
O biógrafo conta que as melhores lembranças de Mercedes em terras goytacá eram relacionadas à “liberdade” que a cidade trazia. “Ela adorava subir em árvores, contava que tinha muita liberdade em Campos”. Melgaço afirmou que ela saiu do município mais velha do que a própria alegava; “por volta de 18, 19 anos”.
O fato é que Campos não oferecia o futuro que Mercedes queria. Ciente que a arte não tem fronteiras, “a menina que sonhava em ser bailarina” ganhou o mundo. Mas o caminho para o sucesso foi difícil. Campos e o Brasil impuseram muitos obstáculos à Mercedes, como o racismo e a desigualdade social, principalmente.
— Relembrarmos a história de Mercedes Baptista é muito importante em um momento de luta antirracista — diz Melgaço — E campos, como seu local de nascimento, deve voltar seu olhar para ela, uma menina negra e pobre que recebeu muitos “nãos” na vida e foi se reinventando. Quantas meninas negas e pobres podem se inspirar na sua história.
Ocupação Mercedes Baptista
Quem visitar o Sesc Copacabana ainda poderá conferir a Videoinstalação ljo, oba assinada pelo diretor e videoartista Thiago Sacramento onde bailarinos se movimentam e criam, através de efeitos visuais, uma imagem luminosa e espectral. Além do projeto artístico “Cartas para Mercedessssssss”, composto por três obras: uma dançada, uma plástica e uma sonora, a partir do dia 12 de novembro, e o Grupo Dembaia, formado por mulheres negras do Rio de Janeiro e se dedica a pesquisas práticas e teóricas, oficinas e apresentações artísticas referentes à cultura tradicional e moderna de países da África do Oeste, como Guiné, Mali e Senegal, no palco dia 23.
Programação Completa: 
Espetáculo Mercedes
 
 
05/11 a 28/11, De sexta a domingo, às 19h
 
 
Ingressos: R$ 30 (inteira), R$ 15 (meia) e R$ 7,50 (habilitado Sesc)
 
 
Faixa Etária: 12 anos
 
 
 
 
 
 
Videoinstalação Ijo
 
 
05/11 a 30/12, Das 10h às 19h
 
 
Ingressos: Gratuitos
Faixa Etária: 16 anos
 
 
 
 
 
 
Exposição Mercedes Baptista: a dama negra da dança
 
 
05/11 a 30/12, Das 10h às 19h
 
 
Ingressos: Gratuitos
Faixa Etária: Livre
 
 
 
 
 
 
Cartas para Mercedessssssss – Obras plástica e sonora
 
 
12/11 a 28/11, Das 14h às 18h30
 
 
Ingressos: Gratuitos
Faixa Etária: Livre
 
 
 
 
 
 
Cartas para Mercedessssssss – Obra dançada
 
 
12/11 a 28/11, de sexta a domingo, às 20h
 
 
Ingressos: R$ 30 (inteira), R$ 15 (meia) e R$ 7,50 (habilitado Sesc)
 
 
Faixa Etária: Livre
 
 
 
 
 
 
Grupo Dembaia convida Doralyce
 
 
23/11, às 19h
 
 
Ingressos: R$ 30 (inteira), R$ 15 (meia) e R$ 7,50 (habilitado Sesc)
 
 
Faixa Etária: 12 anos
 
 
 
 
 
 
Palestra “Metodologia da Percussão e Instrumentalização Africana” com Kaio Ventura
 
 
24/11, às 19h
 
 
Ingressos: Gratuitos
Faixa Etária: Livre
 
Foto: Cláudia Ferreira
Foto: Cláudia Ferreira
 
 
 
 
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Sem samba não dá: Dia Nacional da Cultura com tristeza em todos os aspectos
05/11/2021 | 09h26
Reprodução
Sem samba não dá: Dia Nacional da Cultura com tristeza em todos os aspectos
Morte precoce da artista Marília Mendonça no Dia Nacional da Cultura entristece o país.
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O Dia Nacional da Cultura, 5 de novembro, não será comemorado neste 2021. Por diversos motivos e por uma tragédia: a cantora Marília Mendonça morreu nesta sexta-feira em um acidente de avião (Folha1). A cantora, que tinha 26 anos de idade, viajava para realizar shows e estava com seu assessor e tio, Abicieli Silveira, com o produtor, Henrique Ribeiro e com o piloto e o co-piloto da aeronave de Taxi Aéreo. Todos morreram. A cultura brasileira perde uma de suas principais interpretes. 
Arte e cultura não cabem em definições simples. São expressões humanas complexas e sofisticadas que não cabem em conceituações limitantes; ou meros gostos pessoais. Entre seus aspectos tangíveis e intangíveis, a cultura representa as características de uma sociedade, o conhecimento, as crenças, a arte, a moral, a lei, os costumes e todos os outros hábitos que constroem as relações humanas. O Brasil é um país de cultura exuberante, advinda de sua miscigenação, diversidade e intelectualidade.
A artista Marília Mendonça deu voz a milhões de pessoas, colocou a mulher como protagonista em suas canções, provocou a quebra de paradigmas mercadológicas da indústria da música, rompeu com padrões e tinha uma enorme brasilidade. Esta cantada em prosa e verso por Caetano Veloso no álbum “Meu coco”, lançado no último dia 21 de outubro. No trabalho, a música “Sem samba não dá” cita Marília Mendonça:
"Olho pro Cristo ali no Corcovado
E, em silêncio, grito "Êpa babá!"
Tudo esquisito, tudo muito errado
Mas a gente chega lá
Tem muito atrito, treta, tem muamba
Mas tem sertanejo, trap, pagodão
Anavitória, doce beijo d'onça
Maravília Mendonça, afinação”
O samba é usado como sinônimo de Brasil no mundo, muitas vezes de forma caricata, mas em sua maioria como o ritmo que — de fato — melhor representa o país. Por que o “samba nasceu lá na Bahia”, como cantou Vinicius, lembrando a sua origem ainda século 19. Vindo da mistura de ritmos africanos, desenvolveu-se no Rio de Janeiro alguns anos depois, mas nasce nas rodas de dança dos negros escravizados. Antes de qualquer definição, o samba é arte e cultura.
Sem samba, não dá. Mesmo em sua “renovação” pela Bossa Nova, reconhecida mundialmente por sua qualidade, e construída na Zona Sul carioca dos anos 1950 com forte influencia do Jazz — este vindo de Nova Orleans, cidade da Luisiana nos Estados Unidos —, o samba mantinha sua brasilidade.
Criado em homenagem a Rui Barbosa — jurista, jornalista, político e diplomata — nascido em 5 de novembro de 1849, o Dia Nacional da Cultura deve ser sempre lembrado por todo esse cenário artístico e cultural, talvez único no mundo. Mas as tragédias como a de Marília Mendonça nos mostram que parte de nossa brasilidade se perde em escombros; sejam por acidentes ou por descaminhos políticos.
Não há o que comemorar hoje, mas há muita cultura para nos fazer esperançar em dias melhores, e governos melhores que saibam a importância de arte e cultura para uma nação. “Apesar de você, amanhã há de ser outro dia”, mas "sem samba, não dá". 
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Galpão da Arte reabre suas portas para segunda exposição
09/09/2021 | 11h51
Elaine Emerick e Edvar Chagas Jr., curadores do Galpão da Arte
Elaine Emerick e Edvar Chagas Jr., curadores do Galpão da Arte
A relevância de Campos dos Goytacazes em arte e cultura é reconhecida nacionalmente. Em mais de 369 anos de história (a real data de nascimento de Campos está sendo debatida na Câmara - veja aqui e aqui), foi berço de grandes escritores, jornalistas, políticos e pessoas que mudaram a história do Brasil — Nilo Peçanha, José Cândido de Carvalho e José do Patrocínio representam alguns desses exemplos. Toda essa história gerou muita arte, patrimônio material e imaterial. Cultura, em seu significado essencial. No próximo sábado (11), um espaço dedicado à arte e cultura em Campos, o Galpão da Arte, receberá sua segunda mostra.
“A ação tem como objetivo dar maior acesso da comunidade à arte, bem como maior visibilidade dos artistas em um espaço digno para exporem suas obras”. Assim definiu a iniciativa, a curadora do espaço, Elaine Emerick. O Galpão da Arte é abrigado nas instalações da loja Femac Móveis, com mais de 50 anos de existência, que hoje tem à frente o arquiteto e empresário Edvar Chagas Jr., que divide a curadoria do Galpão com Emerick.
Em sua primeira exposição, no início de agosto, o Galpão reuniu os artistas Yuki Satou (na foto, ao lado de Elaine), Isabelle Caldas, Daniel de Lima, Rodrigo Espinosa, Paula Amaral, Edmilson Leandro e Edinho Martins.
— A iniciativa surgiu em uma conversa com Edvar, sobre como poderíamos apoiar os artistas neste período (pandemia). Começamos visitando alguns artistas, depois com lives e também um acompanhamento no processo produtivo, já que alguns estão expondo pela primeira vez. — Explicou a curadora.
Nessa segunda mostra, o Galpão da Arte recebe trabalhos dos grafiteiros Andinho e Jhony; Carla Almeida com sua “arte em ferro”, Thiago Leite, com escultura e Arte Digital, e Ronaldo Araújo, com a sua Sketch Art (esboço), além das artes plásticas do pintor Paulo Vitor Carneiro.
Segundo os curadores, a expectativa é que os “artistas vivam da arte, desenvolvam suas habilidades artísticas, alinhadas ao empreendedorismo, uma vez que desejam se dedicar a arte em tempo integral”. A visitação está aberta, de forma gratuita, de segunda a sexta, das 9 às 18h, e aos sábados, das 9h às 13h. O Galpão da arte funciona na Femac Móveis à Avenida Alberto Lamego, 973, no Parque Califórnia.
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Sobre o autor

Edmundo Siqueira

edmundosiqueira@hotmail.com