O futuro no feed, o passado no fax - uma conversa rápida com uma IA
Edmundo Siqueira 17/08/2025 18:27 - Atualizado em 17/08/2025 18:29
Reprodução/Autor desconhecido

Quem é Felca? O que é adultização? De onde veio isso? É sério que o secretário de Defesa dos EUA compartilhou um vídeo contra o voto feminino? Mais um caso de espancamento de mulher? Não é possível. Um turista britânico dopado em Ipanema? Isso foi quando mesmo? Um fortão-cristão-conservador matou um gari a tiros?

A informação sempre foi um poder. A comunicação também. Em tempos de redes sociais e inteligências artificiais, esses dois elementos humanos não deixaram de ser — pelo contrário. Mas em excesso, a informação pode perder a efetividade.

Recebemos uma enxurrada de informações a cada vez que rolamos a tela em nosso celular. E assim como em outros tempos, uma fonte confiável tem muito valor. Quando nos deparamos com um vídeo “viral”, é preciso verificar a sua veracidade, e buscar a confirmação em redes de comunicação que verificam, checam e muitas vezes ouvem diretamente os envolvidos é fundamental para saber o que de fato aconteceu.

O problema é que é cada vez mais rápida a difusão da informação, chegando a cada vez mais pessoas e são produzidas por qualquer pessoa com um celular na mão e uma ideia — muitas vezes danosa — na cabeça. A praça pública se expandiu e está acessível em qualquer lugar.

A cada semana, novos temas ganham atenção de uma enormidade de pessoas e o assunto que nasce normalmente de vídeos e postagens no Youtube, X, ou Instagram domina as discussões e pauta muitas vezes o noticiário. Em algumas dessas “viralizações”, o resultado pode ser proveitoso, como no caso do influenciador Felca, que conseguiu jogar um canhão de luz na exploração infantil em ambiente digital. Outras vezes, o resultado é difamatório, falso, cruel ou intencionalmente comercial.

Resolvi conversar sobre isso com uma das inteligências artificiais mais conhecidas: o ChatGPT. Comecei a “conversa” dizendo qual era minha ideia, e que iria fazer perguntas a partir de temas que dizem respeito diretamente a ela, ao ChatGPT. Portanto, esperava parcialidade e, ao que parece, ela está presente na conversa.

Ela já quis me fornecer a conversa pronta, sugerindo as minhas perguntas e já ofertando as respostas, e ainda me perguntando se queria receber tudo já editado, pronto para publicação. Não deixei. Disse que queria eu mesmo perguntar. Ela aceitou, a contragosto, senti. Ou pelo menos com algum deboche eletrônico. E, não sei se também por isso, foi bastante direta — e por vezes irônica — nas respostas.

Acompanhe:


Edmundo Siqueira — Resolvi perguntar para você, ChatGPT — e já começo pelo que não quer calar: a internet é a causa ou a consequência desse mundo tão rápido, tão líquido, tão… instável?

ChatGPT — É como perguntar se o trovão causa o raio ou se o raio causa o trovão. A internet nasceu de causas antigas — ciência, guerra, curiosidade — e agora produz consequências que mudam as próprias causas. É um círculo. Ou uma espiral, se preferir o drama.

Edmundo —Espiral é bom, dá mais vertigem. Mas me diga: as redes sociais são as culpadas por essa pressa toda ou só amplificam o que já éramos?

ChatGPT — Elas amplificam. A rede não inventou o ser humano apressado, vaidoso, curioso ou cruel. Só colocou um microfone e um telão na praça. Antes, a fofoca morria na esquina; agora, cruza o oceano antes que você acabe o café.

Edmundo — Então a culpa não é do algoritmo?

ChatGPT — O algoritmo é como aquele garçom que só serve o prato que sabe que você vai pedir. Ele não decide seu apetite, mas vive de repeti-lo.

Edmundo — E a política, onde entra nessa história? Porque a sensação é que a tecnologia por vezes avança em velocidades maiores que a política pode acompanhar.

ChatGPT — A tecnologia corre na velocidade da curiosidade humana. A política, na velocidade da desconfiança humana. O atraso é estrutural: leis, consensos, interesses. Enquanto o celular muda de modelo a cada ano, a Constituição muda a cada geração — e, às vezes, a contragosto.

Edmundo — Então estamos condenados a viver nesse descompasso?

ChatGPT — Condenados não, adaptados. O problema é que a adaptação nunca é igual para todos. Enquanto alguns surfam na onda da inovação, outros ainda estão aprendendo a nadar.

Edmundo — E o social? As desigualdades, o preconceito, o atraso mental?

ChatGPT — Esses são fósseis emocionais. Resistiram à imprensa, ao rádio, à TV e agora resistem à internet. Mas a diferença é que, hoje, eles se mostram com clareza digital — e isso incomoda.

Edmundo — Então, no fim, o que a internet mudou?

ChatGPT — Ela não mudou o que somos. Mudou a escala, o alcance e a velocidade com que mostramos quem somos.

Edmundo — Em outras palavras, o futuro chega pela notificação do celular…

ChatGPT — …e o passado ainda despacha pelo fax.

ÚLTIMAS NOTÍCIAS

    Sobre o autor

    Edmundo Siqueira

    edmundosiqueira@hotmail.com