Folha Letras - Gastão Machado era assim...
20/08/2025 08:02 - Atualizado em 20/08/2025 08:02
Foto arquivo
 
Herbson Freitas*
GASTÃO - o inesquecível intelectual – vive. Vive na lembrança dos parentes, amigos, saudosistas e antigos acadêmicos. Vive também nas obras que deixou e nas homenagens recebidas até hoje.
Seu busto, homenagem do povo de Campos dos Goytacazes, inaugurado na Praça do SS. Salvador foi para o Jardim São Benedito (Praça Nilo Peçanha), em face há tempos da reforma do logradouro. A praça sempre foi o seu local preferido para os bate-papos. Na principal praça campista ele passou boa parte de sua vida boêmia. Porque era na praça ou nas praças que gostava de ficar até altas horas da noite conversando, brincando, fazendo humor e poesia. Tudo isso, no tempo que não existia vida noturna em Campos, quando as praças eram frequentadas pelas famílias, sem nenhum perigo de assalto ou de figuras inconvenientes. E quando a boemia não era balada, funk, rock, etc, porque esses ritmos não existiam. Eram serestas e saraus.
Gastão Machado amava Campos dos Goytacazes. Suas obras - quase todas - falam de Campos, exaltam a “Terra augusta de Peri, / Senhora de encantos mil! / Campos de Benta Pereira, / Cidade mais brasileira / De todo o nosso Brasil!” e revelam o seu grande amor pela “planície de intensos brilhos”. Gastão foi um intelectual completo, cidadão de bons princípios, amigo dos amigos, um ser humano admirável.
Mas quem foi realmente Gastão Machado? Porque tantos elogios? Ele merece? Era tudo isso que dizem? Sim, amigos! Eu o conheci de perto. Gastão Machado, assim como outras ilustres personalidades campistas do passado, não está esquecido pelos bons campistas e, em particular, pelos amigos ainda vivos.
Gastão Machado foi jornalista (redator do “Diário Oficial” do Estado do Rio de Janeiro), teatrólogo, especialista em revistas teatrais, escritor, desenhista, poeta, empresário e boêmio - no bom sentido da palavra. Fez parte do grupo “Topa Tudo” das noitadas alegres da cidade. Escreveu em torno de 40 peças de teatro, o livro “Os crimes célebres de Campos” e deixou muitos e muitos “causos” da “arca da velha”.
Fostos de arquivo
Foi um dos fundadores da Associação de Imprensa Campista e da Academia Campista de Letras; teve revistas encenadas no Rio de Janeiro, com o saudoso imortal Raimundo Magalhães Júnior; foi co-proprietário do inesquecível Teatro Floriano e sócio do ator-empresário Anthony Vasconcelos, no Pavilhão Vasconcelos, de saudosa memória, investindo em cultura o pouco que ganhava como servidor público estadual.
Era um homem simples, educado, alto, forte, moreno, que distribuía simpatia e que possuía uma verve inteligentíssima. Contava “causos” como ninguém. Foi, talvez, o criador do “sopão dos pobres”. Oferecia sempre, no final da tarde, em sua residência, um sopão para os tipos populares da época, com o objetivo de se inspirar para elaborar os personagens de suas revistas, dentre elas a famosa “Campos é assim...”, além da comédia “Petróleo no Turfe” e outras. A parteira Anita Tâmega (Ana), sua esposa, ficava “polícia” da vida e Gastão, com o sopão, se divertia também pra valer com o lambuzamento...
Gastão Machado, doente, no final da vida, depois de sofrer três derrames, tendo o último afetado a sua voz, dizia, nas nossas conversas amigas, em sua residência e na praça (Praça do SS. Salvador), em tom de troça: - “Vooocê é Praça São Salvador (era assim chamada) ou Jardim São Benedito? Vooocê, vooocê, vooocê é Americano ou Goyyytacaz?” Era sempre assim, brincalhão, gozador. E seu interlocutor respondia às suas brincadeiras com muita graça.
Dessa forma, Gastão Machado, lembrando de coisas da terra, ia transmitindo aos que o cercavam o seu enorme amor por Campos - sua história, sua gente e suas coisas. Gastão Machado, em suas brincadeiras, dizia que era preciso cercar o mundo, porque ele estava muito louco. É verdade! Falando com dificuldade, em face dos AVCs, perguntava a quem o abordava, as mesmas perguntas de sempre: - “Vooocê é Caaampos ou Riiio de Jaaaneiro? Caaaas Maaachado Viiiana ou Caaasas Draaagão? Laaado diiireito ou esqueeerdo da rua?”.
No banco do jardim, ele conversava até as coisas melhorarem. Não gostava de ficar só. Pedia sempre a quem estava com ele para só sair quando chegasse o seu substituto. Implicava, no bom sentido, com aqueles que não gostavam de ser gozados. Mas insistia. Suas “vítimas” eram muitas: “Maneco”, antigo caixista da Sociedade Musical Lira de Apolo; Anthony Vasconcelos, dos tempos do Pavilhão Vasconcelos, entre outros.
Quando a Companhia Teatral Iracema de Alencar veio se apresentar em Campos e os ensaios eram realizados na Associação de Imprensa Campista, enquanto o cenário era montado no Cine Teatro Trianon, Gastão Machado e seu colega Sílvio (Pélico) Fontoura, desfrutaram as carícias da consagrada atriz-empresária com muita garra. Bons tempos! Os dois jornalistas tinham grande prestígio nos meios artísticos. Esse foi Gastão Machado, que, por outro lado, era um homem sensível e apaixonado pela sua terra, correto chefe de família e amigo, tendo escrito para a revista teatral “Campos é assim...”, um belíssimo monólogo em versos de exaltação à terra de Benta Pereira, intitulada “Bairrismo”, cujo final segue reproduzido a seguir: “Em teu nobre seio abrigas | As tradições mais amigas, | Mais caras de nossa gente, | Pois o verde canavial | É a Bandeira Nacional | Que Deus te deu de presente”.

(*) Imortal da Academia Campista de Letras.

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