Dora Paula Paes
03/12/2025 07:47 - Atualizado em 03/12/2025 07:49
Rodrigo Silveira
Com meta de implementação em 2026, Campos tem seu Afro-Roteiros. A iniciativa de mapeamento, organização e curadoria de pesquisas revelam a presença, a história e o protagonismo da população negra na formação do município. Em pleno Calçadão, no centro da cidade, encontram-se marcos dessa história como Pelourinho (o primeiro ficava próximo à margem do Rio Paraíba do Sul), local de castigo e epicentro do comércio de pessoas escravizadas. O roteiro tem como principal narrativa rever a cidade com outros olhos e reconhecer memórias silenciadas.
A partir de estudos acadêmicos, documentos históricos, narrativas comunitárias e registros de memória, o projeto identifica e torna visíveis pontos da cidade que foram marcados pela presença negra – seja em experiências de resistência, espaços de trabalho, formação cultural, religiosidade, liderança política ou produção de saberes tradicionais.
Para chegar ao atual ponto, a pesquisadora e idealizadora do projeto, Simone Pedro conhece cada local e sua história. O início do projeto com passeios foi em 2019 e 2023, quando levou na caminhada pesquisadores de História Regional (professores e alunos das Universidades públicas de Campos), além de professores da rede municipal. “O foco sempre foi a educação, por onde tudo começa”, disse.
A intenção de Simone é transformar esses lugares em pontos de memória. “O projeto Afro-Roteiros busca recontar a história local a partir de uma perspectiva afrocentrada, mostrando como a população negra estruturou territórios, construiu práticas culturais e sustentou formas de organização social que moldaram a cidade tal como ela existe hoje”, reforça.
O projeto avança agora para uma nova fase: a criação de uma ferramenta didática digital que permitirá o uso dos roteiros em contextos educativos, oferecendo um recurso prático para o ensino da História e Cultura Afro-Brasileira, conforme previsto na Lei 10.639/2003. O projeto, agora, também pleiteia incentivos e apoios de editais e instituições.
Segundo Simone Pedro, idealizadora do projeto, a plataforma será acessível a escolas, universidades, grupos culturais, pesquisadores e comunidade em geral, tornando-se um instrumento de letramento racial, educação patrimonial e fortalecimento da identidade negra, podendo ser aplicado em diferentes níveis de ensino.
“Mais do que um mapa, o Afro-Roteiros é um convite para rever a cidade com outros olhos, reconhecer memórias silenciadas e fortalecer a construção de um futuro em que a história negra seja valorizada como parte central da história do Brasil”, destaca.
Rodrigo Silveira
No centro da cidade de Campos é possível encontrar dentro deste roteiro a Lyra de Apolo. Ela é a mais antiga corporação musical de Campos dos Goytacazes, fundada em maio de 1870. Seu prédio histórico, localizado na Praça São Salvador, foi danificado por um incêndio em 1993 e está em processo de restauração desde 2012. A Lira, considerada patrimônio histórico e imaterial do município, oferece aulas gratuitas e busca preservar a tradição musical da cidade.
Rodrigo Silveira
Outro ponto é a Casa de Câmara e Cadeia - atualmente, o Museu Histórico de Campos. Conta Simone, que a Casa de Câmara e Cadeia era um importante aliado do sistema escravocrata na manutenção da ordem e dos poderes coloniais. “Seus documentos trazem com riqueza de detalhes a severidade no tratamento com a população escravizada e o extremo controle sobre a mesma nos espaços públicos”, explica.