Pai denuncia negligência em centro de treinamento
Um adolescente de 17 anos foi internado em um hospital particular de Campos sem o movimento das pernas e da mão após participar de uma aula experimental de MMA em um centro de treinamento no Turfe Clube, em Campos. O caso aconteceu na última segunda-feira (22). A família do rapaz fez um registro de ocorrência sobre o caso na quarta-feira (24), véspera de Natal, e alega negligência. O professor e o proprietário do CT negaram que o rapaz tenha saído passando mal e que, após saberem da situação, ofereceram todo o apoio ao adolescente.
Thiago Amorim, pai do adolescente, relatou que seu filho sentiu um estalo quando o professor teria feito uma chave de cervical e que teria relatado estar sentindo o rosto e perna dormentes, e visão turva, o que teria sido ignorado. O jovem é praticante de muay-thay e musculação há dois anos.
Ainda segundo relato do pai, seu filho foi embora de bicicleta acompanhado de um amigo e no caminho de casa começou a perder os movimentos de braços e pernas, ficando impossibilitado de continuar pedalando. “Ele parou e deitou no chão. E o amigo que o acompanhava em outra bicicleta acudiu. A mãe de um colega acabou passando na hora, por coincidência, e prestou socorro”, disse Thiago.
Inicialmente, o adolescente foi levado para o Hospital da Unimed e, em seguida, para o Dr. Beda, onde atendia o convênio da família. O pai contou, ainda, que o filho chegou semiconsciente e com a visão turva. No hospital fez exames de imagem, como tomografia e ressonância. “A tomografia não apresentou fratura, mas a ressonância apontou um edema na cervical”, contou o pai.
Por conta de uma dificuldade na respiração, o adolescente ficou dois dias internado na UTI. “Quase teve que ficar na respiração mecânica, mas graças a Deus não foi preciso. Hoje ele está evoluindo bem, com alguns movimentos involuntários nas pernas, mas sem o controle dela e sem o movimento dos dedos”, disse Thiago ao acrescentar que o garoto pode receber alta na próxima semana, mas sem saber se haverá sequelas.
O professor que conduziu a aula, Humberto Braga, relatou que a aula foi dividida em duas partes e ele tomou conta da parte de solo, sem nenhum problema. “Conversamos sobre alguns assuntos de luta na saída e perguntei se eles tinham gostado. Expliquei e contei algumas histórias a eles, e nos despedimos”, disse.
Humberto, que atua na área há mais de 30 anos, também contou que o adolescente não fez nenhuma queixa de dor em momento algum. “Durante a execução da chave, ele não reclamou de nada, inclusive continuamos. Na área de luta, ele não reclamou de nada, de dor em lugar nenhum, e a última posição que eu mostrei a ele foi uma ‘mão de vaca’, um ponto de pressão na nossa mão”, contou.
O professor disse, ainda, que na saída o adolescente relatou um formigamento na mão. “Na saída nós descemos o CT conversando, dando risada. Ele relatou que a mão dele estava formigando. Como a última posição foi uma ‘mão de vaca’ na mão e, como há um ponto de pressão, realmente depois a mão fica às vezes dolorida até por 15 a 20 minutos. Daí eu concluí, não sou médico, que iria passar. Desejei feliz Natal a todos eles, perguntei se tinham gostado, que eu esperava eles retornarem, que era a última aula do ano. E assim foi feito, me despedi dos três, peguei meu filho de 5 anos e fui embora para casa”, disse Humberto ao reafirmar que não foi relatado nenhuma dor ou estado para ele: “Se eu soubesse que havia algo na coluna, eu teria levado ele na hora direto para o hospital”.
Ainda segundo Humberto, ele só soube da internação do adolescente na terça-feira (23). “O proprietário do CT que me contou o que tinha acontecido e desde aquele momento meu mundo acabou. Jamais quero me igualar ao que a família está passando, mas meu mundo acabou. Inclusive, eu nunca mais vou dar aula”, comentou.
O proprietário do centro de treinamento, Henrique Pit, contou que o adolescente se interessou em fazer a aula experimental por meio das redes sociais. “Ele já conhecia um aluno nosso e mandou mensagem pelo Instagram perguntando sobre a aula experimental. Na hora da aula, ele chegou com um amigo e depois chegou o aluno nosso que era conhecido dele. Ficaram na aula até 20h30 e depois desceram no final da aula para ir embora”, disse ao acrescentar que ficou sabendo da situação do adolescente na terça-feira.
Tanto Henrique quanto Humberto disseram que, assim que souberam da situação, a família foi procurada.
— A minha maior preocupação é com a saúde do menino. Nunca que iríamos deixar de prestar assistência numa situação dessas. Liguei para a mãe dele para oferecer todo o suporte — disse Henrique.