Ao menos uma história romântica no PT campista
13/10/2024 | 12h14
Arte digital crida com IA
Arte digital crida com IA / Edmundo Siqueira

O amor da deputada Carla Machado foi uma mentira que a vaidade do PT de Campos quis acreditar. Ela não poderia ser candidata à prefeita de Campos por uma questão jurídica, e a proximidade dela com o também deputado e presidente da Alerj, Rodrigo Bacellar, denunciava que haveria uma aliança.

O PT de Campos acertou no candidato, porém deveria — mesmo agindo em “poesia de cego” ou em um “amor inventado” — ter apostado no professor Jefferson desde o início. Mas decidiu, em um corte lento e profundo, o deixar como segunda opção.

Eleger alguém do PT em uma cidade como Campos não é tarefa simples. Seja prefeito ou vereador. Exigiria desconstruir uma rejeição enorme, ou pelo menos atrair a maioria do eleitorado que se identifica com o campo progressista na cidade. E pior: assim como em outros locais, as esquerdas são divididas, e os liberais, sociais democratas e liberais sociais não optam por votar no PT automaticamente; é uma escolha que requer cálculo político do eleitor desse campo.

A verdade é que o PT não conseguiu cumprir nenhum dos objetivos que parecia disposto nesta eleição. Não elegeu Jefferson, sequer conseguiu o número de votos esperado e não elegeu nenhum vereador. Existem muitas explicações, mas para uma enormidade de eleitores campistas, ver Lula no material de campanha dos candidatos locais não era “mais tão bacana quanto a semana passada”.

Mas, apesar da rejeição sabida, era Lula que aparecia na campanha petista. Pensar que o campista que votou em Lula na última eleição presidencial iria votar para prefeito e vereador, apertando o 13 novamente, foi mais uma mentira que a vaidade do PT quis.

Quando a eleição acaba, a gente pode pensar que ela nunca existiu. Mas há um trabalho necessário a ser feito. Campos precisa se reencontrar com as esquerdas e com a direita democrática (ou centro-direita). Os anos Bolsonaro criaram um campo de extrema-direita na cidade que não é saudável à nossa já combalida democracia.

A questão aqui não é culpar o PT, apontar erros gratuitamente ou mesmo ser engenheiro de obra pronta, como se diz. A questão é reconhecer que estaremos por mais quatro anos sem representação progressista em Campos. É claro que houve compra de votos e derrama de dinheiro. Uma conta de padaria rápida prova isso com a quantidade de bandeiras nas ruas. E é claro que pode-se olhar o copo meio cheio. O PT ampliou o número de votos comparado à última eleição. Mas o resultado foi insatisfatório; não se elegeu ninguém do campo progressista.

Muito pode ser feito sem mandato, mas uma representação formal, na Câmara de Vereadores, tem o poder de interferir em políticas públicas, formar maior consciência política, e dar pluralidade representativa. Ocupar espaços de poder é fundamental.

Mas ficou “tudo fora do lugar; café sem açúcar, dança sem par”. Mas as esquerdas podiam “ao menos contar uma história romântica” nesse interregno até 2028, passando por 2026. E uma um pouco mais pragmática nos anos decisivos.
 
*
O Nosso Amor a Gente Inventa
Cazuza


O teu amor é uma mentira
Que a minha vaidade quer
E o meu, poesia de cego
Você não pode ver

Não pode ver que no meu mundo
Um troço qualquer morreu
Num corte lento e profundo
Entre você e eu

O nosso amor a gente inventa
Pra se distrair
E quando acaba a gente pensa
Que ele nunca existiu

O nosso amor a gente inventa, inventa
O nosso amor a gente inventa

Te ver não é mais tão bacana
Quanto a semana passada
Você nem arrumou a cama
Parece que fugiu de casa

Mas ficou tudo fora do lugar
Café sem açúcar, dança sem par
Você podia ao menos me contar
Uma história romântica

O nosso amor a gente inventa
Pra se distrair
E quando acaba a gente pensa
Que ele nunca existiu

Mas ficou tudo fora do lugar
Café sem açúcar, dança sem par
Você podia ao menos me contar
Uma história romântica

O nosso amor a gente inventa
Pra se distrair
E quando acaba a gente pensa
Que ele nunca existiu

O nosso amor a gente inventa, inventa
O nosso amor a gente inventa
 
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Entre fortunas, erros e virtudes, Campos decidiu reeleger o príncipe
07/10/2024 | 08h19
Arte digital criada com IA
Arte digital criada com IA / Edmundo Siqueira


Foi em primeiro turno. Em votos válidos, Wladimir recebeu 69,11%. Uma vitória esmagadora que provou que o prefeito de Campos não teve apenas habilidade política ou o bom uso do sobrenome que carrega. Quem acompanhou o jogo pôde perceber que ele soube trabalhar com dois fatores essenciais da política: a “virtù” e a “fortuna”.

Essa coisa de virtude e fortuna foi explicada na política por Nicolau Maquiavel — que era tudo, menos um ingênuo —, quando escreveu sua obra seminal “O Príncipe”, em meados de 1500. Em suma, o governante precisa de talento para liderar (virtù) e sorte para aproveitar as oportunidades (fortuna).

Wladimir, que não nasceu ontem, soube jogar com os dois. De um lado, ele carregou a política local nas costas, fazendo o que sabe fazer melhor: articulação. De outro, teve a sorte de navegar por um cenário onde seus adversários somados não conseguiram chegar a 10% dos votos, com exceção da Delegada Madeleine, que conseguiu 24,22% dos votos válidos, e mostrou forte consistência em todas as zonas eleitorais.

Em Campos, uma cidade com problemas endêmicos de infraestrutura e serviços públicos deficitários, principalmente em transporte, ele conseguiu o que parecia improvável: alta popularidade, alta taxa de conhecimento e a reversão de uma impopularidade histórica de seu grupo na chamada “pedra”, na zona 98. Isso não é pouco. Maquiavel aplaudiria.

Ele soube usar a máquina pública para agradar o povo com programas sociais, melhorias pontuais e espetacularização do fazer político. E ainda mais importante: Wladimir conhece o cheiro do poder e, como bom estrategista, sabe quando avançar e quando recuar. E demonstrou uma baita habilidade em gestão de crises.

A exceção, que confirma a regra, foi a relação com a Câmara, que não soube manejar e acabou perdendo a presidência em um momento crucial para seu governo, momento onde também recebeu questionamentos agressivos da oposição.
Folha1
A “fortuna”
A sorte (fortuna) sorriu para ele quando seu xará, o presidente da Rússia Vladimir Putin, iniciou contra a Ucrânia, um de seus países vizinhos, uma invasão militar, marcando uma escalada para um conflito que começou em 2014. Entre outros fatores, a guerra elevou o preço do barril de petróleo, e a petrorentista Campos viu seus cofres gordos novamente. Soma-se a isso uma retomada natural da economia no pós-pandemia, e o cenário é bastante favorável.

A sorte foi dele, e ele soube aproveitá-la. Maquiavel dizia que a “virtù” do governante é sua capacidade de se adaptar às circunstâncias. O resultado eleitoral refletiu a sorte e a virtude Wladimir, mas também foi permitida por uma oposição que não soube se organizar. Parecia que todas as forças estavam fora de lugar na campanha. Os números estampados nos bonés muitas vezes eram diferentes da atuação partidária. Havia bipolaridade em uma oposição que deveria estar plenamente sadia. Além da campanha, a “pacificação” de antes, entre o grupo Bacellar e Wladimir favoreceu o prefeito, que fez cara de paisagem e colheu os frutos dela.

Contrariar as estatísticas é o desafio
Wladimir Garotinho navegou com destreza entre a virtù e a fortuna. Ele fez o que precisava, jogou com as cartas que tinha e venceu a partida. Mas o problema de brincar de príncipe é que o castelo, uma hora ou outra, pode começar a ruir. Não será o primeiro, nem o último a ver a “fortuna” mudar de humor.

Campos dos Goytacazes, esse feudo resistente, pode ser generosa com seus líderes, mas é impiedosa quando as promessas não resistem à realidade. Wladimir, esperto como o clã lhe ensinou, sabe que o jogo não acabou. Se Maquiavel estivesse por aqui, talvez dissesse que agora começa o verdadeiro teste: sobreviver à própria sombra.

E aí, meu caro Wladimir, quando a “fortuna” cansar de você, seu verdadeiro feito vai ser contrariar o que lhe favoreceu nessa eleição: as estatísticas. Precisará fazer um segundo governo melhor que o primeiro.
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Como cultura e patrimônio estão inseridos nos planos de governo dos candidatos à prefeitura de Campos?
08/09/2024 | 12h19
Campos dos Goytacazes é uma cidade de orçamento bilionário. Desde meados dos anos 1980, vem recebendo vultosos recursos oriundos da exploração de petróleo, e, antes disso, beneficiava-se dos ciclos econômicos da pecuária e da cana-de-açúcar. Constituiu-se como um centro urbano importante ainda no Brasil Império e possui localização privilegiada.
Por esses e outros fatores, estabeleceu-se como uma referência regional em saúde, comércio, imprensa, universidades e serviços, além de ter produzido lideranças políticas de relevância nacional.
Porém, alguns setores foram negligenciados ao longo do tempo. Cultura, turismo, meio ambiente e mobilidade urbana estão certamente entre eles. A negligência de sucessivos governos e o desinteresse do empresariado campista em investir nessas áreas deixaram provas inequívocas na paisagem de Campos: diversos patrimônios materiais históricos deixaram de existir, outros tantos estão em ruínas; o movimento turístico é irrisório; áreas como Lagoa de Cima e Imbé foram abandonadas; e há poucas opções de modais de transporte.
Interligados em uma cidade histórica como Campos, cultura e turismo começaram a ganhar algum destaque recentemente. O uso de áreas como o Cais da Lapa e o centro histórico está em discussão; solares como os Airizes e Colégio receberam investimentos e também estão sendo debatidos, assim como o Mercado Municipal.
Embora sejam setores com potencial para gerar empregos, divisas e impostos — além de promover pertencimento e educação — cultura e turismo carecem de políticas públicas em Campos. Décadas de negligência não se resolvem sem ação efetiva e perene, e movimentos isolados não possuem força suficiente para mudar o cenário.
Mas, como estão as áreas cultural e patrimonial nos planos dos sete candidatos à prefeitura nesta eleição? Quais compensações foram apresentadas como propostas? Cultura está entre as prioridades nos planos de governo? Qual plano se destaca?
Essas questões são respondidas a seguir, com uma análise dos planos de governo dos candidatos em ordem alfabética, conforme os respectivos nomes de campanha (veja números das últimas pesquisas aqui):
 
DELEGADA MADELEINE
 
  • Candidata a prefeita: Madeleine Dyckman Farias (Delegada Madeleine)
    Partido: União Brasil
    Candidato a vice-prefeito: Oziel Baptista (Ozielzinho)
    Partido: PSB
    Quantas vezes “cultura” é citada: 4
    Quantas vezes “patrimônio” é citado: 0
 
O tema da cultura é tratado de forma tímida no programa de governo da candidata. No eixo turismo, o item 2.6.3 propõe "incentivar a cultura do turismo interno, inclusive com a preparação de recursos humanos com impacto direto". O item também cita como “importante, ou fundamental, pessoas que falam outros idiomas, como inglês e espanhol”
Há também a proposta de "inserir a cultura como um tema relevante para o desenvolvimento do turismo", e a priorização dos "eventos tradicionais da população, como a folia de reis".
O plano, entretanto, não apresenta nenhuma proposta para a preservação do patrimônio histórico.

DR. BUCHAUL
 
  • Candidato a prefeito: Alexandre Buchaul (Dr. Buchaul)
    Partido: Novo
    Candidato a vice-prefeito: Isaac Vieira
    Partido: Novo
    Quantas vezes “cultura” é citada: 4
    Quantas vezes “patrimônio” é citado: 0
 
A cultura aparece no 3º item dos Eixos Temáticos do plano de governo de Dr. Buchaul, porém, também trata o tema de forma superficial. No item “Educação, cultura e esporte”, o foco está na educação, sem detalhamento específico para cultura. A cultura também surge em "Segurança Pública", quando diz que irá “estruturar intervenções integradas de prevenção ao crime, em cooperação com as áreas de cultura, educação, saúde, assistência social e com as forças de segurança” propondo intervenções preventivas.
No eixo "Transporte Coletivo e Mobilidade", com projetos de revitalização de terminais , citando “revitalizar terminais de ônibus e metrô por meio de projetos que ampliem as atividades comerciais e culturais oferecidas aos usuários do transporte coletivo”.
O plano não apresenta nenhuma proposta para a questão patrimonial.

FABRÍCIO LÍRIO
 
  • Candidato a prefeito: Fabrício Lírio Rodrigues (Fabrício Lírio)
    Partido: Rede Sustentabilidade
    Candidata a vice-prefeita: Vanessa da Enfermagem
    Partido: Rede Sustentabilidade
    Quantas vezes “cultura” é citada: 19
    Quantas vezes “patrimônio” é citado: 3
 
O plano de governo do candidato Fabrício Lírio também traz o tema em conjunto com educação e esporte, mas dedica um subitem específico para a cultura. Propõe a criação de “Centros Culturais” nos bairros, “para promover a cultura local” e a criação de um “Calendário Cultural”, propondo a valorização de “tradições locais”.
O plano também traz a proposta de “incentivar os artistas locais por meio de programas de investimento em arte e cultura” e “workshops culturais”, com objetivo de “identificar artistas locais”.
A cultura volta no item 9 do plano de governo do candidato Fabrício Lírio, também dividindo espaço com o turismo, mas traz propostas específicas sobre o patrimônio histórico: “implementar políticas de preservação do patrimônio histórico e cultural, revitalizando áreas e prédios históricos locais”.
Também cita como ideia fomentar “parcerias com as universidades para garantir a pesquisa contínua sobre nossa cultura” e a criação de “Roteiros Turísticos”, com objetivo de “desenvolver roteiros turísticos que valorizem a cultura, história e natureza do município, promovendo o turismo sustentável”.

PASTOR FERNANDO
 
  • Candidato a prefeito: Fernando Sergio Trindade Crespo (Pastor Fernando)
    Partido: PRTB
    Candidata a vice-prefeita: Dr. Carlito
    Partido: PRTB
    Quantas vezes “cultura” é citada: 50
    Quantas vezes “patrimônio” é citado: 3
 
Assim como os demais até aqui, traz a cultura como tema acessório, em conjunto com o “esporte” e “lazer”. Mas dedica um subitem exclusivo à cultura, dizendo na introdução que “a cultura e um elemento vital para a identidade e a coesão social” e que “promover a cultura e essencial para valorizar nossa historia, nossas tradições e nossa criatividade”.
Entre as propostas para a cultura, o plano traz a criação de “Espaços Culturais”, apoio para “artistas locais” e a criação de “festivais e eventos culturais”. No fechamento do item dedicado à cultura, o candidato traz novamente a ideia de “valorizar nossa identidade e promover a coesão social” e cita a cultura como um elemento capaz de “impulsionar o desenvolvimento econômico”.
Sobre patrimônio histórico, o candidato insere o tema em conjunto com o turismo, onde pretende “explorar o potencial turístico do município, promovendo as belezas naturais e o patrimônio histórico cultural”. A questão patrimonial também aparece quando é tratado o tema da “Revitalização de Áreas Urbanas Degradadas”.

PROFESSOR JEFFERSON
 
  • Candidato a prefeito: Jefferson Manhães de Azevedo (Professor Jefferson)
    Partido: PT
    Candidata a vice-prefeita: Mayra Coriolano Freitas
    Partido: PT
    Quantas vezes “cultura” é citada: 40
    Quantas vezes “patrimônio” é citado: 6
 
O plano de governo do candidato traz a cultura associada à questão patrimonial, dedicando um item exclusivo para isso, denominado como “Cultura, Patrimônio Histórico e Turismo”. Como proposta central, pretende destinar “1% do orçamento municipal para o Fundo Municipal de Cultura”, onde, segundo a proposta, deverá custear o que está previsto no Plano Municipal de Cultura.
O Plano Municipal de Cultura foi instituído em Campos através da Lei 9.065, de 31 de maio de 2021, e traça diretrizes e políticas públicas da área para a cidade até 2031. Constituir um plano é uma obrigação dos municípios brasileiros, conforme diretriz do Ministério da Cultura, e é requisito para receber algumas verbas estaduais e federais.
O candidato Professor Jefferson cita ainda como proposta o “reconhecimento do papel dos órgãos representativos do Sistema Municipal de Cultura do município”, como o Comcultura, Coppam e Funcultura. Apresenta também como proposta a realização de concurso público para a área.
Também traz o uso da educação patrimonial nas escolas municipais, para “atuação como elo entre a cultura, o patrimônio e as unidades escolares e os munícipes” e para identificar “potenciais artistas nas diversas modalidades culturais e artísticas” entre os alunos. Propõe a utilização do CEPOP como “equipamento cultural” e garante a realização de eventos “já tradicionais”, como o carnaval, Bienal do Livro, Festival Doces Palavras (FDP!) e Rock Goitacá. Cita ainda o “reconhecimento da cultura do povo negro e periférico do município”.
Sobre a questão patrimonial, o candidato propõe a criação de uma “política pública de recuperação e preservação do patrimônio histórico-cultural municipal”, e a “implantação de museus temáticos para divulgar e preservar a memória e a história da população campista”. Também propõe “a criação de mais duas Casas de Cultura em distritos mais distantes do centro”.

THUIN
 
  • Candidato a prefeito: Raphael Elbas Neri De Thuin (Thuin)
    Partido: PRD
    Candidata a vice-prefeito: Clodomir Crespo
    Partido: DC
    Quantas vezes “cultura” é citada: 57
    Quantas vezes “patrimônio” é citado: 3
 
O candidato inicialmente traz a cultura dentro do eixo “comércio”, com o subitem “Cultura e Entretenimento”. trazendo como proposta “promover eventos culturais e de entretenimento no centro da cidade” e “parcerias com artistas locais para revitalizar fachadas e espaços públicos com murais e intervenções artísticas”.
No eixo “turismo”, propõe a organização de “eventos e festivais temáticos que celebrem a cultura” e a criação de um “calendário anual de eventos”. O candidato dedica o item 16 do plano de governo para a “cultura e entretenimento”, onde propõe a “valorização da cultura local” e o “desenvolvimento de eventos e espaços culturais que enriqueçam a vida dos cidadãos”. Cita a ideia de “transformar Campos dos Goytacazes em um polo cultural dinâmico”, e “fomentando a diversidade cultural”.
O plano segue com outras propostas para a cultura, como a “formação e capacitação cultural”, pretendendo “desenvolver programas de formação e capacitação em diversas áreas artísticas” e oferecer “programas de formação e capacitação em diversas áreas artísticas”. Também propõe a “realização de festivais de cinema, teatro e música”, feiras exposições, “festivais culturais” e “centros culturais e comunitários”.
Como inovação, propõe a criação de “Programas de Residência Artística”, onde pretende “desenvolver programas de residência artística para atrair artistas de outras regiões e países, promovendo o intercâmbio cultural”. Como continuidade (a Secretaria Municipal de Captação de Recursos e Convênios foi criada pela Lei 9.463, de 14 de março de 2024), cita a criação de “Subsecretaria para Captação de Recursos e Fomento a Projetos Culturais”, para “promover a captação de recursos através de leis de incentivo à cultura”, “parcerias com empresas” e “suporte técnico e financeiro para a elaboração e execução de projetos culturais”.
Na questão de patrimônio histórico, o candidato propõe que seja realizado um “inventário e divulgação do patrimônio cultural (...) material e imaterial de Campos dos Goytacazes, incluindo monumentos, edificações históricas, festas populares, artesanato e tradições locais”. Também cita como ideia “divulgar amplamente o patrimônio cultural através de exposições, publicações, mídias sociais e campanhas educativas”.

WLADIMIR GAROTINHO
 
  • Candidato a prefeito: Wladimir Barros Assed Matheus de Oliveira (Wladimir Garotinho)
    Partido: PP
    Candidata a vice-prefeito: Frederico Paes
    Partido: MDB
    Quantas vezes “cultura” é citada: 10
    Quantas vezes “patrimônio” é citado: 1
 
O plano de governo do candidato traz inicialmente a cultura inserida em outros itens, nas propostas para a “terceira idade”, “infância e juventude” e “turismo”. Entre as propostas, cita que irá “implementar levantamento georreferenciado para atualizar inventário turístico de pontos históricos, culturais, belezas naturais” e a criação de um “Portal digital”, trazendo informações turísticas de Campos.
Cita ainda a capacitação de “alunos da rede pública municipal para atuarem como condutores turísticos mirins, incentivando o interesse pelo patrimônio cultural local e enriquecendo a experiência de aprendizagem”.
No item dedicado à cultura, o plano evidencia o Arquivo Público Municipal, o Solar dos Airizes, o Teatro Trianon e o Teatro de Bolso, relacionando com o tema do patrimônio material de Campos.
Propõe “manter e prover o Arquivo Público Municipal, para preservação e acesso ao acervo de documentos públicos e privados de interesse da população”, e a criação do “Museu Campos de Energias”, no Solar dos Airizes, “visando resgatar a importância histórica de atividades produtivas, manifestações históricas e culturais, relativas à matriz elétrica e sucroenergética de nossa cidade”.
Para os teatros, propõe a “expansão dos serviços oferecidos pelo Teatro Trianon e Teatro de Bolso, para impulsionar a cultura, criação, inovação e a diversidade artística no Município”.

*
Cultura e patrimônio ainda não vistos como um potencial 
A análise dos programas de governo dos sete candidatos à prefeitura de Campos dos Goytacazes revela uma tendência recorrente: a cultura, o patrimônio e o turismo ainda são tratados como temas periféricos, mesmo em uma cidade com histórico e potencial econômico para explorá-los de maneira estruturada. Apesar do reconhecimento de sua importância, poucos planos apresentam propostas verdadeiramente robustas e detalhadas para enfrentar décadas de negligência.

Campos, com seu orçamento bilionário, localização privilegiada e herança histórica, tem o potencial de se tornar um polo cultural e turístico. No entanto, esse caminho requer ações integradas e políticas públicas contínuas, capazes de preservar o patrimônio material e imaterial e fomentar o turismo de forma sustentável.
Infelizmente, a maioria dos candidatos falha em reconhecer o papel estratégico dessas áreas, limitando-se a propostas pontuais, sem a necessária articulação com o desenvolvimento econômico e social da cidade.

Sem o uso sustentável do patrimônio histórico, e com os empresários locais, historicamente alheios a esses setores, o poder público, seja quem for ocupar a cadeira em 1º de janeiro de 2025, precisa incentivar o investimento, pois a revitalização desses setores não será possível sem uma parceria público-privada sólida.

Campos precisa mais do que intervenções isoladas. A cidade carece de um projeto ambicioso e consistente que posicione a cultura e o patrimônio como motores de desenvolvimento econômico e de pertencimento. Sem isso, a paisagem seguirá marcada pelo abandono, e as promessas de campanha permanecerão vazias.
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Economia do Norte Fluminense e eleições no Folha no Ar desta quinta-feira (5)
04/09/2024 | 04h35
Economista e professor da Uenf, Alcimar Chagas Ribeiro foi o convidado do Folha no Ar desta quinta (5), ao vivo , na Folha FM 98,3. Ele falou sobre a economia da região Norte Fluminense, trazendo análises sobre os impactos de grandes investimentos como o Porto do Açu e da exploração de petróleo, e as relações econômicas e sociais históricas de Campos e região.

Alcimar comentou á ainda sobre o cenário apontado pelas pesquisas eleitorais de Campos e cidades vizinhas (veja aqui), com uma olhar da academia sobre o processo político municipal.

Confira a entrevista:
Bloco 1
 
 
Bloco 2
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São Paulo mudando a cara do bolsonarismo e dando fisionomia ao centro
27/08/2024 | 09h13
Reprodução


No meio político, é comum dizer que a eleição seguinte começa assim que a anterior termina. Nessa lógica, a campanha de 2026 terá início assim que o pleito deste ano finalizar a contagem dos votos e definir quem estará à frente das prefeituras e câmaras.

As capitais, pela densidade eleitoral e importância econômica, servem como termômetros para que as forças políticas delineiem suas estratégias para 2026. E São Paulo, a maior e mais rica capital brasileira, parece oferecer respostas para duas questões centrais do binarismo político atual: é possível um bolsonarismo sem Bolsonaro? Existe um centro político no Brasil?

O candidato Pablo Marçal (PRTB) se apresenta como um representante da direita: um empresário-coach que exalta o empreendedorismo e a meritocracia, adota um conceito alargado de liberdade, propõe ideias mirabolantes para a cidade e ataca adversários políticos de forma agressiva, muitas vezes criando factoides. Naturalmente, mantém uma postura anti-sistema.

Marçal possui proximidade com Bolsonaro e já o apoiou financeiramente. No entanto, ele enfrenta como concorrente pela prefeitura de São Paulo Ricardo Nunes (MDB), o candidato oficialmente apoiado por Bolsonaro. Os ataques de Marçal a Nunes geraram tensões no bolsonarismo, com um recente bate-boca nas redes sociais. Carlos Bolsonaro foi chamado de “retardado” por Marçal.

Mas isso não é tudo. Marçal controla uma gigantesca máquina digital, não apenas por meio de suas próprias redes, com milhões de seguidores, mas também estimulando pequenos perfis a viralizar vídeos curtos de seus posicionamentos. Essa estratégia inclui concursos: quem conseguir mais visualizações ganha, além de curtidas e status, prêmios em dinheiro oferecidos pelo próprio Marçal.

Esse combo de “nova direita”, anti-sistema, coach e influenciador tem o potencial de abafar o bolsonarismo tradicional. Marçal consegue dominar melhor as redes, comunicar-se com mais eficácia, falar de religião com mais convicção e, além disso, exibir coragem ao proferir absurdos midiáticos. Ele se configura, portanto, como uma grande ameaça ao bolsonarismo.

Ainda é muito cedo para prever o resultado eleitoral em São Paulo, mas caso alguém como Marçal avance para o segundo turno, o eleitorado fiel a Bolsonaro pode vê-lo como uma opção mais viável e com maior capacidade de atacar os “inimigos”.

E o Centro?

Enquanto Pablo Marçal surge como uma ameaça ao bolsonarismo tradicional, Tábata Amaral (PSB) se apresenta como uma figura que pode dar nova fisionomia ao centro político no Brasil. Jovem, carismática e com um histórico de defesa da educação e dos direitos sociais, Tábata tem se posicionado como uma alternativa equilibrada diante do extremismo que caracteriza tanto a direita quanto a esquerda.

Nos últimos meses, Tábata intensificou seus ataques a Pablo Marçal, criticando suas propostas que, segundo ela, carecem de seriedade e responsabilidade. Em debates públicos e entrevistas, Tábata tem ressaltado a necessidade de um projeto de cidade que seja inclusivo, sustentável e realista, contrapondo a visão messiânica e muitas vezes irrealista de Marçal.

Em vídeo viral recente, Tábata traz elementos que tentam comprovar a ligação de Marçal com a facção criminosa PCC. Com estética de séries policiais, o vídeo mostra um enredo bem elaborado, com fotos e nomes dos supostos comparsas.
Vídeo de Tábata Amaral ligando Pablo Marçal ao PCC
Vídeo de Tábata Amaral ligando Pablo Marçal ao PCC / Reprodução


A postura de Tábata é emblemática porque ela representa uma tentativa de resgatar o centro político, que tem sido ofuscado pelo radicalismo dos últimos anos. Sua crítica a Marçal não é apenas uma rejeição às suas ideias, mas um antagonismo de estilo.

Se conseguir se firmar como uma voz do centro, oferecendo uma alternativa viável tanto para aqueles que rejeitam o extremismo quanto para os que buscam um governo mais racional e equilibrado, ela pode pavimentar o caminho para a construção de um novo bloco político em 2026.

Assim como Marçal representa uma nova face da direita, Tábata pode se tornar o rosto de um centro renovado, com capacidade de dialogar com diferentes setores da sociedade e construir consensos. A batalha entre essas duas figuras em São Paulo pode ser um prenúncio das disputas políticas que veremos em âmbito nacional nos próximos anos.

O futuro político de São Paulo, portanto, pode ser decisivo não apenas para a cidade, mas para o cenário político nacional. Tábata Amaral, com seu perfil moderado e propositivo, pode dar ao centro a visibilidade e a relevância que ele perdeu nos últimos anos, enquanto Pablo Marçal, com sua retórica agressiva e postura anti-sistema, testa os limites do bolsonarismo sem Bolsonaro.

São Paulo pode mostrar ao país que a mente apavora o que ainda não é mesmo velho, e aprender depressa a chamar de realidade novos cenários políticos.










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Ano eleitoral no mundo e a participação feminina na política, nesta quarta no Folha no Ar
23/07/2024 | 10h39
O Folha no Ar desta quarta-feira (24) recebe Sana Gimenes, professora de direito e doutora em Sociologia Política com especialização em Direito Público. Ela falará sobre o movimentado ano eleitoral para Campos e os municípios brasileiros, em suas relações sociais e jurídicas, e comentará sobre as importantes eleições que aconteceram e acontecerão na Europa e nos EUA, este que possivelmente terá a candidatura de uma mulher, Kamala Harris, concorrendo à Casa Branca nas eleições americanas de novembro.
Sana ainda falará sobre a participação feminina na política, e a aplicação do artigo 3º da Lei nº 9.504/97, que determina aos partidos políticos à observância dos percentuais mínimos e máximos de cada gênero. 
O programa vai ao ar nesta quarta-feira (24), ao vivo, a partir das 7 horas da manhã, na FolhaFM 98,3. Perguntas podem ser enviadas em tempo real pelas plataformas da FolhaFM, no Facebook, YouTube e Instagram. O programa também terá transmissão pela Plena TV.
 
 
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Os venenos americanos e a campanha de Trump
15/07/2024 | 09h31
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Imagem criada por IA / Edmundo Siqueira

Para um país que se considera a maior democracia do planeta e o “líder do mundo livre”, os EUA possuem um histórico assustador de violência política. Polarizado em dois partidos — Democratas e Republicanos —, o fazer político-eleitoral americano já provocou quatro presidentes mortos e três feridos em atentados.

O primeiro atentado registrado contra um presidente americano aconteceu em 1835. O democrata Andrew Jackson saiu ileso da fúria de um atirador, que errou o disparo. O republicano Abraham Lincoln não teve a mesma sorte, 30 anos depois. O presidente foi assassinado ao fim da Guerra Civil americana. O atirador, John Wilkes Booth, era um conhecido ator e simpatizante dos Confederados, grupo sulista branco que tentava impedir a abolição da escravatura.

James A. Garfield, em 1881, William McKinley, em 1901, e John F. Kennedy, em 1963, completam a lista macabra.

O atentado contra Donald Trump no último sábado, durante um comício na Pensilvânia, não pode ser considerado apenas mais um ato de violência política de um mundo polarizado. Ele deriva de venenos introjetados na sociedade americana por séculos, que cobram seu preço quando os antídotos falham. A política de liberação de armas e a segregação racial são duas dessas toxidades.

O histórico de segregação racial dos EUA não é algo que pode ser desconsiderado na conta desse envenenamento, que provocou também o assassinato de Martin Luther King Jr., líder do movimento dos direitos civis, em 1968. E o acesso livre às armas, garantido pela Constituição americana, permite que alguém como o autor do atentado contra Trump porte um fuzil AR-15, de alto poder de destruição, livremente.

John F. Kennedy
John F. Kennedy / Reprodução
Não se trata em dizer que o país “provou do próprio veneno”, em uma ideia expiatória ou de vingança, como se algo superior tivesse impondo aos americanos um castigo pelos seus pecados — moralismos assim, principalmente de cunho religioso, costumam simplificar questões de grande complexidade, e dar incentivo e justificativa para ações extremas.


A questão aqui diz respeito ao perfil que a política americana assume, e sua influência no mundo. O candidato Trump esgarça o conceito de verdade e lidera um movimento global de extrema-direita que utiliza as redes sociais para disseminar ódio, em um sistema de algoritmos que já o incentiva.

O atentado de sábado foi emblemático: uma quantidade abissal de teorias da conspiração tentavam impor aos democratas a autoria, de um lado do extremo político, e do outro buscavam de todas as formas mostrar que foi tudo armado. Ambas teorias vencidas pelos fatos, pela realidade.

Nietzsche, filósofo alemão nascido no século 19, teve a verdade (ou sua busca) como objeto de seus estudos. Ao observar a origem da verdade e da moral, percebeu que as ciências sociais e a filosofia supunham até então que existia algo “miraculoso” para as “coisas de mais alto valor”, como se grandes eventos ou fenômenos dependessem de uma vontade suprema ou divina para acontecer.

Refutando essa ideia, Nietzsche avaliou que a humanidade se apoiava em muletas metafísicas para justificar suas incoerências, atos violentos ou de moral duvidosa. E entendia que o “mal” também faz parte da realidade, que muitas vezes supera as ficções e as criações metafísicas.

O irônico de uma era de pós-verdade é que as conspirações caem com a realidade imposta, que deriva de verdades. E um candidato que usa mentiras como arma política precisa da verdade para mostrar que não armou um atentado contra si mesmo.

Venenos domésticos não são exclusividade dos EUA, mas a importância que a nação possui no mundo ainda é determinante para o futuro da humanidade, apesar de ser menor que as ilusões de grandeza cultivadas pelos americanos. Alguns centímetros para o lado e a trajetória da bala do AR-15 provocaria a morte de mais um presidente americano. Mas a realidade não quis assim.

Se tivesse acertado? A história não se constrói com “se”.
 
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Eleições na Europa e seus impactos no Brasil, no Folha no Ar desta quarta
09/07/2024 | 04h54
Cientista social e mestre em desenvolvimento internacional, a pesquisadora Bianca Leite é a convidada do Folha no Ar desta quarta (10), ao vivo, a partir das 7h da manhã, na Folha FM 98,3. Bianca, brasileira, mora há 14 anos no Reino Unido e acompanha de perto a política europeia, e falará sobre as recentes eleições em seu país de moradia e na França, e tentará traçar um paralelo com a política brasileira.

A cientista social também falará sobre o avanço da extrema-direita no mundo, e suas ramificações no Brasil e nos EUA, e o que significa a derrota, depois de 14 anos no poder, do partido conservador na Inglaterra, com a vitória do partido trabalhista. 

Quem quiser participar ao vivo do Folha no Ar desta terça poderá fazê-lo com comentários em tempo real, no streaming do programa. Seu link será disponibilizado alguns minutos antes do início, nos domínios da Folha FM 98,3 no Facebook e no YouTube.
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Com que Caio eu vou?
01/04/2024 | 09h44
Noel Rosa
Noel Rosa / Reprodução
No samba “Com que roupa?”, de Noel Rosa, o compositor está às turras com seu guarda-roupa depois de receber um convite. Se achando maltrapilho, o eu lírico do samba disse estar “pulando como sapo” para conseguir um novo terno, uma roupa nova para vestir.


Em Campos, quase uma década depois do samba de Noel, os políticos estão decidindo com que roupa se apresentarão nas eleições que se avizinham. Alguns tentam as vestes do bolsonarismo, outros buscam vestimentas petistas.

Entre esses personagens políticos está Caio Vianna — que assumiu o mandato de deputado federal por ocupar a terceira suplência do PSD —, principal herdeiro político de seu pai, Arnaldo Vianna, que foi prefeito de Campos no final dos anos 1990 e ainda carrega boa avaliação de parte do eleitorado campista.

Em 2020, Caio foi candidato à prefeitura, e no segundo turno teve mais de 110 mil votos, ficando com 47,60% da preferência do eleitorado. Nesta segunda-feira (1), o prefeito do Rio, Eduardo Paes, cumpre um acordo que fez com o presidente da Alerj, Rodrigo Bacellar, e disse que Caio “volta definitivamente para Campos”, uma vez que seu secretário de Cultura, Marcelo Calero, primeiro suplente do PSD, volta à Câmara Federal.

Apesar de ter sido um ferrenho opositor de Wladimir Garotinho em 2020, Caio Vianna está apoiando a pré-candidatura do atual prefeito de Campos para a reeleição. À Folha, Caio disse que Eduardo Paes irá se “arrepender, e muito, da forma como conduziu” o rearranjo na Câmara.

A questão é saber com que roupa Caio virá nessas eleições.

No mesmo dia que perdeu o mandato, acompanhou Wladimir em inaugurações na praia de Farol de São Tomé, e degustou um prato de costela com aipim, aderindo a uma das estratégias de marketing do prefeito, que constantemente publica suas refeições em eventos políticos.

Os 110 mil votos conseguidos para o executivo, e os mais de 36 mil recebidos para deputado, mostram que Caio, inegavelmente, tem voto em Campos. Caso decida vestir a roupa de apoiador de Wladimir, certamente conseguirá atrair eleitores, embora também carregue rejeição.

Se optar pelo bermudão e havaianas das praias cariocas, ou pela camisa de linho em Búzios, e se distanciar da eleição em Campos, deixa, pelo menos, de ser um adversário relevante para o prefeito.

Wladimir parece ganhar votos com qualquer roupa que Caio venha, desde que tenha seu rosto e seu futuro número de campanha estampados nela. E a fatura certamente será cobrada se a vestimenta der certo.

Após o samba com Eduardo Paes ter dado “praga de urubu”, como cantou Noel, Wladimir reforça o convite para compor o enredo campista. Resta saber com que roupa Caio irá.
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Massa ou Milei? Os desafios complexos de um país intrincado, com Danilo Thomaz
10/11/2023 | 09h19
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“Entre os países que são um caso à parte, a Argentina talvez seja quase uma esfinge”, é como definiu o jornalista, pesquisador e mestrando em Ciência Política, Danilo Thomaz, o país vizinho. Uma esfinge traz a ideia de um ser mitológico, representado com corpo de leão e rosto humano, trazendo enigmas e devorando quem não os conseguisse decifrar.

No próximo dia 19, a pouco mais de uma semana, os eleitores dessa complexa Argentina decidirão seu próximo presidente. A escolha se dará entre um ministro da Economia, representante da continuidade, que surpreendeu ao sair vitorioso no primeiro turno, e um controverso libertário que representa ruptura total, e propõe ideias ultraliberais.

Sergio Massa, o candidato-ministro, recebeu 36,7% dos votos no domingo (22/10) contra os quase 30% de Javier Milei, o candidato antissistema. Milei estava cotado como favorito, mas Massa foi favorecido pelas polêmicas que o adversário protagonizou, até com o Papa Francisco (Milei disse que Francisco “tem afinidade pelos comunistas assassinos”).
Porém, mesmo ofendendo o Papa em seu país de origem, e que possui ampla maioria católica (62,9% dos argentinos declararam-se católicos em 2019), Milei aparece na frente das pesquisas  nesse segundo turno.

Javier Milei, da coligação “La Libertad Avanza”, lidera as intenções de votos úteis do segundo turno com 52,1%, e o candidato Sergio Massa, da “Unión por la Patria”, aparece com 47,9%, segundo a última pesquisa Atlas Intel, divulgada nesta sexta-feira (10).
“Mesmo quem estuda a Argentina tem muita dificuldade de compreendê-la”, afirmou Danilo Thomaz na condição de jornalista e de alguém que estuda e pesquisa o tema “Argentina” e “América Latina” há bastante tempo. Thomaz é colaborador em publicações como a Folha de S. Paulo, Piauí e Valor Econômico, e já atuou em veículos internacionais como o Fumaça de Portugal, no espanhol Contexto, e no Le Monde Diplomatique, da França.

Thomaz explica que “em que pese os problemas econômicos, em especial a inflação, bastante elevada, o desemprego é menor que o brasileiro (abaixo de 7%), e há a política de subsídios e valorização do salário mínimo para conter a inflação”. Isso poderia ter favorecido Massa no primeiro turno, além do fato de, segundo ele, “o povo conhecer também o setor liberal na Argentina e sabe que seu compromisso popular é zero”.

O jornalista lembra que é preciso avaliar os impactos da crise Israel-Palestina e que o alinhamento dos eleitores da terceira colocada, Patrícia Bullrich, com Milei “não é direto assim”. Thomaz aposta “numa vitória apertada de Massa, como ocorreu com Lula no Brasil e outros candidatos de centro-esquerda na América Latina recentemente”, e explica o porquê. Confira:

Edmundo Siqueira (Folha1) - Embora a Argentina seja um país influenciado pelo contexto da AL, é um país com características próprias, muito específicas. O que levou Massa a vencer o primeiro turno com a economia argentina em frangalhos, sendo ele representante máximo da continuidade nessa área?

Danilo Thomaz
- Todo país é influenciado pelo contexto global e local e tem suas características próprias. Argentina, Brasil… Mas concordo que, entre os países que são um caso à parte, a Argentina talvez seja quase uma esfinge. Mesmo quem estuda a Argentina tem muita dificuldade de compreendê-la. Essa questão tem várias respostas. Primeiramente, é preciso compreender que, ao mesmo tempo que há uma crise econômica no atual governo do peronista moderado Alberto Fernandéz, do qual Massa é ministro da Fazenda, há também uma memória recente dos anos do liberal Mauricio Macri, onde as condições argentinas se deterioraram muito. Já havia um aumento da inflação no segundo governo Cristina Kirchner (2011-15), mas dentro de uma relativa estabilidade: a dívida do país estava estabilizada após a renegociação com a maior parte dos credores, a situação do emprego e havia muitos subsídios, como à luz e ao transporte, que amparavam a situação social. Com Macri, tudo isso se perdeu. Não por acaso, os peronistas voltaram, com Fernandéz presidente e Cristina vice.


Em que pese os problemas econômicos, em especial a inflação, bastante elevada, o desemprego é menor que o brasileiro (abaixo de 7%), há a política de subsídios e valorização do salário mínimo para conter a inflação, o que dá um amparo aos setores populares e o receio disso se perder. Parte da estratégia eleitoral foi justamente focar nessa política de redução de danos, o que, parece, surtiu efeito. Mas o povo conhece também o setor liberal na Argentina e sabe que seu compromisso popular é zero.

Edmundo - Milei usou uma estratégia conhecida de políticos dessa nova onda de populismo de direita: redes sociais, declarações polêmicas e estridência. No caso do Milei uma adesão ao ideal libertário. O voto que ele recebeu foi de revolta ou de esperança em uma virada radical na Argentina?

Thomaz - Difícil separar. Milei ascende num contexto em que as duas alternativas majoritárias - os peronistas e os liberais, representados pela Unión Civica Radical, de Macri e Bullrich — já foram testadas e não tiraram o país dessa situação. Mas a onda Milei tem suas limitações. Tem um piso alto e um teto baixo. E suas propostas econômicas não são consensuais. Sua proposta de dolarização, segundo o Atlas Intel, tem uma aprovação semelhante à sua (em torno de 1⁄3 do eleitorado). Imagino que isso se dê pela memória da crise de 2001, quando os argentinos tiveram seu dinheiro congelado. É bom lembrar que, na Argentina, ao contrário do Brasil, a estabilização econômica nos anos 90 foi feita com base numa semidolarização da economia. Era possível, por exemplo, poupar em dólar.
Tudo foi bem enquanto havia ingresso de dólares para sustentar esse “eldorado”. Por isso eles venderam todo o patrimônio público – todo mesmo –, abriram a economia de maneira muito violenta e corroeram o aparato estatal e produtivo do país. Para sustentar essa semidolarização. Quando não tinha mais o que vender e já não havia meios de sustentar a paridade peso-dólar, que estava determinada pela lei (!), a crise explodiu.

A situação se estabilizou com os Kirchner, muito graças ao ‘boom’ de commodities. Eles conseguiram orientar bem as políticas nesse período: renegociaram com os credores externos, buscaram, no possível, fortalecer o setor produtivo, reestatizaram empresas estratégicas. A Argentina cresceu em média 8% no período, enquanto o Brasil cresceu 4%. Mas já era um país muito mais vulnerável.
Foto: Juan Mabromata, Luis Robayo / AFP
Edmundo - A terceira colocada recebeu muitos votos do chamado anti-peronismo, e de alinhamento na direita. A tendência seria uma migração de seus votos para Milei. Porém o argentino é alguém acostumado e resistente a crises econômicas. Você avalia que o eleitor de Patrícia Bullrich irá apostar em Milei ou optar pela institucionalizado?

Thomaz - As pesquisas têm mostrado que o alinhamento não é direto assim. E Milei, assustado com a votação, tem sido menos “Milei”, o que, para o tipo de político que ele é, é ruim como estratégia eleitoral. Acredito que quem vai decidir a eleição não é tanto o eleitorado liberal que votou em Bullrich, mas sim os eleitores que não votaram (25%). Acredito numa vitória apertada de Massa, como ocorreu com Lula no Brasil e outros candidatos de centro-esquerda na AL recentemente. Isso não significa, todavia, uma saída para a crise argentina.

Precisamos ver também o impacto da crise Israel-Palestina sobre o país. A Argentina tem uma população judia muito grande, segundo se projeta é a sexta maior do mundo. Não creio que haverá, dada a conjuntura interna extremamente grave, mas já houve um atentado islâmico contra a sede de uma organização israelita no país e volta e meia buscam ligar os peronistas aos grupos islâmicos.
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Sobre o autor

Edmundo Siqueira

edmundosiqueira@hotmail.com