Rodrigo Bacellar: de unanimidade na Alerj à prisão pela PF
Antes de ser preso pela Polícia Federal, Bacellar figurava como pré-candidato a governador do Estado. A posição foi alcançada pelo político de Campos em seu segundo mandato como deputado estadual, após ser reeleito no início do ano presidente da Assembleia Legislativa por unanimidade. Na ocasião ele recebeu, além do próprio voto, o dos outros 70 parlamentares, do PL ao PSOL.
A ascenção de Bacellar na política fluminense aconteceu nos últimos quatro, mas sua primeira eleição foi em 2018. Naquele ano, conquistou uma cadeira na Alerj pelo Solidariedade. Em 2020, foi relator da comissão que analisou o pedido de impeachment do ex-governador Wilson Witzel, apresentando posição favorável ao afastamento do chefe do Executivo.
Com a saída de Witzel, assumiu o governo Cláudio Castro, antes vice-governador. É neste cenário que Bacellar desloca sua atuação do Legislativo ao Executivo, ocupando entre 2021 e 2022 a secretaria de Governo. No retorno à Alerj, em 2023, foi eleito presidente pela primeira vez com o apoio de Castro, de quem se tornou aliado, e ainda algumas resistências à seu nome no Parlamento. Em janeiro deste ano, no entanto, Bacellar encontrou outro cenário na reeleição ao cargo: legendas de oposição ao governo como PSD, PT, PSOL e PCdoB apoiaram seu nome. O resultado foi a unanimidade nunca antes alcançada.
Em fevereiro, durante a inauguração da Ponte da Integração, Castro declarou apoio para Bacellar para sua sucessão. Os próximos movimentos foram para pavimentar a pré-candidatura do político campista se modo que ele disputasse o governo sentado na cadeira e com fortes apoios.
Com a ida de Thiago Pampolha ao Tribunal de Contas do Estado do Rio, e com uma possível renúncia de Castro para concorrer ao Senado em 2026, Bacellar teria a máquina à disposição e disputaria sentado na cadeira.
Depois, foi apresentado à família Bolsonaro como nome de direita viável para fazer frente ao nome de Eduardo Paes. Bacellar conseguiu a chancela dos Bolsonaro e começou a percorrer o interior, cada vez mais presente em inaugurações. Para tornar o campista mais conhecido, Castro se ausentou em viagens, deixando por alguns períodos Bacellar em exercício. E foi substituindo Castro que ele exonerou, em julho, o secretário de Transportes e também pré-candidato a governador, Washington Reis.
A demissão de Reis, liderança de peso na Baixada e aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro, desagradou a família, que cobrou de Castro e Bacellar o retorno de Reis ao cargo. Como o pedido não foi atendido, o ex-presidente decidiu na ocasião não apoiar mais o nome de Castro para senador e o de Bacellar para governador.
Outro ato do político campista enquanto governador foi corte do cofinanciamento estadual à Saúde de Campos, em julho, devido à briga política com o prefeito Wladimir Garotinho. A Prefeitura cogitou a devolução de pacientes aos municípios vizinhos, mas a retomada dos repasse foi anunciada um mês depois.
Ainda em compasso de espera para saber o que será decidido na Alerj, o futuro político de Rodrigo Bacellar ainda é incerto para o pleito do próximo ano.
Entenda a prisão de Bacellar pela Polícia Federal
O presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), deputado estadual Rodrigo Bacellar (União Brasil), foi preso na quarta-feira (3) pela Polícia Federal (PF) na Operação Unha e Carne. A prisão preventiva foi decretada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, que também determinou o afastamento de Bacellar do mandato. Segundo a PF, Bacellar é suspeito de ter vazado informações sigilosas da Operação Zargun, em que o então deputado estadual TH Joias, ligado à facção criminosa Comando Vermelho, foi preso.
A prisão do presidente do Alerj aconteceu na Superintendência da PF, na Praça Mauá, no Rio, após “ser convidado” para uma “reunião” pelo próprio superintendente, Fábio Galvão. O presidente da Alerj recebeu voz de prisão tão logo chegou e teve seu celular apreendido.
Os policiais federais realizaram buscas no veículo oficial usado pelo parlamentar, onde foram encontrados R$ 90.840,00 em espécie. Três aparelhos de celular também foram apreendidos e serão submetidos à perícia técnica criminal.
As investigações dão conta de que Bacellar teria avisado a TH Joias por telefone sobre a operação que prendeu o então parlamentar, na véspera da ação.
Após ser avisado, TH Joias fez uma limpa em casa e chegou a usar um caminhão-baú para fazer uma mudança e eliminar provas que mantinha em casa. TH também zerou seu aparelho celular e passou a usar um novo. Nesse novo telefone, ele mandou uma filmagem para o presidente da Alerj, perguntando se ele poderia deixar alguns objetos, como, por exemplo, o freezer. Bacellar respondeu: “Deixa isso, tá doido? Larga isso aí, seu doido”.
O ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, que determinou a prisão de Bacellar, afirmou que há “fortes indícios” da participação de Bacellar em uma organização criminosa e estaria atuando ativamente pela “obstrução de investigações envolvendo facção criminosa e ações contra o crime organizado, inclusive com influência no Poder Executivo Estadual”.
Segundo a Polícia Federal, as trocas de mensagens entre TH e Bacellar indicam envolvimento direto do presidente da Alerj para encobrir o deputado investigado.
“Nesse sentido, a conversa com o Deputado Estadual Rodrigo Bacellar, Presidente da ALERJ, não apenas revela conhecimento prévio sobre a alteração do número por parte de TH, como também reage prontamente, orientando o investigado quanto à remoção de itens da residência. Essa atitude indica seu envolvimento direto no encobrimento do investigado à atuação dos órgãos de persecução penal.”
A ação se insere no contexto da decisão do STF no âmbito do julgamento da ADPF das Favelas, que, dentre outras providências, determinou que a PF conduzisse investigações sobre a atuação dos principais grupos criminosos violentos em atividade no estado e suas conexões com agentes públicos.
Em nota divulgada nesta sexta-feira, a defesa de Bacellar afirmou que ainda não teve acesso ao teor da investigação e que os valores encontrados pela Polícia Federal em seu veículo, R$ 90.840,00 em espécie, foram declarados à Receita Federal.
“A defesa reitera que o presidente da Alerj não atuou, de nenhuma forma, para inibir ou dificultar qualquer investigação, direita ou indiretamente. Tudo será esclarecido, afastando as injustas suspeitas que lhe foram direcionadas”, disse a nota.
Votação da CCJ da Alerj
A reunião da Comissão de Comissão e Jusitça (CCJ) da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), que aconteceria na sexta-feira (5) para analisar a prisão do deputado e presidente da Casa, Rodrigo Bacellar (União Brasil), foi adiada para segunda-feira (8).
A reunião chegou a ser convocada para esta sexta pelo presidente em exercício, Guilherme Delaroli (PL), e foi publicada em edição extra do Diário Oficial do Legislativo nessa quinta-feira (4). O adiamento é baseado no artigo 268 b do regimento interno da Casa, que diz que o caso vai à CCJ diante da seguinte condição:
"Facultar ao réu ou seu defensor o oferecimento de denúncias orais ou escritos na reunião expressamente convocada para essa especificamente, dentro de quarenta e oito horas".
O diretório estadual do Partido dos Trabalhadores (PT) divulgou, na tarde desta sexta-feira (5), uma nota orientando sua bancada a votar pela manutenção da prisão preventiva de Rodrigo Bacellar. A deputada Elika Takimoto, integrante da Comissão de Constituição e Justiça da Alerj, disse que não foi comunicada oficialmente sobre o adiamento da sessão e que soube pela imprensa. O partido tem seis deputados estaduais. Na quarta-feira, o PSD também decidiu fechar posição em defesa da manutenção da prisão.