Folha Letras - Goethe no Noroeste Fluminense
12/11/2025 08:04 - Atualizado em 12/11/2025 08:04
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Arthur Soffiati*
Johann Wolfgang von Goethe nasceu em Frankfurt em 1749. Tive oportunidade de visitar sua casa nessa cidade e me emocionei. Ele foi poeta, romancista, estadista e cientista. Além de grande representante do iluminismo, Goethe é figura fundamental do romantismo. Um conhecedor superficial de sua obra mencionará como exemplo dela o famoso “Os sofrimentos do jovem Werther” ou simplesmente “Werther”. Outra obra sua bastante conhecida é “Fausto”. Ele estudou Direito, mas não se afinou com sua formação. Mudou-se para Weimar, onde se tornou ministro do principado. Lá, ele morrerá aos 83 anos em 1832. Foi uma vida longa para sua época. Mais que isso, foi uma vida próspera em conhecimento universal. Goethe se interessava por tudo: literatura, geologia, climatologia, botânica, anatomia animal, Itália, oriente e... América. Particularmente pelo Brasil. Sua casa em Weimar era um centro de cultura. Goethe formou uma biblioteca e uma coleção dignas de um museu.

Em botânica, ele publicou “A metamorfose das plantas”, em 1790. Consultando seu vasto acervo, Sylk Schneider encontrou muitos documentos sobre o Brasil, em grande medida ofertados por naturalistas que promoveram excursões científicas às terras tropicais. Daí, resultou o livro “Viagem de Goethe ao Brasil: uma jornada imaginária” (Florianópolis. Editora Nave, 2022). Goethe correspondeu-se com Humboldt. Eschwege visitou Goethe 15 vezes. Foi com John Mawe e Eschwege que nasceu o interesse de Goethe pelo Brasil. Ele também travou contato com a obras de Maximiliano de Wied-Neuwied sobre sua viagem ao Brasil. Weimar era um centro editorial para toda a Europa. Daí, Goethe ter contato com a literatura produzida sobre a América e, particularmente, sobre o Brasil.
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Com uma insaciável curiosidade, Goethe leu Henry Koster, John Luccock, Ferdinand Denis, Johann Emanuel Pohl (com quem travou relações mais demoradas). Wied-Neuwied e Martius batizaram um gênero de plantas com o nome Goethea, em homenagem ao intelectual alemão. Ele acabara de se recuperar de grave doença. Seu ânimo pela vida se renovou graças à homenagem.

O livro termina assim: “Os muitos alemães no exílio lembram que Goethe sonhava emigrar para a América. Thomas Mann apresentou essa ideia nos EUA numa palestra impressionante no jubileu de 200 anos de nascimento de Goethe, em 1949.”

Dos naturalistas que andaram pelo Brasil, Goethe recebeu muitos presentes. Entre eles, pedras, peças usadas por indígenas, desenhos etc. Como justificar o título deste artigo, se Goethe não esteve no Noroeste Fluminense e nem mesmo no Brasil? É que, em sua coleção, encontram-se dois desenhos de ipecacuanha e poaia presenteados por Martius. Poaia e ipecacuanha são sinônimas no Noroeste Fluminense, embora hoje sejam espécies raras de tanto serem exploradas. Elas tinham grande valor econômico. Por isso, a grande procura delas por comerciantes.
*Professor, historiador, escritor, ambientalista e membro da academia campista de letras

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